Jesus quer abrir os horizontes do futuro
definitivo e mostrar a sua relação com a vida presente. Tem consigo os
discípulos e está na parte final dos seus ensinamentos. Deixa o Templo e
retira-se para o Monte das Oliveiras. Daí contempla a cidade e, em visão antecipada,
vê o que lhe vai acontecer: Não ficará pedra sobre pedra. Dos escombros,
surgirá uma situação nova.
Recorre, como bom mestre, a exemplos da
vida concreta, acessíveis à compreensão de todos. Hoje, serve-se da realização
das bodas de casamento, muito apreciadas pelos judeus, sobretudo pelos noivos e
seus amigos. E descreve-a em forma de parábola, tendo como horizonte a história
da salvação ou seja a relação que Deus estabelece com a humanidade em ordem a
que esta possa experienciar o amor com que é amada. Gratuitamente. E não por
méritos alcançados, créditos acumulados.
Proporciona assim aos fariseus, seus
adversários intransigentes, um conjunto de elementos que os confrontam com a
presunção de estarem salvos por serem quem são, observarem certos costumes e
fazerem certas práticas religiosas. Eles, como as jovens da narrativa, são
convidados, a iniciativa vem de quem promove a festa e quer vê-los a participar
com a luz da alegria.
Mateus, (Mt 25, 1-13), o narrador que
escreve a parábola uns bons anos mais tarde, dá-lhe outra acentuação. Face ao
que estava a acontecer – a demora em o Senhor chegar -, insiste na paciente
espera, na vigilante atenção, no esforçado cuidado em ordem a que os cristãos
estejam preparados para o acolhimento indispensável, para percorrerem os
caminhos da vida na sua companhia, para passarem a porta de entrada na sala do
festim e participarem na boda do amor nupcial.
Jesus quer dizer-nos claramente que o
nosso futuro será uma festa e não uma tortura; uma comunhão e não uma solidão;
uma celebração da vida plena e não um lamento de desolação e ruína. Deus estará
connosco e em nós. E também com os outros e nos outros. Seremos a sua família.
Com Jesus, o primogénito, o Senhor. Com Maria, a mulher do sim pleno e da
entrega coerente. Com uma multidão de amigos que serão a nossa surpresa
agradável pois partilham da nossa feliz herança.
O futuro é como a árvore que está
contida na semente. Será o desabrochar do presente transformado pelo amor
sincero. A transformação é obra de Deus. A semente e o seu desabrochar, as
raízes e o seu alimento são connosco. Constituem a grande aventura da vida, a
nossa maior responsabilidade. É agora. Depois, fechada a porta pela morte, já
não haverá mais possibilidades. É no tempo presente. Depois, aberta a porta
pela morte, será a visão dos frutos da semente cuidada com desvelo e abençoada
por Deus Pai, o encanto do coração humano recompensado nos esforços
despendidos, a alegria de saborear a surpresa preparada.
Jesus visualiza a sua mensagem nas dez
raparigas convidadas para a festa nupcial. Enquanto esperam que o noivo chegue,
entretém-se divertidamente. Cansam-se e começam a sentir sono. Adormecem. Com
estes pormenores, a parábola faz um retrato da vida de muitos humanos.
Distraídos como andam, não advertem no que vai acontecendo. Indiferentes,
isolam-se nas ocupações mais rotineiras e banais. Absorvidos pelo que dá gosto,
desconsideram tudo o que exige sobriedade e abnegação por um bem maior. E como
as jovens estão convidados para a festa da vida integral, plena. Mas
esquecem-se.
O noivo faz-se esperar. Quer
proporcionar um tempo de paciência confiante e de cuidado vigilante. Ou seja,
um tempo de provação da verdade do amor. A chegada é surpreendente. A alegria
contida, agora torna-se exuberante. Todas se afadigam para a recepção. É o
momento da grande verificação. Os recursos são avaliados. Para umas, o cálculo
havia sido errado. E falta o azeite para a candeia iluminar o desfilar do
cortejo que se fazia durante noite. E o azeite constitui o sinal visível da
relação pessoal com o noivo. Não pode ser pedido, emprestado ou alienado. Seria
a perda da identidade própria, a despersonalização da relação reduzida ao
anonimato.
A prevenção do azeite da nossa candeia
faz-se a partir da mais tenra idade: gestos educados e respostas civilizadas,
cultivo de sentimentos positivos e transmissão de valores, atenção lúcida à
realidade envolvente e mais distante, escuta diligente da voz da consciência e
esforço por lhe dar seguimento, discernindo o que é justo e humaniza, o que
edifica os outros e ajuda a construir o bem comum. A luz da nossa candeia
brilha com nova intensidade quando acolhe o dom de Deus, simbolizada no Círio
Pascal, Jesus ressuscitado que franqueou as portas da morte e abriu os
horizontes da vida ressuscitada.
Ao serviço desta abertura de horizontes
da vida e da história, está a instituição dos Seminários que realiza, de 12 a
19 de Novembro, a habitual semana de oração e de pedido de colaboração aos
fieis. É seu objectivo principal promover “a formação dos futuros pastores da
Igreja”. A Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios fez-nos chegar uma
Nota Pastoral de que destacamos alguns parágrafos.
“O Seminário é tempo de estar com Jesus
e de aprender com Ele a viver no meio das realidades do mundo; é tempo para
exercitar a escuta e aprofundar o discernimento acerca da vontade de Deus; é
tempo de cultivar um coração dócil, livre e generoso para o serviço de Deus e
dos irmãos; é tempo para descobrir o estilo mariano da evangelização que
valoriza a proximidade, a ternura e o afeto”. E vem o apelo: Ajudemos os nossos
Seminários.
Está ao nosso alcance, fazer da vida uma
festa, iluminada pela fé cristã e pelo convívio dos irmãos. Acredita. Prepara o
futuro definitivo com opções razoáveis no presente.
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