«Para Deus, todos estão vivos. Alegre notícia a comunicar a todos. Verdade sublime a envolver-nos em tudo. “A partir de Deus, (os que morrem) acompanham-nos, ajudando-nos, e podem interceder por nós junto d’Ele”... “No amor de Deus, os defuntos tem um coração muito maior do que tinham antes, aqui na Terra. Reconciliaram-se com o Senhor e também com eles próprios e com aqueles a quem não foi feita justiça”. Assim, igualmente os nossos falecidos pais continuam a ajudar-nos: “O nosso pai pode continuar a apoiar-nos a partir do Céu, a nossa mãe converte-se na imagem de amor e de segurança que Deus nos oferece” (A. Grün).»
Afirmação clara e conclusiva que desmonta
a armadilha que os saduceus lançaram a Jesus e que visava ridicularizá-lo em
púbico. Alegre notícia, portadora de fé e de esperança, para o coração humano
inquieto com o futuro da vida. Mensagem encantadora que desvenda o rosto
autêntico de Deus, o Senhor da vida, no qual todos vivem para sempre. Resposta
feliz e apelo solícito que partem de Jerusalém e, ao longo da história, se
prolongam por todo o mundo, despertando energias adormecidas em toda a
humanidade, abrindo-lhe horizontes novos e definitivos. Lc 20, 27. 34-38.
O grupo dos saduceus configura, de algum
modo, o conjunto de pessoas que pretende garantir a sobrevivência do ser humano
por meio da descendência. E daí, apoiados na lei do levirato (cf. Dt 25, 5-10),
a historieta que inventam. Morre o marido e não deixa filhos. Como fazer para
que os bens não se dispersem e, sobretudo, a sua memória perdure longamente? A
resposta encontrada esgota as hipóteses plausíveis. Sete é número de plenitude.
A descendência é a forma mais nobre descoberta pela razão humana, superando
modos muito apreciados por outras culturas: plantar árvores, gravar nomes em
pedras, construir monumentos, escrever pergaminhos ou livros. (Ainda não se
falava de clonagem, nem de reprodução medicamente assistida, nem de coisas no
género). Esta diversidade põe em evidência a aspiração fundamental do ser
humano que nasce para viver e não para morrer, para conservar a sua integridade
original e não para se dissolver na podridão final.
Esta aspiração vital é satisfeita,
plenamente, na comunhão com o Deus da vida de que fala Jesus. Para Ele todos
estão vivos. A prová-lo fica o testemunho dos patriarcas e do próprio Moisés,
que havia prescrito a lei do levirato. A razão é simples: se eles estão em Deus
fonte da vida, todos vivem, todos participam desta fonte inesgotável.
Alguns saduceus, ao ouvirem o ensinamento
de Jesus, comentam: “Foi uma boa resposta, Mestre” e sobre o assunto ninguém
mais teve coragem de fazer qualquer outra pergunta. Para os discípulos a
questão é assertiva e estimulante. A vida humana, sendo nossa por natureza, é
dom de Deus, sagrada, portanto. A natureza pessoal tem ritmos no tempo e vai-se
consumindo. Chega a hora de passar ao ritmo novo e definitivo, qualitativamente
diferente: o ritmo da vida eterna, da comunhão plena na família de Deus, onde
se encontram todos os humanos que deram resposta positiva, embora com
modalidades muito plurais e diferenciadas, ao amor que Deus nos tem. Buscar
outras saídas para o nosso futuro pessoal e colectivo é fruto apreciável da
razão humana que fica, sempre, às portas do grande mistério, desvendado por
Jesus, na magnífica resposta que dá aos saduceus.
A única morte que Deus conhece é
resultante do pecado, recusa consciente e livre do amor que Deus nos tem e se
manifesta em opções indignas da sublime condição humana revelada por Jesus
Cristo. Recusa que desvirtua o projecto original com práticas de mentira em vez
da verdade, de corrupção em vez da integridade, da marginalização em vez da
inclusão, da aversão e do ódio em vez do acolhimento e do amor.
Para Deus, todos estão vivos. Alegre
notícia a comunicar a todos. Verdade sublime a envolver-nos em tudo. “A partir
de Deus, (os que morrem) acompanham-nos, ajudando-nos, e podem interceder por
nós junto d’Ele”... “No amor de Deus, os defuntos tem um coração muito maior do
que tinham antes, aqui na Terra. Reconciliaram-se com o Senhor e também com
eles próprios e com aqueles a quem não foi feita justiça”. Assim, igualmente os
nossos falecidos pais continuam a ajudar-nos: “O nosso pai pode continuar a
apoiar-nos a partir do Céu, a nossa mãe converte-se na imagem de amor e de
segurança que Deus nos oferece” (A. Grün).
A resposta de Jesus aos saduceus enche-nos
de esperança e de coragem. “Os que forem dignos de tomar parte na vida futura e
na ressurreição dos mortos” pertencerão sempre ao Senhor e estarão sempre com
Ele, o Deus dos vivos. Que alegria e responsabilidade!
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