“[…] O Meu reino não é deste mundo”. “Jesus confirma que é rei. A sua realeza, porém, não é semelhante à dos poderosos deste mundo. Jesus, é o Rei que dá a vida, trazendo aos homens o conhecimento do verdadeiro Deus e do verdadeiro homem. O seu reino é um reino de verdade, onde a exploração dá lugar à partilha, e a opressão dá lugar à fraternidade”.“[…] Jesus Cristo, Rei do Universo, Senhor do Tempo, Príncipe da Paz que traz à humanidade o Reino de Deus, reino de verdade, amor, justiça e paz.As autoridades preferem Barrabás porque a pessoa de Jesus põe em risco os reinos deste mundo”. Barrabás “é o símbolo da violência que busca o poder, que perpetua o modo de ser dos reinos deste mundo.
"A Igreja quer estar liberta para
servir a verdade. Em todas as situações. É missão que diz respeito a cada um/a.
Conforme o espaço onde habita e o ambiente onde trabalha. A começar pela
proximidade na família e alargando-se a outras lonjuras, pois o mundo é a nossa
casa e a natureza nossa mãe."
Jesus, preso e amarrado, é levado a
Pilatos por uma delegação das autoridades judaicas. Era de manhã e estava
próxima a páscoa. O episódio abre a narração que São João faz do desfecho do
processo de condenação à morte. Jesus é entregue como malfeitor e vai passar a
ser um criminoso político. A sequência da acusação torna-se esclarecedora de
tantas situações em que a verdade é sacrificada porque o interesse, a
conveniência e o preconceito falam mais alto. Vamos deter-nos nos diálogos de
Pilatos com Jesus e procurar penetrar nos sentimentos de cada um. Vamos ver
pontos concretos que, à maneira de projectores, iluminam a consciência de quem
quer agir livremente e tem regras para cumprir. Vamos acolher a novidade que Jesus
nos transmite com a sua atitude, seu silêncio e sua palavra. (Jo 18, 33b-37).
Pilatos entra e sai do palácio algumas
vezes: ora para atender os judeus e receber Jesus, ora para dar uma satisfação
a quem estava na esplanada à espera da sentença de morte, ora para encontrar
uma saída airosa que o liberte da responsabilidade do desfecho do caso. Para
isso, baseado num costume incontestado, recorre a um expediente com aspectos de
plebiscito: “Quereis que vos solte o rei dos Judeus?” A resposta surge em coro:
“Ele não. Solta Barrabás”.
Barrabás, o salteador, “é o símbolo da
violência que busca o poder, que perpetua o modo de ser dos reinos deste mundo,
afirma o comentário da Bíblia Pastoral. As autoridades preferem Barrabás porque
a pessoa de Jesus põe em risco os reinos deste mundo”.
No interior do palácio, na sala das
audiências, Pilatos está sentado e Jesus de pé. Estão sós. Momento decisivo e
solene. E o diálogo de inquirição começa a um nível inesperado: “Tu és o rei
dos judeus?”. A pergunta manifesta uma preocupação claramente política. O
argumento das autoridades judaicas era outro. Jesus vinha acusado de malfeitor.
E, diga-se de passagem, com muita razão. A sua atitude face às leis e tradições
que subjugavam as pessoas era conhecida e, por vezes, ostensiva. Sendo preciso,
transgredia o sábado, atendia os proscritos, curava os feridos da vida,
mostrava que a pessoa e o respeito à sua dignidade é o que Deus quer de nós, e
é, agora e aqui, a realização possível do seu reinado de amor, justiça e paz.
Jesus devolve a pergunta, abrindo-a a um
novo sentido: “Dizes isso por ti mesmo, ou foram outros que to disseram a Meu
respeito?” Jesus não pretende violar o segredo das fontes de informação de
Pilatos, mas ajudá-lo a mergulhar na sua consciência, a agir por conta própria
e não como marioneta política coberta com a capa da religião. A sequência
mostra Pilatos a afirmar a sua pretensa isenção e a querer saber dados
objectivos da situação: “Que fizeste?”
Boa pergunta para Jesus fazer o relato das
suas benfeitorias (e não malfeitorias, de que era acusado). Mas Jesus não vai
por aí. Prefere continuar o diálogo na pergunta inicial e dizer o sentido da
sua realeza. E a prová-lo aduz o estar sozinho, sem defesas nem guardas de
protecção, acusado, preso e amarrado. “O Meu reino não é deste mundo”. Pilatos,
em jeito de conclusão, adianta: “Então Tu és rei?”
“Jesus confirma que é rei. A sua realeza,
porém, não é semelhante à dos poderosos deste mundo, esclarece a Bíblia
Pastoral. Estes exploram e oprimem o povo enganando-o com um sistema de ideias,
para esconder a sua acção. É o mundo da mentira. Jesus, ao contrário, é o Rei
que dá a vida, trazendo aos homens o conhecimento do verdadeiro Deus e do
verdadeiro homem. O seu reino é um reino de verdade, onde a exploração dá lugar
à partilha, e a opressão dá lugar à fraternidade”.
É a verdade feita vida, com rosto humano e
lisura de procedimentos. É a verdade, reflexo do ser de Deus que se esconde na
natureza humana e vai emergindo na consciência das pessoas e na sabedoria dos povos,
nas culturas e nas religiões, com especial relevo para a religião cristã
configurada na Igreja católica. É a verdade, referência fundamental para aferir
a justeza dos valores das declarações universais e das constituições políticas.
É a verdade, guia que ilumina o agir recto ou não da nossa consciência.
A festa de Cristo Rei, hoje celebrada, é
instituída, em 1925, por Pio XI num contexto europeu de grande agitação
política. Os efeitos ruinosos da 1.ª Grande Guerra ainda estavam bem vivos. Há
sinais alarmantes de descrédito dos sistemas em vigor e de formações
partidárias que pugnam por uma nova ordem. E vão surgir ditaduras de grande
calibre e dureza. Pio XI ergue a voz e apresenta Jesus Cristo, Rei do Universo,
Senhor do Tempo, Príncipe da Paz que traz à humanidade o Reino de Deus, reino
de verdade, amor, justiça e paz. Prescreve que esta festa seja celebrada em
toda a Igreja e espera que os Estados civis reconheçam Cristo como Rei
universal.
“Os condicionalismos sociais e históricos
modificaram-se por completo, adianta o Missal Popular, e foi então possível a
celebração da festa de Cristo Rei no seu verdadeiro contexto litúrgico e
teológico. Cristo é verdadeiramente Rei, mas numa ordem diferente da temporal,
como Ele afirmou. A Igreja liberta-se de compromissos terrenos, a maior parte
das vezes contrários à sua missão específica de evangelização e defensora dos
pobres”. O Papa Francisco não cessa de o proclamar.
A Igreja quer estar liberta para servir a
verdade. Em todas as situações. É missão que diz respeito a cada um/a. Conforme
o espaço onde habita e o ambiente onde trabalha. A começar pela proximidade na
família e alargando-se a outras lonjuras, pois o mundo é a nossa casa e a
natureza nossa mãe.
Hoje, destaca-se de modo especial a missão
dos leigos chamados a impregnar a cidadania com a fé cristã, com a força da
verdade e a confiança da esperança. Chamados a testemunhar a riqueza das
diferenças na unidade da comunhão. A seguir Jesus Cristo, o Senhor da Verdade.
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