quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

O “REI” VAI NÚ, MAS RODEADO DE PARASITAS MEDROSOS E MERDOSOS.

 “A mim interessa-me a Guiné-Bissau acima de qualquer religião ou etnia e interessa-me mais a união e respeito inter-étnico e inter-religioso entre os guineenses, do que ter qualquer Rei de meia tigela a eternizar-se no poder…” - Jorge Herbert


 

Ainda em relação ao assunto N’Batonha, sempre ouvi dizer que a ignorância e a estupidez têm muita força, principalmente quando aglutinados. No entanto, até este assunto N’Batonha, apenas tinha constatado a veracidade disso, em pequenos assuntos da vida. Agora, ver um país inteiro a aceitar participar numa tamanha manipulação de sentimentos e convicções étnico-religiosas, apenas para servir um aspirante a Rei com vontade de se perpetuar no poder, é coisa que ainda não esperava ver na Guiné-Bissau!

Depois de múltiplas viagens sem inequívoca rentabilidade para o país, perseguições e espancamentos arbitrários de todos que ousarem questionar as suas negociatas, uma indubitável participação num negócio obscuro com gentes tão ou mais “séria” que ele (segundo o próprio disse) com uma criminosa aeronave que violou o nosso espaço aéreo e aeroportuário e aí ficou abandonado com total conhecimento e consentimento da Presidência da República e agora aparentemente também do Primeiro-ministro que mantém o conveniente silêncio em relação ao assunto que a maioria dos guineenses temem sequer abordar, uma clara fantochada de tentativa de golpe de Estado com contornos de um filme de cowboy barato, que serviu apenas para limpar os indesejados e conseguir oprimir e silenciar os opositores, eis que o Presidente da República da Guiné-Bissau destapou a cara e mostrou aos guineenses a sua verdadeira intenção e dos seus financiadores… Sendo um homem com provas dadas de ser portador de forte complexo étnico-religioso, estimulou a sociedade guineense a dividir-se e até incendiar-se com ataques e defesas de questiúnculas religiosas, para ele melhor conseguir reinar o país!

Desenganem-se guineenses, o problema não está na construção de uma Mesquita no centro da cidade de Bissau, nem tão pouco está no benefício dos islâmicos contra o resto da população guineense! O guineense não é nem nunca foi um povo tribalista e nunca conhecemos graves conflitos étnico-religiosos, como já se viu noutros destinos deste planeta. O Presidente da República quer apenas estimular uma divisão no seio dos guineenses, para melhor conseguir reinar no país. por isso, peço por favor aos muçulmanos, cristãos e animistas, fulas, mandingas, papeis, balantas e mestiços, não se envolvam em conflitos que vos levem a agredir ou confrontarem-se, porque isso não servirá a Guiné-Bissau nem aos guineenses, mas apenas a um único tribalista e islâmico, que quer perpetuar-se no poder, à custa da divisão de um povo que sempre viveu com tolerância e miscigenação do seu mosaico étnico e religioso.

É certo que o próprio aspirante a Rei já se apercebeu que, apesar de poucos se manifestarem, a grande maioria dos guineenses estão fartos dele, têm vergonha do presidente que têm e o querem ver pelas costas! Até mesmo aqueles parasitas que orbitam a sua volta e se alimentam das suas migalhas, já não podem vê-lo, porque volta e meia os humilha aqui ou acolá, mas por medo, mantêm-se em silêncio ou até o elogiam na esperança de cair mais migalhas. A maioria dos políticos que o apoiaram na segunda volta das eleições presidenciais em que saiu vencedor, já estão fartos dele e o querem ver fora do trono…. Obviamente que há aqueles cuja a ignorância é ainda maior que a do Rei e continuam a servi-lo de forma incondicional, quer faça sol, quer faça chuva, porque a inteligência só dá para a submissão, seguidismo e fazer eco das palavras do Rei sem Roque.

Portanto, o próprio Rei sem Roque já ganhou consciência que vai nú, mas rodeado de parasitas medrosos e merdosos que não lhe chegam para a sobrevivência prolongada no trono e aposta na divisão dos guineenses, estimulando conflitos étnico-religiosos, para dessa forma enfraquecer a maioria que já não o suporta na presidência e ao mesmo tempo angariar, dentro dessa maioria da população, a simpatia dos muçulmanos…

Nunca foi tão importante e urgente respeitarmos as nossas diferenças étnicas e religiosas e contestar ou defender as obras de N’Batonha ou outros assuntos do interesse nacional, com base em argumentos ambientais, técnicos, legais e até políticos, mas nunca com base em argumentos étnico-religiosos, que apenas vai servir para incendiar e dividir a sociedade guineense e facilitar a continuidade do aspirante a Rei…

