Os fiéis cristãos
cumpriram este fim-de-semana (sábado) a peregrinação ao Santuário Mariano de
Nossa Senhora de Natividade de Cacheu.
A peregrinação
subordinada ao tema, “Djuntu ku Maria nô
ianda na kaminhu de fé”, antecede, na proximidade do Natal, a festa solene
da Imaculada Conceição de Maria.
Celebrou a liturgia, o
Bispo Auxiliar da diocese de Bissau, Dom José Lampra Cá, que começou sua
pregação com saudações aos bispos concelebrantes, às autoridades civis, aos
representantes das outras confissões religiosas e aos fiéis cristãos presentes.
Depois continua o
Bispo:
No tempo do Advento, a
festa da Imaculada Conceição de Maria nos alenta no caminho da esperança. Somos
conscientes dos nossos erros e pecados. Mas, apesar disso, Deus quis oferecer à
humanidade um horizonte de perdão e de misericórdia, de graça e de beleza.
Por isso, a solenidade
da Imaculada Conceição infunde em nossos corações uma grande alegria, porque
nos reconduz ao início da nossa salvação. É uma vitória divina tornada possível
antecipadamente pela paixão e ressurreição de Jesus, que vence o pecado de modo
radical e definitivo.
Uma grande alegria
invade o nosso coração em sabermos que existe uma criatura humana em relação a
qual o mal não teve nenhum poder, uma criatura que não foi atingida pela
perversão do mal, mas que foi completamente preservada dele.
A primeira leitura nos
lembra o pecado original e a situação infeliz que dele derivou. Mas, na
narração do Génesis temos já uma promessa de salvação: «... Estabelecerei a
inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a descendência dela.
Esta há-de atingir-te na cabeça e tua a atingirás no calcanhar». Entre a
serpente, símbolo do mal, e a descendência da mulher, existe uma hostilidade
recíproca, mas a serpente não tem o mesmo poder da descendência da mulher.
A Imaculada Conceição
é, ao mesmo tempo, um privilégio e um ideal (modelo).
É um privilégio porque
Maria é a única pessoa que teve desde o início da sua existência, a perfeição
da pureza; ser imune de qualquer pecado; possuir e viver a amizade de Deus,
como nenhuma outra criatura possuiu e viveu.
Maria é a primeira
criatura que não tem de se esconder de Deus, que não sente vergonha que Deus
possa descobrir em si o pecado. Quando o homem, por palavras e acções cai no
pecado do orgulho, de querer ser tanto como Deus, desprezando seus mandamentos
e convites, não sente coragem para ser «visto» de Deus, foge d’Ele, como Adão e
Eva, como Caim.
Maria não foge, porque
não tem cumplicidade com o mal, com o orgulho de querer ser mais, de querer ser
como Deus. Ela toma a atitude própria da humilde escrava que aceita plenamente
a palavra do Senhor (cf. Lc 1, 38). Pela sua plenitude de graça, pode abrir-Se
e abre-Se efectivamente ao olhar, às palavras e às propostas do Senhor. Foi
Deus-Pai quem a preparou assim, para ser a Mãe do Seu Filho bem-amado.
Vemos, pois, o papel
totalmente livre da criatura ao aceitar sem condições o plano de Deus e a
realização total do plano sem violar a liberdade humana.
Mas, ao mesmo tempo, a
Imaculada Conceição é um modelo, um ideal: todos nós somos chamados a sermos
«na caridade, santos e imaculados diante d’Ele», como nos diz a segunda
leitura.
No início da Carta aos
Efésios Paulo bendiz a Deus «que nos encheu com toda a espécie de bênçãos
espirituais em Cristo... nos escolheu antes da criação do mundo, a fim de sermos,
na caridade, santos e irrepreensíveis diante d’Ele». Este é o projecto que
tinha para nós antes da criação do mundo, um projecto que Ele nunca renunciou.
Quando aconteceu o pecado, Deus manteve, por amor, este seu belíssimo projecto
de ter filhos e filhas santos e imaculados, na caridade, que é o amor mais
autêntico, mais generoso e mais profundo.
