Os mancebos que iniciaram as preparações
militares no princípio de Outubro último prestaram ontem, 02 de Dezembro de
2017 o juramento da bandeira cujo acto foi presidido pelo Ministro da Defesa
Nacional, Major General Eduardo Costa Sanhá. Nesta ocasião o Chefe do Estado
Maior General DAS Forças Armadas, General Biaguê Na N´Tan, proferiu um discurso
no qual realçou os progressos alçados, as necessidades vigentes e perspectivas.
Tendo a importância do referido
discurso, julgamos necessário reproduzi-lo na íntegra.
“É um orgulho imenso poder desfrutar da
companhia das mais ilustres entidades aqui presentes, bem como a da população
de Cumere que, há muito, vem colaborando no acolhimento e carinho às recrutas,
dignificando ainda hoje esta tão significante cerimónia para as Forças Armadas
da Guiné-Bissau, pois o acto de Juramento de Bandeira é uma ocorrência muito
relevante que envolve não só os militares e as respectivas famílias, mas também
a própria sociedade, facto que se justifica pela presença massiva da população
neste evento
. Esta cerimónia constitui, sem dúvidas,
um dos mais marcantes momentos da classe castrense, sendo que, para além de
assinalar o rito de passagem do militar da condição de recruta à de soldado,
serve também para testar o grau de respeito e de credibilidade que,
ultimamente, as Forças Armadas da Guiné-Bissau vêm conquistando junto da
sociedade e no mundo fora.
O presente acto faz-nos recuar, em
termos históricos, recordando-nos da firme e inabalável decisão dos nossos
gloriosos Antigos Combatentes da Liberdade da Pátria, sob o comando do grande
líder e patriota Camarada Amílcar Lopes Cabral, assumiram a missão de lutar
pela conquista da Independência da Guiné e Cabo Verde, enquanto se viram
imbuídos de um profundo sentimento patriótico, edificando, deste modo, as bases
em que se assentam hoje as Forças Armadas.
Devo muita honra e apreço aos Camaradas
Antigos Combatentes da Liberdade da Pátria, estando alguns vivos e presentes
nesta cerimónia, enquanto outros já não estão entre os vivos, querendo
aproveitar esta ocasião para expressar a todos o profundo sentimento de
gratidão do povo Guineense e particularmente das suas Forças Armadas, pois são
nossos Heróis Nacionais. Das vossas mãos recebem, hoje, estes jovens militares,
que prestam Juramento à Bandeira Nacional, o bastão com que se guiaram na Luta
pela indepndência deste país.
Minhas Senhoras e meus Senhores,
É com muito orgulho que as Forças
Armadas recebem estes jovens, pois representam uma garantia para o futuro que
se quer construir, incorporando a ambição de se tornar grandes e bons
comandantes, sentindo-se o orgulho de ser militar e velando pelo cumprimento de
disciplina militar e das leis vigentes no país.
A concepção de recursos humanos a
altura, quer através da formação e treino e, numa maior exigência, nas
competências técnicas, profissionais e de comando, quer através da promoção de
uma cultura de mérito, repercutindo o desempenho no desenvolvimento da carreira
e promovendo a diferenciação enquanto factor de motivação, deve, para nós,
constituir preocupação e factor primordial, mobilizando recursos financeiros
para tal.
O acto que ora decorre, cujo ponto
culminante é prestação, por 1103 (mil cento e três) recrutas, de juramento à
bandeira nacional, indica, por um lado, um passo gigantesco no que respeita ao
apetrechamento das Forças de Defesa e de Segurança com recursos humanos
habilitados para fazer face aos desafios impostos às Forças Armadas, e, por
outro lado, um contributo para a reestruturação e reorganização das Forças
Armadas, no quadro de implementação de reformas que se quer nos sectores de
defesa e segurança.
O mundo em que nos encontramos inseridos
se vê cada vez mais mergulhado no caos, devido às situações anómalas
decorrentes de terrorismo, catástrofes naturais, assaltos à mão armada
crescente onda de criminalidade, tráfico de drogas, pirataria marítima, ameaças
e agitações nas zonas fronteiriças.
Os factores já referidos não passam de
perturbadores da paz e segurança, tornando-se, por isso, urgente incorporar
homens e mulheres a altura para uma resposta satisfatória aos factores em
questão.
Não devemos ficar inibidos perante
qualquer situação que requer de nós recursos humanos com a qualidade dos que
hoje em dia temos, aos quais, simultaneamente com os que já se tinham militado
nas Forças Armadas, deve-se proporcionar condições necessárias para o melhor
cumprimento da missão que hoje são atribuídos, condições essas que têm a ver
com fornecimento de uniformes, garantia de cursos de formação e de capacitação
em diversos domínios, a nível interno e externo, aquisição de equipamentos
informáticos e bélicos da nova era.