Pela minha parte, sou contra as obras nesse local, porque agride a Avifauna e faz com que a cidade de Bissau perca a possibilidade de ter no futuro o seu parque da cidade com uma fauna como nunca visto noutro ponto do planeta, independentemente de ser uma Mesquita, uma Igreja, um Mosteiro ou até uma estátua do Rei todo nú, a ser construído no local… A mim interessa-me a Guiné-Bissau acima de qualquer religião ou etnia e interessa-me mais a união e respeito inter-étnico e inter-religioso entre os guineenses, do que ter qualquer Rei de meia tigela a eternizar-se no poder…


Nota: Os artigos assinados por amigos, colaboradores ou outros não vinculam a IBD, necessariamente, às opiniões neles expressas.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

N’BATONHA - Interesse Nacional ou outros?!

“Um representante do Estado que, em vez de proteger e conservar os bens de domínio público, aliena-os com o fim de serem destruídos para a satisfação de outros interesses que não os do povo, não é um Estadista, mas sim um criminoso!

Um povo que deixa criminosos cometerem crimes contra os bens de domínio público sem os travarem, é um povo condenado a viver das migalhas dos seus criminosos com capa de Estadistas”- Jorge Herbert


De início encarei o tema N’Batonha com superficialidade e brincadeira com as já mais que conhecidas manobras do PAIGC para a manipulação da opinião pública, no entanto, como guineense, interessou-me olhar para o assunto com mais pormenor, seriedade e expor o meu ponto de vista, que até ultrapassa a questão N’Batonha.

Desengane-se o guineense que julgar que a evidente politização e dicotomização da recente questão N’Batonha tem a ver com os interesses dos guineenses e da Guiné-Bissau!

N’Batonha foi utilizado por uns “abutres” do pais com capa de políticos e ONG’s “sem fins lucrativos”, para conseguirem um avultado financiamento da UE e do Instituto Camões, que deveria servir para a transformação dessa zona num parque tipo botânico, no coração de Bissau… O motivo pelo qual foi pedido e conseguido tal financiamento, é claramente de interesse nacional, pese embora haja ignorantes que hoje queiram separar o interesse ambiental do nacional! Pesquisando e lendo, pelo menos um estudo efetuado sobre esse espaço/lago, não deixa dúvidas que esse espaço é de elevado interesse ambiental e nacional, devendo as espécies que lá frequentam de forma sazonal serem protegidas e, contrariamente ao que tenho lido nalguns comentários, são na sua grande maioria espécies autóctones/residentes… Qualquer cidade que queira abraçar o desenvolvimento equilibrado, deve saber proteger a sua fauna e flora e não agredi-las e extingui-las.

No entanto, os ativistas/supostos ambientalistas que hoje vociferam contra a construção de um centro islâmico no local, nada fizeram antes para melhorar as condições de acessibilidade e utilização desse espaço. Limitaram-se a angariar os fundos e dar-lhe o destino que mais lhes interessava e não propriamente aquilo pelo qual foi conseguido o financiamento! Curiosamente, até atribuíram ao local o nome de PELN (Parque Europa Lagoa N’Batonha), em plena África, apenas para agradar os financiadores! É óbvio que todas essas manobras hoje contribui para retirar-lhes a autoridade da defesa do parque!

Por outro lado, temos os abutres que hoje povoam o poder guineense e que não vêm meios nem fins para angariar financiamentos, que garanta os próprios bem-estar, tudo sob a batuta de um Presidente da República que deu mostras de sobra de que não está minimamente preparado para o cargo, quando se trata de dirigir os destinos do país em moldes de um Estado de Direito democrático. O mais grave é que só um tolo não se apercebe da sua vontade de se prolongar no poder, estando desde já a preparar caminho para a efetivação desse prolongamento no poder, espezinhando a Constituição da República e o próprio Estado de Direito democrático… Conforme costumo dizer, até com a escravatura e a colonização, tivemos sempre guineenses a colaborar com essas agressões, apenas para a resolução dos seus problemas pessoais, contra os próprios interesses nacionais, assim como hoje, temos guineenses a colaborar com o evidente abuso do poder e um péssimo dirigismo do país, por um Presidente que aparentemente interessa-lhe mais o poder que o pais…