A santidade cristã, de
facto, não é uma santidade de separação, mas de amor. Ser imaculados significa
certamente afastar-se do mal, mas não dos outros. A Imaculada Conceição não
separa Maria das outras pessoas, mas a prepara para um amor maior e mais
universal, prepara o seu coração a doar-se com uma generosidade ilimitada para
o bem de todos, em união ao sacrifício do seu Filho.
Esta festa de Maria
leva-nos a celebrar uma nova criação. Nossa oração de hoje brota duma profunda
alegria. Alegria de sabermos que, o que a Eva pedeu, “a Mãe de todos os
viventes”, felizmente foi recuperado graças ao Avé que o anjo Gabriel dirige a
Maria, Mãe de todos os redemidos.
Hoje nos é repetido o
relato evangélico da Anunciação a Maria. Nele escutamos as palavras que lhe
dirige o anjo do Senhor: “Maria, não tenhas medo, pois achaste graça diante de
Deus”. Esta saudação transforma Maria na imagem de todo o género humano. Com ela,
inicia-se o grande Advento da história humana. Com ela renasce a esperança.
A partir do mais
profundo da sua existência, Maria reflecte fielmente a misericórdia de Deus e
sabe traduzí-la na fidelidade. Maria gozou, durante toda a sua vida, da
plenitude da graça e da salvação. Foi uma pessoa fiel, em tudo, ao projecto de
Deus.
A sintonia de Maria com
a salvação oferecida por Deus à humanidade, é um dom gratuito; porém encontrou
nela uma resposta livre e generosa. O seu sim é um sim activo em que voluntariamente
Se sente comprometida, com todas as consequências, no Mistério de salvação que
Seu Filho inicia. É um acto de generosidade. Como os outros homens, podia
ter-se refugiado no egoísmo. Não é o sim de certas atitudes ou de certas horas
da vida; é um sim de consagração, doação total, em atitude de escrava que não
reclama direitos e liberdades. É adesão pessoal a Cristo, cooperando com «fé
livre e com inteira obediência»; «por esta obediência tornou-Se causa de
salvação para si mesma e para o género humano» (L. G. nº 56).
No dia 23 de Novembro
passado, foi feito o encerramento do Ano da Fé a nível das paróquias das nossas
Dioceses; e no dia 24 de Novembro, festa de Cristo Rei, o Papa Francisco
encerrou oficialmente o Ano da Fé, que havia convocado o seu predecessor, Bento
XVI, Papa Emérito.
Hoje, nesta ocasião
solene, queremos, a nível das nossas Dioceses, fazer o encerramento oficial do
Ano da Fé. Encerrar o Ano da Fé não significa que tenhamos superado o exame. A
fé é um dom que nos foi dado, como a Maria, porém, deve ser acolhido com
gratidão. A fé é um caminho que se deve percorrer pacientemente. É uma pequena
planta que se tem de regar com mimo. A fé tem que ser testemunhada com
coerência de vida.
Neste caminho de fé,
somos convidados a olharmos para Jesus e Maria. Na sua carta “A Porta da Fé”,
Bento XVI no-los apresentava como modelos de crentes. Jesus confiou sempre em
Seu Pai Celeste, foi fiel à Sua vontade, viveu com fidelidade à sua missão.
Maria foi saudada por Isabel como “Bendita por ter acreditado”. Acreditar na
Palavra do Anjo na Anunciação.
Sim, com Maria,
caminhemos à luz da fé, como reza o lema da peregrinação deste ano.
«Feliz de ti que
acreditaste, porque se vai cumprir tudo o que te foi dito da parte do Senhor»
(Lc 1,45), ou seja, «Feliz aquela que tem fé…».
Maria é grande pela sua
maternidade, para a qual foi escolhida. Mas a promessa, como diríamos, desta
maternidade foi a sua fé. Sim, verdadeiramente «felizes as entranhas que
trouxeram Jesus e o amamentaram» (Lc 11,27), mas sobretudo «felizes os que
escutam a palavra de Deus e a metem em prática».
