«O ano que se agora inicia deve ser “o ano em que todos – cidadãos, governos, dirigentes – procurem superar as suas diferenças”, através do “diálogo e do respeito independentemente das divergências políticas”, “por via de um cessar-fogo num campo de batalha ou mediante entendimentos conseguidos à mesa de negociações para obter soluções políticas”, defende. E termina: “A dignidade e a esperança, o progresso e a prosperidade – enfim tudo o que valorizamos como família humana – depende da paz. Mas a paz depende de nós.”»
Na primeira mensagem como secretário-geral, português lembra que há "vastas regiões do planeta inteiramente desestabilizadas" e que "nestas guerras não há vencedores"
No mapa de conflitos da organização
independente International Crisis Group, que trabalha para prevenir guerras e
moldar políticas para construir um mundo mais pacífico, estão assinalados mais
de 50 países. É com um mundo em guerra, com conflitos mais ou menos mediáticos
e que envolvem desde grupos locais a grandes potências, fazendo lembrar os
tempos da Guerra Fria, que António Guterres assume hoje o cargo de
secretário-geral das Nações Unidas. E a sua primeira mensagem é precisamente um
apelo à paz.
"Neste primeiro dia do ano, peço a
todos que partilhem comigo um propósito de Ano Novo: façamos da Paz a nossa
prioridade. Façamos de 2017 um ano em que todos - cidadãos, governos,
dirigentes - procurem superar as suas diferenças", diz Guterres numa
mensagem vídeo em português, gravada para ser divulgada à meia-noite em Nova
Iorque e à qual o DN teve acesso prévio.
"Façamos de 2017 um ano em que
todos - cidadãos, governos, dirigentes - procurem superar as suas
diferenças"
"Neste primeiro dia como
secretário-geral das Nações Unidas, há, sobretudo, uma pergunta que me assalta
a consciência: como ajudar os milhões de seres humanos vítimas de conflitos e
que sofrem enormemente em guerras que parecem não ter fim?", afirma o novo
líder da ONU, que hoje sucede oficialmente ao sul-coreano Ban Ki-moon para um
mandato de cinco anos. O antigo alto-comissário das Nações Unidas para os
Refugiados lembra que populações civis em vários pontos do globo são
destroçadas sob a mais letal violência, sendo obrigadas a abandonar os lares por
causa dos conflitos, que não poupam também comboios humanitários ou hospitais.
"Nestas guerras não há
vencedores", diz Guterres, deixando claro que "todos perdem".
Mais: "Gastam-se biliões de dólares na destruição de sociedades e
economias, alimentando ciclos de desconfiança e medo que podem perpetuar-se por
gerações". O antigo primeiro-ministro português diz que "vastas
regiões do planeta estão inteiramente desestabilizadas" e alerta para um
novo fenómeno de terrorismo global. "Ameaça-nos a todos."
Daí o apelo de Guterres para que a paz
seja a prioridade mundial em 2017, tendo no seu discurso de tomada de posse, a
12 de novembro, em Nova Iorque, dito que estava disponível para se envolver
"pessoalmente na resolução de conflitos, onde isso trouxer um valor
acrescentado", reconhecendo contudo o papel de liderança dos Estados
membros. "A dignidade e a esperança, o progresso e a prosperidade - enfim
tudo o que valorizamos como família humana - depende da Paz. Mas a Paz depende
de nós", avisa.
Aos dirigentes políticos, Guterres deixa
o desafio: "Seja através da solidariedade e da compaixão nas nossas vidas
quotidianas, seja através do diálogo e do respeito independentemente das
divergências políticas. Seja por via de um cessar-fogo num campo de batalha ou
mediante entendimentos conseguidos à mesa de negociações para obter soluções
políticas. A procura do bem supremo da Paz deve ser o nosso objetivo e o nosso
princípio orientador", acrescenta.
Um
mundo em guerra
As atenções mundiais estão viradas para a Síria e para o periclitante cessar-fogo (o terceiro no espaço de um ano) anunciado esta semana pela Rússia e pela Turquia. Depois da vitória das forças leais ao presidente Bashar al-Assad na reconquista de Aleppo (cerca de metade da segunda maior cidade síria estava controlada pelos rebeldes desde 2015), a aposta é nas negociações de paz que Moscovo está a patrocinar em Astana, a capital do Cazaquistão.Com o Diário de Noticias
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