O Presidente da República descobriu a fórmula para o domínio do país de forma prolongada e há, neste momento, muitos potenciais vítimas desse desígnio, a colaborar com ele, apenas para obter ganhos imediatos, sem se aperceber que no futuro poderão ser vítimas… Dizia eu que o Presidente da República descobriu a fórmula e só consegue escondê-la de mentes menos atentas! Sabe que as duas maiores etnias da Guiné-Bissau são os Balantas e os Fulas e que em termos absolutos, essas duas etnias perfazem pouco mais dre 50% da população guineense. Os primeiros predominam nas Forças Armadas, fruto da sua representação na luta de libertação nacional, por isso, garantir o bem-estar da classe castrense é satisfazer uma boa fatia da população Balanta, apesar de conhecer muitos Balantas formados e informados que não pactuam com essa submissão da classe castrense à um Presidente da República que pode até constituir um perigo à unidade do nosso mosaico cultural... Dizia eu que o Presidente da República sabe que garantindo o bem-estar da classe castrense, minimiza muito o risco de sublevação militar e garante a satisfação de uma das tribos maioritária do país. Por outro lado, vai cumprindo com o seu principal desígnio que é a forte islamização da sociedade guineense, com o alto patrocínio dos movimentos islâmicos regionais, satisfazendo por isso, cerca de 45% da população guineense que pratica o islão… Nada tenho contra a esse desígnio, desde que não seja com agressões dos valores que a sociedade guineense tem perseguido e preservado desde a independência, que são essencialmente a convivência pacífica do nosso mosaico étnico, sem domínio de um sobre os outros e a proteção da nossa fauna e flora. É claramente nesse contexto de agradar a corrente islâmica nacional e regional que nasce esse projeto da construção de um Centro Islâmico no coração de Bissau, atropelando INTERESSES NACIONAIS, porque a nossa Avifauna faz parte do nosso património e só quem tem uma visão muito limitada do que é uma nação/Estado, agride-a em vez de protegê-la…

A pior exibição de ignorância que tenho visto por parte de algumas figuras envolvidas nessa discussão politizada e com carga étnica e religiosa, é a ridícula dicotomização dos destinos do Lago N’Batonha: “ou constrói-se um complexo que servirá o país ou N’Batonha é remetido ao abandono”, assumindo desde já clara incompetência ou até ignorância dos governantes em dar a esse local um digno destino que sempre se pretendeu e pelo qual já houve financiamento…

Também pergunto: porque é a insistência em construir esse tal complexo especificamente nesse espaço?! A cidade de Bissau não tem mais terrenos disponíveis?!

Segundo nos foi dito, quem financia a obra desse complexo é uma ONGD sem fins lucrativos! Se é uma ONGD sem fins lucrativos, os guineenses têm o direito de saber onde e como eles vão buscar o financiamento para a tal construção?

Porque é que ao tal Complexo já é atribuído o nome de um Imã turco falecido em Junho de 2022 e considerado apenas um dos muçulmanos mais influentes do mundo?! A Guiné-Bissau não tem Heróis Nacionais, mesmo muçulmanos, que poderiam ser honrados com a atribuição dos seus nomes nesse espaço?!

Segundo o Presidente da República, o complexo terá médicos especialistas de Oftalmologia a Medicina Interna! Pergunto, em que modalidades? Para servir toda a população guineense e em regime público ou privado, ou apenas para servir alguns ilustres muçulmanos?!

Concluo este texto dizendo que, na minha óptica, é por demais evidente que a construção desse Complexo Islâmico nada mais é que uma negociata do Presidente da República, semelhante à história da aeronave estacionada no aeroporto, em nome da Guiné-Bissau e do seu povo, apenas para cumprir a agenda dos seus financiadores islâmicos e dessa forma tentar prolongar-se no poder…

É chegada a hora dos guineenses dizerem um “BASTA” a este perigoso Presidente da República, se não querem vir chorar amanhã por não termos reagido à tempo… A Guiné-Bissau é e será para todos os seus filhos, independentemente da etnia, religião ou cor da pele… A nossa flora e fauna deve ser protegido, contra qualquer outros interesses de grupos ou religiosos… Isso já ultrapassou a questão ambiental e é do interesse nacional fazer perceber a este presidente que só é dono e senhor do país, se os guineenses quiserem e deixarem…


Nota: Os artigos assinados por amigos, colaboradores ou outros não vinculam a IBD, necessariamente, às opiniões neles expressas.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Confundir a autonomia da vontade com um imperativo ético, não é ético nem é ética

A parte que importa para o debate sobre a ética é a parte além da autonomia da vontade. É essa, precisamente essa, e apenas essa, que importa para se poder caracterizar a questão como ética.