Maria é verdadeiramente
a primeira entre estes. Maria é, antes de tudo aquela que escutou a Palavra de
Deus, a guardou cuidadosamente, a meditou, a aprofundou. Duas vezes S. Lucas
nota esta preocupação de Maria, de guardar e meditar dentro do seu coração a
Palavra (Lc 2,19.51).
Além disso, Maria é
aquela que traduziu esta fé, fruto da sua escuta e da sua meditação, numa vida
quotidiana, e mais ainda numa vida singular e única. A fé em Maria foi, como
deve ser em nós, personalizada, foi uma resposta pessoal, única, irrepetível a
um desígnio singular, único e irrepetível.
A fé de Maria é uma fé
profética. Ela abre-se imediatamente ao anúncio, ao testemunho. Torna-se missão
no mundo. É o que podemos tirar do episódio da visita de Maria a Isabel. É um
dos episódios chave para conhecer, na perspectiva evangélica, a personalidade,
a missão de Maria. O Espírito Santo que está em Maria mete tudo em obra nela:
vai depressa, mete-se em viagem, entra na casa de Zacarias, saúda Isabel, leva
a alegria e uma efusão do Espírito Santo, que se torna uma alegria interior,
até mesmo para a criança ainda dentro do seio materno, torna-se cântico,
torna-se comunhão e serviço fraterno. Não temos aqui todo o programa da vida
cristã? ... É possível sermos profetas hoje no nosso tempo, na nossa terra?
Profetas, não no sentido de quem prediz o futuro, mas no sentido de anúncio e
denúncia com a própria vida... (referência a Nelson Mandela como modelo de
profeta do nosso tempo: profeta de reconciliação, de perdão, de fraternidade,
de justiça, de verdade, de liberdade... ).
E o «Magnificat» não é
por acaso, um compêndio do anúncio evangélico?
É o anúncio das
maravilhas de Deus: «o qual fez grandes coisas». Toda a Bíblia, da primeira à
última página afirma isso.
O canto de Maria
denuncia ainda a malícia do homem fechado a Deus, o rico, o soberbo, o potente,
e proclama, ao contrário, a bem-aventurança dos pobres, dos pequenos, dos
famintos, antecipando assim o grande anúncio das bem-aventuranças, para
convidar os homens a abrir-se completamente ao dom de Deus que em Cristo é
oferecido a todos os homens…
Durante o Ano da Fé, o
Papa Francisco publicou uma carta encíclica, que tem por título “ Lumen Fidei =
A Luz da Fé” e no dia do encerramento do mesmo, no dia 24 de Novembro passado,
publicou a exortação apostólica intitulada “Evangelii Gaudium = Alegria do
Evangelho”. E conclui os dois documentos com uma preciosa invocação a Maria que
hoje quero lembrar neste momento oportuno:
A Maria, Mãe da Igreja
e Mãe da nossa fé, nos dirigimos, rezando-Lhe:
Ajudai, ó Mãe, a nossa
fé.
Abri o nosso ouvido à
Palavra, para reconhecermos a voz de Deus e a sua chamada.
Despertai em nós o
desejo de seguir os seus passos, saindo da nossa terra e acolhendo a sua
promessa.
Ajudai-nos a deixar-nos
tocar pelo seu amor, para podermos tocá-Lo com a fé.
Ajudai-nos a confiar-nos
plenamente a Ele, a crer no seu amor, sobretudo nos momentos de tribulação e
cruz, quando a nossa fé é chamada a amadurecer.
Semeai, na nossa fé, a
alegria do Ressuscitado.
Recordai-nos que quem
crê nunca está sozinho.
Ensinai-nos a ver com
os olhos de Jesus, para que Ele seja luz no nosso caminho. E que esta luz da fé
cresça sempre em nós até chegar aquele dia sem ocaso que é o próprio Cristo,
vosso Filho, nosso Senhor.
Finalizou o Bispo
auxiliar Dom Lampra Cá, rezando com os fiéis a “Estrela da nova evangelização”.
//Sol Mansi
Que Deus seja louvado na nossa terra da Guiné e que nos ilumine a viver a nossa fé
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