A Guiné-Bissau, que fique claro, não deve
ter no Presidente da República, uma figura de mero desempenho de um cargo
simbólico tipo "corta -fitas" ou figura presencial ilustrativa em
eventos protocolares do Estado.
A Constituição da República da
Guiné-Bissau atribui funções e competências específicas e exclusivas ao
Presidente da República, que não podem ser ignoradas pelo próprio Presidente da
República no exercício das suas funções e com base nas competências que lhe são
atribuídas pela Constituição da República, sob pena dele próprio entrar em
incumprimento para com o estabelecido na Constituição da República.
Uma das principais competências do
Presidente da República é a fiscalização política dos dois órgãos de soberania
com competência legislativa, neste caso concreto, a Assembleia Nacional
Popular, com a competência de produzir Leis e, o Governo, com a competência de
produzir Decretos-Leis.
Tanto num como noutro caso, é da
competência do Presidente da República a promulgação das Leis e dos
Decretos-Leis para que sejam juridicamente validados!
Não queremos dizer que ao Presidente da
República assiste o direito de se imiscuir nas competências, funções e tarefas
dos demais órgãos de soberania, aliás, o princípio da separação e da interdependência
de poderes sustenta inequivocamente a relação basilar que deve nortear todos os
Órgãos de Soberania.
Independentemente dos gostos e das
vontades de cada cidadão e, do seu voto, há que reconhecer que a
sustentabilidade de um Estado de Direito e Democrático passa pelo respeito de
TODOS, pela Constituição da República.
Os órgãos de soberania têm competências,
funções e tarefas bem definidas na Constituição, para que exerçam na
efectividade do estabelecido na Constituição, por isso, ainda que tenhamos que
estar unidos em prol do Interesse Nacional, devemos saber acautelar esse
Interesse Nacional, evitando a promoção de desvios na esfera governativa
capazes de condicionar e descredibilizar a Justiça, por um lado, e prejudicar a
imagem do País por outro.
Não podemos estar a favor dos Órgãos de
Soberania quando, ao invés de cumprirem com as suas competências, tarefas e
funções estabelecidas na Constituição da República, passam a ser promotores de
desvios considerados crimes!
Devemos estar solidários com todos os
órgãos de soberania e colaborar para que tenham o melhor desempenho para as
tarefas que lhes foram confiados, mas não devemos promover uma
"constituição pessoal" para, endeusando uns e outros, transformarmos
o Presidente da República em bode-expiatório, sempre que haja rumores de
possível derrube do governo.
A Constituição permite ao Presidente da
República derrubar o Governo e dissolver a Assembleia Nacional Popular, com
base em pressupostos constitucionais.
Todos sabemos que assim é, por isso, não
devemos condicionar as competências do Presidente da República, ainda que
possamos criticar uma sua decisão nesse sentido, mas só depois de termos
conhecimento das causas, das razões, dos motivos que levaram a que tomasse uma
ou outra decisão, de derrubar o Governo ou de dissolver a Assembleia Nacional
Popular.
Assistimos ultimamente a uma tomada de
"partido" de alas dos órgãos de soberania.
Certamente todos desejamos o melhor para a
Guiné-Bissau, mas devemos todos saber que o Partido de Todos nós é a Guiné-Bissau
e não fulano ou beltrano e que apenas a CONSTITUIÇÃO da República define e
estabelece quem pode e deve fazer; o que pode e deve fazer, como e quando pode
fazer.
O Presidente da República, não pode ser um
mero observador do exercício legislativo ou governativo. É o Presidente da
República, ao abrigo da Constituição e entre outros, o Chefe do Estado e o
Garante da Independência Nacional e da Constituição, por isso, cumprindo com as
suas responsabilidades e ao abrigo das suas competências constitucionais, temos
que aceitar o que a Constituição lhe permite decidir.
O mesmo se diz e se aplica relativamente
aos outros órgãos de soberania!
Obviamente é desejável e recomendável o
respeito pelo princípio da separação de poderes e da interdependência entre todos
os órgãos de soberania, sem que isso, signifique compactuar com desvios que
comprometem a legitimidade democrática perante a jurisdição constitucional.
Se os membros do Governo são responsáveis
perante o Primeiro-ministro, é importante que se destaque que, o Governo,
através do Primeiro-ministro é responsável perante o Presidente da República e
perante a Assembleia Nacional Popular ao abrigo do nosso sistema
político-constitucional.
Estranha-me que, com agendas semanais
entre o Presidente da República e o Chefe do Governo, não se esteja a promover
o respeito pela separação e interdependência de poderes...
Estranha-me que num Governo com tantos
arguidos indiciados com acções criminosas relacionadas com a corrupção, ainda
não tenha havido, por parte do Primeiro-ministro, decisões para limpar a imagem
do Governo, por um lado e, a demarcação a uma cumplicidade directa ou passiva
do Chefe do Governo por outro.
Sabemos todos que ao abrigo dos consensos
alcançados e que ditaram a formação de um Governo inclusivo, a Assembleia
Nacional Popular adoptou semelhante conduta, passando a haver unanimidade dos
deputados na aprovação de tudo que é apresentado pelo Governo, ou seja,
deixamos de ter uma Democracia tradicional para termos uma democracia
consensual, sem oposição.
Se não há mecanismos legais que impedem
esta "coligação parlamentar e governativa", há contudo um
fiscalizador desta "coligação parlamentar e governativa", na figura
do Presidente da República, enquanto Chefe do Estado e Garante da Constituição
da República!
É positivo que todos se demarquem de
tentações que visam derrubar o Governo, pois isso não vai de encontro à
estabilidade e ao desenvolvimento da Guiné-Bissau, mas é bom que tenhamos todos
presente que, ao Chefe do Governo importa ter na sua equipa governamental,
pessoas acima de quaisquer suspeitas, ou seja, o Chefe do Governo não pode
continuar a ignorar que tem na sua equipa arguidos por corrupção e a desafiar
as competências do Presidente da República, contando que, tem o apoio da
Assembleia Nacional Popular devido à "Coligação parlamentar e
governativa" existente...!
Os guineenses devem posicionar-se sempre a
favor da transparência, da verdade e da Justiça, sem "pôr as mãos no
fogo" por seja quem for. O deus que idolatramos hoje, por desconhecermos a
"capa" que o encobre, pode amanhã ficar nu e à mercê de todos os
juízos e responsabilizações...
Positiva e construtivamente
Nota:
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