 

A ética desde que existe que não se confunde com a autonomia da vontade. A ética exige a transcendência do indivíduo e das suas capacidades individuais. Por exemplo, em Espinoza lemos o esforço em fundamentar e dar sentido à ética, em Deus. Num Deus racional, matemático, lógico. Fundamentar a ética em Deus foi preocupação antiga da civilização onde nos inserimos; até a conseguirmos fundamentar e dar-lhe sentido, sem Deus. Feito este conseguido com Kant que a sintetizou numa regra de ouro que chamou de “imperativo categórico”.

A proposta kantiana realçou que a ética não precisa de ser fundamentada fora do indivíduo, em Deus, por exemplo, ou num elemento exógeno objetivado, como, por exemplo, um conceito como é o da “vida” e em especial “vida humana”.

A proposta kantiana é de encontrar formulações éticas no próprio indivíduo a partir da perspetiva de não ignorar o outro e de ter a empatia de obter deste outro informação que o determina a conformar o seu comportamento ao que concluí dever ser feito por si, enquanto indivíduo, e por qualquer outro indivíduo, naquela exata circunstância e informação.

A ética exige para ser ética. A ética não é apenas fonte de argumentos para suscitar adesão. A ética exige. A ética não apenas convence. A ética exige. Exige, desde logo, que o individuo se transcenda para além da sua materialidade e se situe numa consciência que envolva os seus semelhantes para esse indivíduo poder formular em si um juízo de si próprio, como se fosse visto por um terceiro. Concluindo com um “fizeste o que deveria ser feito por qualquer outro indivíduo naquela circunstância, com aquela informação”, o que por sua vez resulta em lenitivo, ou mesmo na absolvição, para a responsabilização no juízo da sua consciência e na dos demais.

A ética exige. A ética não recomenda. A ética exige que se o indivíduo não pretender condicionamentos próprios à sua autonomia de vontade que então não tenha ética!

A sacralização da autonomia da vontade sem peias nem freios é um sinal e sintoma de algo muito errado numa civilização e do caminho, sentido e direção, da sua “evolução”.

O ser humano que pretenda viver sem ética deve pretender também viver fora da civilização. O que resultaria em ser menos ou mais que um, mas não mais um, ser humano.

Evoluímos para os seres humanos que somos, necessária e intrinsecamente, pela civilização.

É um esforço do ser humano viver em civilização. O ser humano tem e terá sempre a impressão das características e impulsos da sua natureza que a psicanálise a descreve muito bem e que na história da mesma psicanálise vamos encontrar Freud que a dado momento escreve sobre o cinismo que é preciso ter para o indivíduo poder viver mentalmente são em civilização.

É deste esforço de civilização e de controlo da natureza do indivíduo que participa a ética.

A ética impõe. A ética não recomenda.

Há consideração ética na formação de um comportamento se o resultado dessa consideração for para o indivíduo a conclusão de que deve adotar, naquela circunstância, com aquela informação que dispõe, determinado comportamento. Não há ética se a conclusão não for um imperativo para esse indivíduo.

Há ética se essas considerações transcenderem o indivíduo. Não há ética se essas considerações se limitarem ao esclarecimento da vontade do próprio indivíduo ou mesmo, não há ética se não houver consideração nenhuma na formação do comportamento.

Não se legisla a ética, todavia não devemos reconhecer ética em considerações que transcendem o indivíduo, mas que não transcendem a realidade mundana. Devemos reservar o termo ética para as considerações que se fundamentam e encontram sentido para além do indivíduo e dos indivíduos. A essas considerações que transcendem o indivíduo, mas não os indivíduos, devem ser chamadas de económicas.

São as considerações que me suscitam, da confusão em debates que tenho observado a propósito da eutanásia, sobre a ética e autonomia da vontade.

Se a questão é ética, retire-se do debate a autonomia da vontade. A parte da ética que importa à autonomia da vontade é a já pressuposta na ética em si, a respeito do sujeito e da reflexão que o próprio faz ao seu comportamento. A parte que importa para o debate sobre a ética é a parte além da autonomia da vontade. É essa, precisamente essa, e apenas essa, que importa para se poder caracterizar a questão como ética. Ou pelo menos, para que se possa dizer que a ética foi preocupação da discussão.

