Jesus aproveita um comentário que ouve
na esplanada do Templo, em Jerusalém, para abrir a “ponta do véu” sobre as
realidades últimas, o sentido da história, o alcance das transformações em
curso, os germes do mundo novo a surgir. E sobretudo sobre a atitude dos
discípulos face a esses sinais dos tempos, que suscitam perplexidade e exigem
atenção e discernimento. Recorre a uma linguagem profética típica de quem fala
para iniciados a fim de lhes revelar verdades consoladoras e de os exortar a
não perderem a oportunidade de marcar a diferença em relação a quem vive
“distraído”.
Exemplo desta atitude é dado pelo
Cardeal Parolin, após a eleição do novo presidente dos Estados Unidos da
América, ao expressar o voto de que de que Deus o ilumine e o ampare no serviço
à pátria e ao bem-estar e à paz no mundo. “Acredito que hoje exista a
necessidade de todos trabalharem para mudar a situação mundial, que é uma
situação de grave dilaceração, de grave conflito”.
E o secretário de Estado do Vaticano, já
havia dito: “Creio que, antes de tudo, tomamos conhecimento com respeito da
vontade expressa pelo povo estadunidense neste exercício de democracia que,
soube, foi caracterizado também por uma grande afluência às urnas”. Exemplo que
revela a sabedoria e a prudência, fruto de contínuo discernimento.
A conversa ia discorrendo sobre a
grandiosidade do Templo, sua bela construção e conservação, sua riqueza e
importância. O grupo estava deveras admirado. E com razão. Era a glória dos
judeus, o centro do culto oficial, a “sede” da economia e do poder religioso.
Jesus intervém com palavras “duras”, prevendo a ruína completa. “Não ficará
pedra sobre pedra”, diz-lhes. De facto, assim acontece. Hoje, resta apenas um
muro – o das lamentações – onde se fazem orações de saudade e súplica, na
expectativa de “melhores dias”. Fica perto das célebres mesquitas muçulmanas,
grandiosas e belas.
A destruição do Templo ocorre na
sequência da tomada da cidade pelas tropas romanas, por volta do ano 70 da
nossa era, comandadas pelo General Tito. Os ouvintes ficam perplexos e querem
saber pormenores: datas e sinais. E Jesus lança o horizonte da conversa para
novas dimensões, para o “fim dos tempos” que só Deus conhece. Entretanto,
muitas surpresas hão-de surgir: guerras e revoltas, grandes terramotos, fomes e
epidemias, perseguições de morte. Como hoje infelizmente. O cenário parece que,
em certas partes do mundo, se agravou. E noutras tornou-se mais sibilino,
discreto, mas triturante. Um tufão ideológico agita a natureza e a cultura e
outros alicerces das sociedades ocidentais. Oxalá, prepare o “terreno” para um
outro mundo que é possível, como se pode verificar no curso da história e se
anuncia na conversa da esplanada.
Perante o que acontece actualmente,
pergunta o Papa Francisco: “Que passa no mundo de hoje que, quando se produz a
bancarrota de um banco, imediatamente aparecem somas escandalosas para
salvá-lo, mas quando se produz esta bancarrota da humanidade não há nem uma
milésima parte para salvar a estes irmãos que tanto sofrem? E assim o
Mediterrâneo se converteu num cemitério, e não somente o Mediterrâneo...tantos
cemitérios junto aos muros, muros manchados de sangue inocente”. Denúncia que
se pode estender a tantos outros campos.
“Assim tereis ocasião de dar
testemunho”, afirma Jesus que destaca a confiança, a paciência e a
perseverança, como alicerces desta atitude, e deixa a garantia da sua presença
solícita em todas as ocasiões. “Nenhum cabelo da vossa cabeça se perderá”.
Que garantia reconfortante! E que
proximidade no acompanhamento! A expressão é muito bela e carinhosa. Para quem
tinha ideias de um Deus majestoso, adorado só no Templo, com ritos e orações
oficiais, que impacto deve ter sentido com esta revelação de Jesus. É o Deus do
quotidiano, dos cuidados da vida, dos afazeres familiares. É o Deus do bom
relacionamento entre as pessoas, da convivência sadia, da cooperação de todos
na construção de uma bela humanidade, o novo templo de Deus.
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