“Seria muito negativo que Portugal permanecesse de forma resiliente, opondo-se a esse alargamento” – Passos Coelho, primeiro ministro de Portugal
no Publico
Já foi abordada a exploração conjunta de
hidrocarbonetos e a discussão da CPLP do futuro incide sobre a economia. A
praxis que leva à entrada da Guiné Equatorial, de língua espanhola pela
colonização, que fala francês por imposição francófona e estuda português por
conveniência.
A X Cimeira dos Chefes de Estado da Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa (CPLP) que decorre esta quarta-feira em Díli é
marcada por factos contraditórios. Os presidentes de Angola e do Brasil,
respectivamente José Eduardo dos Santos e Dilma Rousseff, estão ausentes da
capital timorense. Teodoro Obiang, cuja chegada à frente de uma comitiva de 80
pessoas fora anunciada para a passada quinta-feira, só esta terça-feira aterrou
em Díli para estar presente à entrada da sua Guiné Equatorial na organização da
lusofonia.
A hora de chegada não foi divulgada. Não para criar
efeito-surpresa, mas por motivos de segurança que sempre acompanham as viagens
de Obiang. A cimeira marca também o regresso da Guiné-Bissau às reuniões da
organização, após o golpe de Estado de Abril de 2012, e tem uma agenda
ambiciosa: o futuro.
Da cimeira sairá um grupo de trabalho sobre o futuro
da organização. É a consagração do reforço da visão económica, o triunfo da
praxis que levou à adesão da Guiné Equatorial – o que torna as ausências de
Dilma e Eduardo dos Santos ainda mais pesadas.

Do ponto de vista orgânico é pretendido o reforço do
estatuto de observador, como mecanismo para futuros alargamentos. Actualmente,
como observadores associados estão as Ilhas Maurícias, o Senegal e ainda a
Guiné Equatorial. Entre os países que solicitaram o estatuto de observador e
cujos pedidos serão analisados individualmente em Díli estão a Geórgia, a
Namíbia, a Turquia e o Japão.
Tal diversidade de candidatos coloca, obviamente, o
vector identitário da língua em cima da mesa. O português é a sexta língua mais
falada do mundo, a terceira europeia de afirmação global, o primeiro idioma do
hemisfério sul, a terceira mais falada nas redes sociais e a sexta mais
utilizada nos negócios. Reforçar o papel do idioma como língua de trabalho
internacional está no horizonte. Por ironia, quando a CPLP abre as portas a um
país que não fala português.
As ausências angolana e brasileira são reveladoras
do modo como dois dos principais Estados-membros da CPLP se relacionam com a
organização – quando Brasília e Luanda foram os principais avalistas da
candidatura da Guiné Equatorial. Para o regime de Malabo – que instituiu em
2012 um prémio da UNESCO para as ciências da vida com o nome de Guiné
Equatorial e uma dotação de três milhões de dólares (mais de dois milhões de euros)
que este ano terá uma reedição com 50 candidaturas – é fundamental o acesso a
palcos internacionais para quebrar o seu isolamento, incluindo uma organização
cujo vector primário de identidade é a língua portuguesa. Este idioma não é
dominado na Guiné Equatorial, apesar de constitucionalmente ser consagrado como
o terceiro, depois do espanhol, fruto da colonização, e do francês, adoptado
após o acesso do país africano ao universo da francofonia.
Foi na semana de 7 de Julho que as autoridades
portuguesas ficaram ao corrente da ausência de Dilma de Díli, ainda antes da
goleada que o futebol alemão impôs à “canarinha”, em pleno Mundial. Dias mais
tarde, soou a não presença de Eduardo dos Santos. O primeiro incómodo foi para
os timorenses: a data da cimeira teve em conta o Mundial de Futebol, e este
cuidado de nada serviu. O Brasil está ausente, ao mais alto nível – faz-se
representar pelo chanceler Luiz Alberto Figueiredo Machado –, da primeira
cimeira da CPLP em Timor e na Ásia, sendo a justificação a agenda de Dilma e as
eleições presidenciais de Outubro próximo. Aliás, as relações Brasília-Malabo
com Lula da Silva já tinham tornado o ex-Presidente objecto de acesas críticas,
o que indicia também que para a diplomacia externa brasileira existem outros
canais, individuais e mais próprios, para estar presente numa área importante
para os seus interesses económicos. Na semana passada, a diplomacia brasileira
esteve em pleno rendimento na cimeira dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e
África do Sul) e com a assinatura de 32 acordos com Pequim.
Sem comentários:
Enviar um comentário
COMENTÁRIOS
Atenção: este é um espaço público e moderado. Não forneça os seus dados pessoais (como telefone ou morada) nem utilize linguagem imprópria.