Nota: Os artigos assinados por amigos, colaboradores ou outros não vinculam a IBD, necessariamente, às opiniões neles expressas.

sábado, 14 de maio de 2022

Amai-vos uns aos outros …

“A família é o santuário da vida e do amor, lugar da manifestação de «uma grande ternura, que não é a virtude dos fracos, antes pelo contrário denota fortaleza de ânimo e capacidade de solicitude, de compaixão, de verdadeira abertura ao outro, de amor. Não devemos ter medo da bondade, da ternura” 

Jesus, ao despedir-se dos discípulos, deixa-lhes em testamento o "mandamento novo: «Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei»". Este mandamento é uma síntese da Sua vida e um estatuto da comunidade cristã chamada a concretizar o projeto de Deus. Jo 13, 31-33a. 34-35

A recomendação feita por Jesus tem “sabores” muito ricos e plurais: testamento vital, espelho do amor mútuo a Deus seu Pai, núcleo fundamental e dinamismo permanente da comunidade cristã, credencial do testemunho dos discípulos, força e imperativo de humanização qualificada de toda a sociedade. Os momentos cruciais da vida de Jesus entram na “recta” final. É hora de abertura total, de confidências, de comunicação de “últimas” vontades. E o amor surge com toda a sua energia e amplitude. É um amor de entrega, de serviço, de perdão, de doação. A atestá-lo está a ceia de despedida, o lava-pés, o episódio de Judas.

Os discípulos de Jesus não são os depositários de uma doutrina, ou de uma ideologia, ou os observadores de leis, ou os fiéis cumpridores de ritos. Não. 

A recomendação feita comporta uma dupla novidade: ser discípulo é viver um amor recíproco, amor este que realiza, a seu modo, o próprio amor de salvação que Jesus irradia na sua missão. “Amai-vos” porque é a forma única de viverdes o amor que me tendes e que eu recebi de meu Pai. Este “vos” configura-se em muitos rostos humanos, dos quais se destacam o amor conjugal e familiar, as relações fraternas no seio da comunidade cristã que celebra a eucaristia. A “seiva” vitalizadora de todas as configurações é sempre o amor, amor de doação e de entrega. 

A história regista abundantes exemplos de homens e mulheres que fizeram da sua vida o projecto mobilizador do amor. Valha, a título de ilustração, o testemunho de Dom Hélder Câmara, bispo brasileiro, que relata a sua vocação a partir da conversa com o pai que era maçon. Desde muito novo, Hélder alimentava o sonho de ser padre. Um dia resolve dizê-lo ao pai que não se opõe, mas lhe faz algumas perguntas esclarecedoras: “Tu queres ser sacerdote? Mas sabes o que é que isso quer dizer? Padre e egoísmo não podem andar juntos: o padre é alguém que deve dar-se, dar-se sempre. Estás disposto a ser assim?”. Ele responde: “Mas é precisamente assim que eu quero ser!”. E acrescenta Dom Hélder, já bispo: “Mais, para que serve o cristão senão para se dar?!”. A sua resposta clara e decidida leva-o a assumir atitudes coerentes e corajosas em todas as situações de vida. 

O cristão está chamado a dar-se, sobretudo no amor conjugal e familiar. Esta vocação provém da fonte que é Deus, o criador da natureza, da cultura e da educação que encaminham a energia humana de atracção mútua e de apoio pessoal, da fé cristã que descobre e aprecia, no matrimónio, o apelo à colaboração com Deus, na obra da realização pessoal e da transmissão da vida e de serviço à humanidade. 

Afirmam os nossos bispos, citando o Papa Francisco, em recente mensagem sobre ‘a força da família em tempos de crise’: “A família é o santuário da vida e do amor, lugar da manifestação de «uma grande ternura, que não é a virtude dos fracos, antes pelo contrário denota fortaleza de ânimo e capacidade de solicitude, de compaixão, de verdadeira abertura ao outro, de amor. Não devemos ter medo da bondade, da ternura» ”.


quinta-feira, 24 de junho de 2021

Guiné-Bissau: Situação de verdadeiros combatentes vs. acto da justiça social

Graças a Deus ao ex-presidente Dr. José Mário Vaz, por ter ousadia em trazer para fora, à luz do dia, o conceito da quota étnica afinal que tem sido aplicado há tempo pelo PAIGC não somente nas FARP, neste caso concreto também ligado aos Antigos Combatentes.

A forma como foi definido pelos Grupinhos de Praça, que arrebataram o destino do País critérios para adjudicar o estatuto de combatentes da liberdade da pátria, foi claramente discriminatória, uma autêntica aplicação da quota étnica em relação aos balantas, que indubitavelmente foram a base da logística de Guerra durante 11 anos. Recorda-se que no período referido de Guerra não houve sequer um barco de importação de arroz para alimentar 5 mil tropas de Cabral. Foi todo um trabalho forçado imposto aos Balantas de Quinara e Tombali na maioria. A título de exemplo, estes funcionavam como os operacionais de logística na zona libertada na frente das batalhas (adolescente, mulheres e colaboradores nas aldeias).

