Assim
começa a resposta que Jesus dá aos enviados de João. “Ide contar o que vedes e
ouvis”. João estava na cadeia onde chegam notícias contrastantes com o que
havia anunciado. E tem dúvidas, como é normal. Quer esclarecer e procurar a
verdade. Não deixa que a cadeia lhe aprisione o espírito nem limite a
liberdade. Não deixa adormecer a pergunta inquietante nem se inibe face ao
preconceito que mina a confiança. Fiel a si mesmo, honesto e decidido, quer
saber e encarrega os seus discípulos de buscarem a resposta desejada. Que belo
exemplo nos dá!
O
contraste é claro. João anuncia o reino prestes a chegar e urge a conversão com
palavras duras, metáforas de amedrontar as “raças de víboras”, invectivas
fortes aos palradores que “dizem e não fazem”, ameaças terríveis de castigos
iminentes, apelos gritantes ao arrependimento e à correspondente mudança de
atitudes. O “juízo de Deus” vai iniciar-se.
O
estilo de Jesus surge como resposta velada à pergunta preocupada de João.
Acolhe os cegos e abre-lhes os olhos. Aproxima-se dos coxos e restitui-lhes a
liberdade de movimentos. Escuta a súplica dos leprosos e estes ficam limpos da
doença que marginaliza e rói a dignidade humana. Toca os ouvidos dos surdos e
estes abrem-se à realidade nova da escuta que relaciona e insere no vasto
horizonte comunicacional. Visita as famílias com defuntos, reza por eles e
ordena-lhes que regressem à vida terrena, ao convívio dos seus. Que desafio nos
lança o estilo de Jesus!
O
contraste é flagrante e desconcertante: João ameaça com a ira divina, com
castigos inclementes; Jesus liberta de medos, cura as feridas da vida, estende
as mãos benfazejas a desconsiderados social e religiosamente. Este seu proceder
desvenda um rosto diferente de Deus e da sua relação connosco. Quem não se
sente atraído pelo amor que Deus nos tem e, espontaneamente, deseja
corresponder-lhe?
A
novidade de Jesus não anula a missão de João, mas re-situa-a no evoluir
histórico do projecto de Deus. É um projecto em dinamismo crescente de
realização. João correspondeu a uma etapa e, nela, é o maior dos humanos. Ele é
mensageiro que prepara, voz que anuncia, pregoeiro que vai à-frente, profeta de
tempos novos que se avizinham. Cumprida a sua missão, cessa funções. A promessa
faz-se realidade: O anunciado chegou e a palavra tem nome.
Deus
está aí. Discreto, mas solícito. Silencioso, mas interveniente. “Ferido”, mas
sanador. Peregrino e companheiro no tempo, mas “dono” da casa de família onde
acolhe em alegre festim todos os que souberam caminhar com Ele e aceitar o
ritmo do seu amor.
Georgino
Rocha
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