quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

O adeus de Obama em Chicago

Em discurso de despedida, Barack Obama reafirma fé nas instituições e no povo americano como agentes de mudança.

O Presidente Barack Obama disse adeus ao povo americano num discurso em Chicago em que reafirmou a sua fé na capacidade do povo americano em lutar por mudanças e também na liberdade prevista na declaração de independência do país.

Obama afirmou, na noite desta terça-feira, 10, que deixa a Presidência “mais optimista sobre este pais do que quando comecei”

Ao falar perante milhares de pessoas em Chicago e em referência ao slogan “esperança”, da sua primeira candidatura, o Presidente reafirmou a sua fé na capacidade dos americanos de levar a cabo mudanças de grande impacto no país.

Obama lembrou “a dignidade calada do povo trabalhador”, acrescentando que a mudança só é possível “quando as pessoas normais do dia-a-dia se envolvem” e juntam forças para exigir mudanças.

Ele escolheu Chicago para o seu adeus por ter sido nesta cidade que ele iniciou a sua carreira política e foi aí que, em 2008, que assumiu a vitória como o primeiro afro-americano a chegar à Presidência dos Estados Unidos.

Onde tudo começou

No discurso de despedida, Obama lembrou o seu passado ao chegar a Chicago quando “estava ainda a tentar saber quem eu era, ainda à procura do propósito da minha vida”.

“Foi aqui que aprendi que a mudança apenas ocorre quando pessoas se envolvem e juntam para exigir mudanças”, disse o Presidente.

“Foi em bairros não muito longe daqui que comecei a trabalhar com igrejas nas sombras de fábricas encerradas, foi nestas ruas que testemunhei o poder da fé e a dignidade calada do povo trabalhador face dificuldades e perdas”, sublinhou.

“Após oito como vosso presidente eu ainda acredito nisso”, reiterou Barack Obama, acrescentando que "isto não é apenas a minha crença, é o coração vivo da ideia americana, a nossa experiência corajosa de governação”.

No seu discurso de cerca de 50 minutos, o Presidente evocou a declaração de independência dos Estados Unidos e dos seus ensinamentos sobre igualdade e direitos inalienáveis e exortou os americanos a defenderem esses direitos e a melhorarem a democracia americana.

A força da democracia

“Esta foi a grande prenda que os nossos fundadores nos deram: A liberdade de lutarmos pelos nossos sonhos individuais através do nosso suor, trabalho e imaginação e o imperativo de lutarmos também juntos para alcançarmos um melhor bem comum”, disse o presidente.

Obama chegou a Chicago acompanhado de muitos dos seus conselheiros da Casa Branca, da sua mulher Michelle, filhas e amigos.

O vice-presidente Joe Biden e esposa também estiveram presentes.

Milhares de pessoas encheram o centro de convenções McCormick com bilhetes a serem vendidos no mercado paralelo por milhares de dólares, apesar de terem sido distribuídos gratuitamente.

Ao iniciar a sua intervenção, Barack Obama foi interrompido pela multidão que gritou “ mais quatro anos! Mais Quatro anos!” ao que o Presidente respondeu com humor: “Não posso fazer isso”.

O Presidente recordou os seus sucessos na revitalização da economia em crise oito anos atrás, o actual baixo nível de desemprego, o sucesso das negociações para o fim do programa nuclear iraniano e o restabelecimento das relações com Cuba.

“A América é um lugar melhor e mais forte do que quando começamos”, assegurou Obama, que interrompeu a multidão quando esta começou a vaiar o presidente eleito Donald Trump

“Cabe a todos nós assegurar que o Governo pode ter sucesso nos desafios a que fazemos face”, afirmou, acrescentando que “a democracia não requer uniformidade mas requer um sentido de solidariedade”.

A questão racial

Obama disse que uma das ameaças à democracia dos Estados Unidos é a questão da raça dos americanos.

“Depois da minha eleição falou-se numa América pós-racial, mas essa visão, embora bem intencionadas, nunca foi realística”, asseverou para explicar que "a questão da raça permanece como uma força forte e muitas vezes divisiva na nossa sociedade, mas são melhores do que eram há 10, 20 ou 30 anos”.

Neste aspecto, o Presidente lançou um apelo à compreensão mútua entre as raças, acrescentando que “temos que tentar mais arduamente a começar pela premissa de que cada um dos nossos concidadãos ama esta país tanto como nós”.

Obama apelou também a um maior espirito de compreensão e compromisso na cena política e apelou a acções “mais corajosas” no combate às alterações climatéricas.

“Devemos e podemos discutir os melhores meios de resolver o problema, mas negar o problema não só atraiçoa as gerações futuras, como atraiçoa também o espirito de inovação e de resolução de problemas que guiou os nossos fundadores”, reiterou Obama.

Mais à frente, o Presidente afirmou que os laços que unem os americanos são enfraquecidos "quando o diálogo político se torna tão rancoroso que “os americanos de quem discordamos são vistos, não só como mal informados, como malvados”.

“Se estão cansados de discutir com estranhos na internet então tentem falar com um na vida verdadeira”, desafiou.

Terrorismo e cidadania

Barack Obama disse que o terrorismo e autocratas são mais perigosos que “um carro-bomba ou um míssil”.

“Isso representa o medo da mudança, o medo de pessoas que parecem, falam ou oram de modo diferente”, disse Obama, para quem "proteger o nosso modo de vida requer mais que forças militares” porque “a democracia só verga quando cedemos ao medo”.

“Temos que ser vigilantes, mas sem medo”, desafiou o Presidente americano que afirmou ainda que o chamado Estado Islâmico “pode tentar matar pessoas inocentes, mas não pode derrotar a América a não ser que atraiçoemos a nossa constituição e os nossos princípios”.

Um dos pontos altos da intervenção do Presidente foi quando dirigiu, emocionado, palavras de agradecimento e elogios à esposa Michelle, em como às filhas.

No meio de uma enorme ovação, Barack Obama saudou também o vice-presidente Joe Biden afirmando que o considerava agora como “um irmão” e terminou com um apelo ao povo americano para acreditar na capacidade de todos efectuarem mudanças.

Para Barack Obama o vice-presidente foi a melhor escolha da sua carreira.


“Sim podemos, sim fizemos, sim podemos”, concluiu o Presidente o seu último discurso antes de deixar a Casa Branco a 20 de Janeiro. Com a Voz da América 

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