Como tal, pela definição de na constituição da República, cabiam todos lá em primeira linha como combatentes da liberdade da Pátria. Mas tudo infelizmente foi maquiavelicamente omisso pelo PAIGC não Cabralista.

Por isso na zona zero, (onde a maioria mamavam com Tugas) introduziram no critério da escolha, suas variantes próprias a conveniência, sem observância do que está patente na carta magna relativamente sobre a definição dos Antigos Combatentes. Paradoxalmente, passando assim incluir até os colaboradores de Tugas, na mesma “tigela” com verdadeiros combatentes. Isto demonstra claramente a discriminação para uma determinada etnia, (uma forma de aplicação em pratica da balança de quota étnica) neste caso aquela que mais contribuiu em sacrifícios e vidas para conquista da nossa independência nacional. Em abono de verdade, as outras etnias, foram introduzidas como militantes não militarizados do PAIGC pós -Independência, desta forma adquirir o brilhante estatuto de Combatente da Liberdade da Pátria (Sr. Cadogo é um exemplo), deixando para fora muitos Quidelé na Ritchie nas aldeias de Quinara e Tombali, hoje como Combatentes desconhecidos e não reconhecidos pelo Estado da Guiné-Bissau, na maioria os Balantas, configurando mais uma vez um esquema fina de quotização étnica discriminatória contra os Balantas.

O mais grave, foi em 1994, quando então ministro do PAIGC, N'Djamba Mané, distribuiu, de uma forma criminoso, os cartões de combate na zona de Quinara (aos Biafadas e Mandingas), como forma de conseguir votos para PAIGC.

E mais, é que todos os documentos da luta, deviam ser retirados da posse do PAIGC, para ser arquivado como documentos que narram a história nacional da luta para implantação da República da Guiné-Bissau e Cabo-verde. Infelizmente até hoje, o PAIGC continua a emitir esses documentos para validar ou não quem ao seu bel-prazer deve ser combatente, o que devia ser resolvida na altura da abertura política democrática...

Solução devia ser a observância rigorosa das leis da República já existentes e adequá-las paulatinamente às necessidades emergentes e alguns ajustamentos aqui ou lá. Seria necessário desencadear um Processo de sensibilização para correção dos erros cometidos anteriormente e a assim redimensionar ou redefinir atribuição dos estatuto de combatentes da liberdade da pátria, envolvendo-se no processo, ciclos de conferências de explicações desde secções, sectores e regiões para identificar os combatentes injustiçados ainda desconhecidos.

Por, Wilrane Fernandes


quinta-feira, 20 de maio de 2021

A visita do Presidente de Portugal, Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, à Guiné-Bissau, foi uma visita histórica, sem retóricas nem complexos...

 Por, Escritor guineense, Fernando Casimiro

 

A visita do Presidente de Portugal, Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, à Guiné-Bissau, entre 17 e 18 de Maio de 2021, afinal, sempre serviu para, numa constatação factual, legitimar Verdades sobre Mentiras, relativamente ao Bloqueio da Guiné-Bissau entre 2015 aos dias de hoje, com repercussões na vida política, social e económica do país, mas também, e não menos importante, em prejuízo da Afirmação da Guiné-Bissau no Concerto das Nações!

 

Como é que o líder do maior partido político da Guiné-Bissau continua a querer ser o único dono de todas as Verdades e, consequentemente, merecedor de todas as Razões, face às suas derrotas políticas, pondo em causa as Instituições da República da Guiné-Bissau; Países Amigos e Parceiros da Guiné-Bissau, mas também, Chefes de Estado e Distintas Personalidades Mundiais?

 

Como querer ensinar Direito Constitucional e Direitos Humanos a um Professor Catedrático, jubilado, de Direito Constitucional, político e governante, experimentado; HOMEM HUMILDE, de CARÁCTER, POR EXCELÊNCIA; Presidente da República de Portugal, apenas e só, por ser ele mesmo e não quem alguém, habituado a manipular consciências, queria que fosse, em benefício dos seus interesses?

 

Porquê manipular e instrumentalizar cidadãos guineenses, dentro e fora de portas, contra o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, ignorando, por um lado, Portugal, que nunca fechou portas a nenhum Guineense e, por outro, o Pluralismo, a Diversidade, como sustentos da Democracia?

 

Onde está o Sentido de Estado?

 

Porquê a doentia pretensão de querer estar sempre acima da Guiné-Bissau, do Povo Guineense, e das Leis da República, em nome dos seus caprichos, quiçá, dos seus interesses?

 

Urge acabar com a estratégia encomendada e promovida por certos políticos guineenses contra o Progresso e o Bem-Estar do seu próprio Povo, que tem, muitas vezes apoio de órgãos de comunicação social públicos, de Países como Portugal, por exemplo, através da RTP- RDP-África! É preciso que o Presidente da República de Portugal saiba disso!

