Jesus prossegue o anúncio da novidade de
que é portador: Deus é diferente do que imaginamos, o seu agir mostra
claramente quem ele é. Visualiza o que quer transmitir com a parábola do rei
que pretende fazer festa pelo casamento do filho. (Mt 22, 1-14). Envia os
convites, prepara com requinte a ementa, espera pela resposta livre de cada um,
não desiste perante a recusa nem altera o seu projecto, dirige-se a outros que
aceitam prontamente, e o banquete realiza-se na alegria dos comensais que
convivem em igualdade e se alimentam com as iguarias confeccionadas com primor
e dignidade. A parábola é dirigida aos sumos-sacerdotes e anciãos do povo, isto
é, aos responsáveis pela situação religiosa vivida e que desfigurava o rosto de
Deus.
Mateus, hábil narrador, tem como “pano de
fundo” os acontecimentos ocorridos em Jerusalém, pelos anos 70, aquando da
destruição do Templo pelas tropas romanas. E realça a acção generosa do rei que
selecciona cuidadosamente a lista dos convidados. Segundo a praxe, o convite é
dirigido a amigos e a pessoas estimadas. São estas que projectam a sua imagem
social, constituem como que o espelho da sua reputação, do reconhecimento
público que lhe era dispensado, da gala de ilustres figuras que o rodeiam e
acompanham. Estava em jogo o bom nome, a sua honorabilidade.
O Papa Francisco ao comentar esta parábola
afirma: “Pobre Rei que tinha bem presente cada um dos que desejava ver no seu
palácio. Desejava com o seu coração abrir os braços e receber o seu hóspede
esperado, mas este não quis vir, simplesmente assim: não quis, não soube, ou
nem quis saber”. Pobre rei que, apesar da insistência, se vê recusado sem
qualquer explicação e pelas mais diversas razões. Não lhe dão a menor atenção.
Indiferentes, uns; violentos e agressivos, outros. Todos recusam entrar em comunhão
fraterna com ele. Dir-se-ia que estavam bem na situação em que se encontravam.
“Os que se negam a ir à boda, explica J. M. Castillo (La religión de Jesús,
ciclo A, p. 422) são gente de alta posição social e de muito dinheiro. Têm
terras e negócios. Os que entram na boda são gente que não tem nada, os
vagabundos dos caminhos”. Aqueles estão satisfeitos, acomodados, com seus
privilégios e distinções. Deus não os suporta mais. Os outros acabam por ser os
preferidos. Isto os fariseus não aguentam e maquinam a trama final da vida de
Jesus.
O retrato dos chefes interlocutores saía
em relevo. Mas a narrativa continua com novos requintes. “A festa de casamento
está pronta, mas os convidados não a mereceram. Portanto, ide à encruzilhada
dos caminhos e convidai para a festa todos os que encontrardes”. E a sala ficou
cheia. Quem imaginaria o palácio real ocupado por esta gente tão diversa e
desprezada: os marginalizados e excluídos sociais e religiosos, os maltrapilhos
e deformados, os esfomeados e sedentos, os sem-abrigo nem protecção. A sala
coloriu-se com todos eles, que simbolizam os membros do novo povo de Deus. Os
primeiros, os responsáveis religiosos dos Judeus recusam e vêem-se preteridos;
os segundos aceitam e são contemplados com os bens messiânicos, os do banquete
oferecido.
A parábola contém outros elementos de
grande significado. Faz, como que em antecipação, o relato do que vai
acontecer. O filho é Jesus que celebra a ceia de despedida com os discípulos
antes da paixão e da morte que o elimina e abre a porta à sua ressurreição. Os
enviados foram os profetas e agora são os cristãos animados pelo Espírito Santo
congregados em Igreja e prontos para a missão. O rei é Deus que persiste em
levar por diante o projecto de salvação, respeitando a liberdade humana, mas
exigindo comportamentos responsáveis. O tempo coincide com a história que, em
género de livro da vida, regista o percurso de cada um de nós. No fim será
consumada a festa do banquete em que todos participam, uma vez que se
apresentam com o traje do bem feito em obras de justiça, misericórdia e perdão,
de graça e benevolência, sobretudo em favor dos que estavam nas encruzilhadas
dos caminhos e nas bermas da sociedade e das religiões. (Apoc. 19, 8).
A festa está pronta.
Vinde tomar parte. Ouvimos na celebração da Eucaristia: “Felizes os convidados
para a ceia do Senhor”. Aceita o convite e prepara-te para comungar dignamente
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