"O Crioulo Guineense, se for ignorado, torna-se inimigo do Português, mas pode tornar-se o melhor amigo desta língua, se for tomado em consideração na aprendizagem da mesma".
O programa de
Português aqui proposto é específico e exclusivo para alunos da Guiné-Bissau
pelo facto de o Português ter um relacionamento linguístico especial com o
Crioulo Guineense que, por sua vez, é uma língua da África Ocidental que todas
as crianças guineenses aprendem a falar antes de aprenderem Português na
escola.
Nenhuma criança da
Guiné-Bissau tem Português como língua materna nem como língua de normal
comunicação oral, todos falam Crioulo ou aprendem rapidamente a falar esta
língua nos seus primeiros contactos fora do meio étnico de origem. A própria
escola que pretende ensinar em Português desde a primeira classe, em poucos
meses leva todos os alunos que só falam a língua étnica a falarem correntemente
Crioulo.
O Crioulo, como
língua de comunicação de maior difusão e de mais rápida expansão no País (55%
de locutores em 1987 e 70% em 2001), deve ser actualmente considerada língua
materna ou quase-materna da maioria das crianças da Guiné-Bissau: de facto, nos
centros urbanos, ao longo das grandes vias de comunicação e também em muitas
zonas rurais como, por exemplo, no Arquipélago Bijagô, o Crioulo é a principal
língua de comunicação da população multiétnica. Por ter o Crioulo Guineense
características de língua da África Ocidental é de fácil aprendizagem pelas
populações, logo pelas crianças, desta zona do continente.
Ao mesmo tempo, o
Crioulo, que teve a sua origem ligada ao Português, tem, com esta língua,
relacionamentos fonéticos, morfológicos e sintácticos que devem ser
considerados durante o desenvolvimento das unidades do programa.
Por tudo isso, o
método de aprendizagem de Português para um guineense deve ser um método
específico que deve apontar e explorar as divergências, e as convergências da
língua do aluno (Crioulo) com as da língua que deve aprender (Português) e
fazer evitar as interferências da primeira na utilização da segunda.
a) Os
destinatários prioritários deste programa são as crianças guineenses que, após
terem frequentado a 1ª fase do Ensino Básico (E.B.) em Crioulo, falam, lêem e
escrevem esta língua nacional e devem iniciar a aprendizagem do Português. Alem
de alfabetizados em língua crioula, esses alunos têm o perfil de finalistas da
1ª fase do E.B. isto é, adquiriram os conteúdos teóricos, as capacidades e os
comportamentos previstos nos objectivos dos currículos nacionais dessa 1ª fase.
Nota : O desenvolvimento deste programa pode, para esses
alunos, iniciar no 3º trimestre do 2º ano ou no início da 2ª fase do E.B.,
neste caso dedica-se um tempo lectivo diário a este mesmo programa e três
tempos para o desenvolvimento dos conteúdos dos curricula em língua crioula de
maneira que possam chegar ao fim da 2ª fase do E.B. (4ª classe) com boa
assimilação dos conteúdos e também com boa oralidade básica, escrita e leitura
da língua portuguesa sem interferências do Crioulo.
b) Também os
adultos que foram alfabetizados em Crioulo têm aqui, feitas algumas adaptações,
uma metodologia específica para aprenderem Português.
c) A metodologia
deste programa pode ser adaptada ao ensino da língua portuguesa também para as
crianças que são leccionadas em Português desde a 1ª classe.
Para a aplicação
deste método o professor deve, antes de mais, estudar a língua crioula quer na
sua origem e formação, quer na sua fonética, escrita, morfologia e sintaxe e
exercitar-se na prática; na aplicação do método deve notar todas as diferenças
fonéticas, gráficas, morfológicas e sintácticas do Português em relação ao
Crioulo e estar sempre pronto a emendar os alunos quando notar interferências
do Crioulo no Português quer falado quer escrito por eles: as fichas orientam
neste sentido.
Motivações
histórico-políticas da opção do Português como língua oficial:
Palavras de Amilcar Cabral (seminário de quadros de 1969 – Conakry) .....Decisão política do Governo da Guiné-Bissau.Herança histórico-cultural: o Português fica na herança cultural guineense, de facto, esta língua na Guiné-Bissau não foi só meio de comunicação, mas também veículo de ideias, de concepções da vida, do espaço, do tempo, da natureza e do transcendente que da cultura portuguesa passaram, em maior ou menor medida, com efeitos positivos e negativos, para a cultura dos povos da Guiné-Bissau.Necessidade prática de utilização de uma língua escrita, da língua da função pública, de consulta documental, de estudo científico, e de comunicação internacional.O Português é a língua comum aos 8 países da CPLP.O Português é uma das línguas internacionais.
OBJECTIVOS GERAIS DA APRENDIZAGEM DO PORTUGUÊS NO ENSINO BÁSICO
Levar os alunos
a:
a)
Saber comunicar
oralmente (e por escrito) em português através da aquisição e da prática de uma
fonética, de um léxico, de formas morfológicas e sintácticas elementares,
essenciais, substancialmente correspondentes às do Português standard e por
isso compreensível por todos os lusófonos.
a)
Compreender e
reconhecer que o estudo da língua portuguesa pelos guineenses é recomendada
pela realidade histórica, cultural e política da Guiné-Bissau.
c) Compreender e
utilizar o Português nas relações públicas e em várias situações em que o
cidadão guineense alfabetizado se encontrará : assistir a reuniões e palestras,
intervenções e comissões; ler e compreender a literatura escrita do país
(documentos históricos, administrativos, livros, jornais) que é
preponderantemente em Português e documentos necessários e úteis para todos os
cidadãos, ouvir os programas de Rádio e TV em língua portuguesas.
d) Alcançar o
nível linguístico suficiente para frequentar o Ensino Secundário em Português.
e) Utilizar o
Português em contactos internacionais sobretudo no âmbito dos países da CPLP.
Saber mais e melhor sobre Projecto Bilingue aqui
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