 

Urge condenar/repudiar o aproveitamento oportunista, dos Direitos Humanos e Fundamentais, por certos políticos, na instrumentalização de cidadãos e órgãos de comunicação social da Guiné-Bissau para provocações ao exercício do poder coercivo institucional, que incluem insultos e ameaças de morte ao Presidente da República, mas também, a todos os cidadãos que pensam diferente deles, para depois, condenarem as actuações das intervenções coercivas, por saberem que a intolerância aos insultos e às ameaças de morte na Guiné-Bissau por mais que se fale de Estado de Direito, continua a ser resolvida pela justiça das próprias mãos (e não do Estado), e em função do poder do mais forte.

 

Depois de se servirem de cidadãos como "carne para canhão", apressam-se a denunciar abusos e violações aos Direitos Humanos na Guiné-Bissau...

 

A história já é antiga, muito antiga, para continuarmos a deixar que o DIREITO ignore, ou, se sobreponha ao DEVER, numa perspectiva igualitária do RESPEITO por AMBOS, pelo CIDADÃO!

 

Pois bem, da visita de Estado: Históricas, DE FRATERNIDADE, AMIZADE E SEM COMPLEXOS, do Presidente da República de Portugal à Guiné-Bissau, eis algumas TESES que sustento, com convicção e que espero, venham a merecer estudos e desenvolvimentos políticos, sociais e outros, de gente dedicada à Academia do Conhecimento, mas também, de Políticos e Governantes Guineenses; de Países e Parceiros da Guiné-Bissau.

 

Vejamos, pois, as Teses que a seguir deixo à consideração dos meus leitores e, ou, dos interessados, entre Verdades e Mentiras, salvaguardando o Direito à Discordância, por via do Pluralismo!

 

1. A confirmação da Verdade de todas as verdades sobre o desígnio político-ideológico do PAIGC: "Se não estás connosco, é porque és contra nós". O Presidente da República de Portugal, Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, certamente não tinha conhecimento desta tese, mas creio que não ficará indiferente a esta constatação...!

 

2. A Mentira sobre a alegada defesa da Democracia e do Pluralismo Político-partidário; da Inclusão e da Tolerância, numa perspectiva de fazer da Política, uma Ferramenta/Ponte, de Comunicação e de Diálogo, visando servir o País e as Populações. Viu-se, vimos todos, e o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa também deve ter visto...

 

3. A Mentira sobre o Compromisso para com o País, a Guiné-Bissau, e com a Defesa do Interesse Nacional. Obviamente que não passou despercebido a ninguém "o virar de costas" dos mal-intencionados relativamente à Afirmação do seu País e, muito menos ao ilustre hóspede que a Guiné-Bissau acolheu como se fosse seu próprio filho e os Guineenses acolheram como se fosse irmão de sangue...

 

4. A verdade sobre a Mentira dos diversos "julgamentos" e "condenações" ao ex-Presidente da República da Guiné-Bissau, entre 2014 - 2019 tido como "único culpado" face às sucessivas crises em que um dos protagonistas, à época, continua a ser, nos dias de hoje, o promotor-mor de mais tentativas de bloqueio e desestabilização da Guiné-Bissau.

 

5. A Verdade sobre quem ordenou o bloqueio da Assembleia Nacional Popular durante a maior parte de toda uma legislatura, depois da sua exoneração do cargo de Primeiro-ministro em Agosto de 2015, passando a fazer "guerra" institucional aberta ao então Presidente da República da Guiné-Bissau, Dr. José Mário Vaz.

 

6. A Verdade sobre a Mentira, face à Manipulação e à Instrumentalização: política e social, sobre deturpações e falsas acusações relativamente à Guiné-Bissau, no intuito de atingir os rivais políticos.

 

7. A Verdade sobre o porquê de a CEDEAO, a União Africana, o Senegal, a Nigéria e Cabo-Verde, por exemplo, entre Organizações e Estados, passarem a ser acusados de serem "legitimadores" do Presidente da República eleito da Guiné-Bissau, General Umaro Sissoco Embaló. O Presidente da República de Portugal, Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa já está a par da inclusão de Portugal no lote de "legitimadores" do Presidente Sissoco Embaló... Provavelmente nunca lhe passou pela cabeça que, pessoas que se dizem conhecedoras da Política e do Direito, numa perspectiva científica, fossem tão vulgares academicamente falando, e espantosamente, admiráveis na sustentação do senso-comum.