O espírito de abnegação e de sacrifício,
de que os mancebos se vêem imbuídos, decorre do chamado “amor à pátria”, razão
pelo que, ao lado dos homens, se vê um bom número de jovens de sexo feminino,
sinal de concretização dos princípios de igualdade e equidade de género, comprometidos
a dedicarem-se no cumprimento da missão e de tarefas exclusivamente militares
que lhes são reservadas pela Constituição da República, podendo-se, desta
feita, contar com as nossas valorosas e combativas mulheres, mesmo nas
situações mais exigentes e extremas, nos limites das capacidades – física,
psicológica, de coragem e de dedicação. Ilustres Recrutas,
Estamos reunidos aqui hoje para
testemunharmos, com sensação e muita alegria o vosso magnífico voto,
comprometendo-vos, daqui em diante, a pôr as vossas aptidões físicas e
intelectuais e, sobretudo, a vossa sensibilidade nacionalista ao serviço desta
nossa Amada Pátria, o que demonstra a vossa disposição ao cumprimento integral
das leis vigentes no país.
Com efeito, exorto e recomendo-vos o cumprimento
cabal do que consta dos artigos 20º e 21º da Constituição da República, que
prescrevem resumidamente o seguinte:
Defender a independência, a soberania e
a integridade territorial; Garantir a manutenção da segurança interna e da
ordem pública; Participar nas tarefas da reconstrução nacional; • Obedecer aos órgãos de soberania…; Não exercer qualquer atividade política;
• Defender a legalidade
democrática…; Prevenir os crimes…
A ética e deontologia profissional, o
cumprimento das normas constantes do regulamento de disciplina militar devem
merecer muito a atenção de um militar, pois não há lei contra o bem, devendo
cada um afastar-se dos assuntos políticos, da criminalidade e da corrupção,
pautando sempre pelo que possa contribuir para o bem-estar do povo a quem
prestamos serviço, com submissão à ordem constitucional, garantindo a Paz,
estabilidade e segurança, enquanto principais recursos estratégicos que vão-nos
permitir trilhar o caminho do desenvolvimento.
O povo guineense, as Forças Armadas e a
sociedade em geral esperam de vós, altos padrões de conduta, responsabilidade e
carácter singulares, preservando os valores éticos, culturais e cívicos para o
cumprimento, com sucesso, das vossas obrigações.
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Importa tornar evidente, neste acto, que
a Cooperação Técnico-militar com países amigos da Guiné-Bissau, sobretudo os da
CPLP e CEDEAO, está no bom caminho, embora não havendo uma rubrica de
cooperação formal com alguns, sendo ainda provisória a que se tem com as Forças
Armadas Portuguesas, estando-se a encetar contactos para a restauração da
cooperação com as Forças Armadas de alguns países.
Neste quadro, enalteço o incondicional
apoio que as nossas Forças Armadas têm tido das suas congéneres de Portugal,
Brasil, República Popular da China, Reino de Marrocos, Estados Unidos de
América, Rússia, Cuba, Nigéria, Timor-Leste, Angola, Senegal, e de tantos
outros países.
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Cabe-me, na qualidade de Chefe do
Estado-Maior General das Forças Armadas, felicitar vivamente as Suas
Excelências Brigadeiro-general Júlio Nhate Sulte, Chefe da Divisão de Recursos
Humanos do Estado-Maior General das Forças Armadas, e aos seus colaboradores
directos, pelo cumprimento da difícil tarefa de coordenação do processo de
recrutamento do pessoal, Brigadeiro-general Fernando Infande, Diretor do Centro
de Formação e Instrução Militar de Cumere, pela forma sabia como supervisionou
a instrução básica de jovens, Coronel Adulai Bá, Chefe da Divisão de Operações
e Treino do Estado-Maior General das Forças Armadas, pela cooperação na
execução do processo de recrutamento em causa.
As minhas felicitações se estendem ainda
ao Director de Instrução, seu adjunto e todos os instrutores, pelo árduo
trabalho efectuado ao longo de dois meses, sacrificando-se bastante para o bem
do nosso povo guineense e, particularmente, para o bem das nossas gloriosas
Forças Armadas. Felicito também as recrutas de ambos os sexos, que prestam
juramento à bandeira, pela abnegação e sacrifício para posterior cumprimento da
nobre missão de defesa e segurança da pátria, enquanto cidadãos guineenses.
Termino esta alocução, exortando a todos
os militares a salvaguardarem o patriotismo e a tarefa que lhes distingue das
outras personalidades e a empenharem, ainda mais, na consecução da nobre missão
desta instituição, cujo facto de a pertencermos nos orgulha tanto. Com as FARP’s,
no Jornal Defensor.
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