Diante de cerca de 3 milhões de fiéis que lotaram a praia de Copacabana na noite deste sábado, o papa Francisco conclamou hoje os jovens que participam da Jornada Mundial da Juventude a “seguirem superando a apatia e oferecendo uma resposta cristã às preocupações sociais e políticas presentes em seus países”. Em um discurso coloquial, marcado por referências ao futebol, o pontífice convidou os peregrinos de 170 países a serem “atletas de Cristo”.
Da enviada especial ao Rio de Janeiro
“Acompanhei atentamente as notícias sobre tantos jovens que, em muitas partes do mundo, saíram às ruas para expressar o desejo de uma civilização mais justa e fraterna”, comentou o papa, na abertura da vigília deste sábado. “São jovens que querem ser protagonistas da mudança. Encorajo-lhes a seguir superando a apatia e oferecendo uma resposta cristã às preocupações sociais e políticas presentes em seus países.” Ele completou que o começo das mudanças deve vir deles mesmos.
O papa lembrou que, no Brasil como em outros países, “o futebol é uma paixão nacional”. Como no esporte, o cristão deve “treinar muito”. “Jesus nos oferece algo maior do que a Copa do Mundo: nos oferece a possibilidade de uma vida frutífera e feliz”, disse, sob aplausos.
De acordo com o pontífice, o “diálogo” com Deus, através das orações, dos sacramentos, do “amor fraterno” e do saber escutar, compreender e perdoar, é a melhor maneira de “estar em forma” e ser “verdadeiros atletas de Cristo”. "Sejam protagonistas da mudança. Joguem sempre no ataque, na linha de frente", afirmou. "Sejam construtores do futuro. Não sejam covardes na vida. Saiam às ruas."
O pontífice iniciou as atividades noturnas a bordo do papamóvel, às 18h45 (23h45 em Paris). Ele percorreu o trajeto do Forte de Copacabana até o Leme, onde está instalado o palco principal da Jornada Mundial da Juventude. No caminho, mais uma vez abençoou os fiéis, abraçou e beijou crianças e desceu do veículo para cumprimentar deficientes físicos. Como nos outros dias, o pontífice foi recebido com fervor e euforia pelo público.
Noite na praia
Na cerimônia, o papa assistiu a apresentações e ouviu depoimentos de jovens. Francisco lançou então a vigília que vai durar até a manhã de domingo. Depois das orações, o pontífice retornou à residência da Arquidiocese do Rio de Janeiro, onde está hospedado, enquanto milhares de peregrinos permaneceram acampados na praia, onde dormirão. A atividade é uma das mais importantes da jornada.
Muitos peregrinos trouxeram barracas; outros, apenas colchonetes. A prefeitura do Rio de Janeiro recomendou que eles levassem agasalhos, já que a temperatura durante a madrugada deve ficar em torno de 15 graus. Vários fizeram barricadas de areia, na tentativa de impedir o avanço do mar durante a noite. A vigília estava programada para ocorrer em Guaratiba, a 50 quilômetros do Rio, mas o local acabou inundado depois de quatro dias de chuvas incessantes na cidade.
As atividades começaram cedo neste sábado. Desde às 7h, no horário local, os jovens realizaram a peregrinação do centro da cidade até Copacabana, em um percurso de 9,5 quilômetros. Durante toda a tarde, eles se divertiram com a apresentações de grupos musicais católicos e exibições teatrais.
Neste domingo, às 10h (15h em Paris), o pontífice retornará a Copacabana para realizar a missa de encerramento da jornada. Eram esperadas 3 milhões de pessoas nos eventos de sábado e domingo, o que seria um recorde para a cidade e o dobro do tradicional réveillon. Os números divulgados até o momento são do comitê organizador da jornada e da prefeitura do Rio.
O papa embarca de volta a Roma na noite de domingo, após sete dias de programação no Brasil. Esta foi a primeira viagem internacional do sumo pontífice desde que assumiu o cargo, em março.
Marcha das Vadias
Enquanto os fiéis celebravam a presença do papa, um grupo de pelo menos 500 manifestantes fez a “Marcha das Vadias”, um protesto a favor de temas feministas, como a legalização do aborto e contra os altos índices de estrupros no país. Os participantes iniciaram a mobilização em frente ao posto 5 de Copacabana, a quatro quilômetros do evento católico, e levavam cartazes contra a igreja.
Mulheres com os seios nus e palavras de ordem escritas no corpo distribuíram camisinhas aos pedestres e chegaram a quebrar imagens de santos, provocando a indignação de católicos que viram as cenas. Conflitos verbais entre manifestantes e peregrinos foram registrados, sem violência.
Na medida em que a marcha seguiu em direção a Ipanema, no lado oposto à jornada, novas adesões deram um tom político ao protesto, com cartazes contra os custos da jornada, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e a favor da lacidade no Brasil. Na altura do posto 9, quando já eram em torno de 1 mil, eles decidiram retornar a Copacabana, enquanto o papa ainda desfilava no papamóvel.
Nas proximidades do palco, homens da Força Nacional fizeram uma barreira humana para impedir aproximação dos manifestantes, que aos poucos se dispersaram.
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