 

Resumindo e concluindo:

A visita de Estado do Presidente da República de Portugal à Guiné-Bissau, trouxe à tona a Verdade sobre quem, de facto, quer que a Guiné-Bissau continue bloqueada, marginalizada, desrespeitada e excluída (face aos seus Direitos e aos seus DEVERES, enquanto ESTADO SOBERANO), no Concerto das Nações!

 

Numa perspectiva Social, esta visita veio confirmar que o Povo Guineense (não estou a falar das claques de "deuses políticos" e dos partidos políticos), precisa e merece ser ajudado!

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Festa de Todos os Santos

ALEGRAI-VOS E EXULTAI, DIZ O SENHOR

 

É apelo, que se faz convite e exortação, dirigido por Jesus aos discípulos, ao terminar o ensinamento sobre as bem-aventuranças. E a justificação vem logo a seguir: “Porque é grande, nos Céus, a vossa recompensa”.Mt 5, 1-12.

 

Os discípulos são aconselhados a viverem, na alegria exultante, as situações de difamação e insulto, de perseguição e enxovalho à sua dignidade; situações criadas “por minha causa”, por serem coerentes com as atitudes de Jesus, o divino Mestre; atentados provocados por quem não tolera mais o seu estilo de vida, o seu testemunho.

 

O quadro de referências está traçado, os termos são claros, é grande a provocação e maior o desafio. A novidade da proposta de realização feliz, de toda a pessoa, vai ser solenemente anunciada. No cimo da montanha, como outrora Moisés no Sinai, Jesus declara honoráveis os pobres, por decisão própria, os espoliados injustamente do seu nome e dos seus bens, os generosos voluntários da paz, os perseguidos por defenderam a justiça. A honorabilidade provém de Deus porque estas atitudes reflectem e concretizam as suas preferências e o seu agir, continuam, na história, o estilo de vida do seu Filho Jesus e vão-se configurando, no proceder de cada discípulo e de cada comunidade cristã.

 

“O que torna feliz uma existência, afirma o Irmão Roger, fundador da comunidade de Taizé, é avançar para a simplicidade: a simplicidade do nosso coração e da nossa vida. Para que uma vida seja feliz, não é indispensável ter capacidades extraordinárias ou grandes possibilidades: o dom humilde da própria pessoa torna-a feliz”.

 

A riqueza do homem é a sua pessoa e não o seu dinheiro. Optar por tudo o que ajude a pessoa a ser livre, a sentir-se sem quaisquer amarras, a estar disponível para partilhar o que tem, a não acumular e reter bens apenas para si, torna-se indispensável à saúde da nossa comum humanidade e à qualidade da nossa fé cristã. Quem o faz ou se esforça com seriedade, por o ir fazendo, está em sintonia com Deus, é feliz e beneficia da sua bênção. Choca, inevitavelmente, com uma sociedade baseada na ambição da riqueza, na ânsia do poder e da glória. E vê recaírem sobre si as mais diversas formas de descrédito, de humilhação, de espoliação, de acusação infame, de morte silenciada.

 

Quem a estas desonras responde com mansidão e pureza de intenções, de paciência sofrida e desejo sincero de justiça, de misericórdia benevolente, manifesta o proceder de Deus e “corre o véu” que tantas vezes oculta a sua presença entre nós e abre caminho à comunhão definitiva com Ele e com todos os que n’Ele se encontram. Participa, deste modo, na comunhão dos santos! Vive já uma nova realidade que no futuro contemplará em plenitude. “É uma multidão imensa, que ninguém pode contar de todas as nações, povos, tribos e línguas, confessa São João no Apocalipse. “São os que vieram da grande tribulação, os que lavaram as túnicas e as branquearam no sangue do Cordeiro”. São os santos de “ao pé da porta”: pais que criam os seus filhos com tanto amor, homens e mulheres que trabalham a fim de trazer o pão para casa, doentes, consagradas idosas que continuam a sorrir, exemplifica o. Papa Francisco.

 

Aspirar à santidade e ser santo, faz parte da realização plena da natureza humana, é fruto do amor de Deus por nós e do esforço de cada um e de todos para correspondermos a este amor enternecido que se humaniza de modos tão próximos e interpelantes.

 

“Por fim, escreve o Papa Francisco na homilia deste dia, gostaria de citar mais uma bem-aventurança, que não se encontra no Evangelho (deste domingo), mas na conclusão da Bíblia, e fala do final da vida: «Felizes os mortos que morrem no Senhor» (Ap 14, 13). Amanhã seremos chamados a acompanhar com a oração os nossos defuntos, para que rejubilem para sempre no Senhor. Recordemos com gratidão os nossos queridos e oremos por eles”.