sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

“Ide contar o que vedes e ouvis”



Assim começa a resposta que Jesus dá aos enviados de João. “Ide contar o que vedes e ouvis”. João estava na cadeia onde chegam notícias contrastantes com o que havia anunciado. E tem dúvidas, como é normal. Quer esclarecer e procurar a verdade. Não deixa que a cadeia lhe aprisione o espírito nem limite a liberdade. Não deixa adormecer a pergunta inquietante nem se inibe face ao preconceito que mina a confiança. Fiel a si mesmo, honesto e decidido, quer saber e encarrega os seus discípulos de buscarem a resposta desejada. Que belo exemplo nos dá!

O contraste é claro. João anuncia o reino prestes a chegar e urge a conversão com palavras duras, metáforas de amedrontar as “raças de víboras”, invectivas fortes aos palradores que “dizem e não fazem”, ameaças terríveis de castigos iminentes, apelos gritantes ao arrependimento e à correspondente mudança de atitudes. O “juízo de Deus” vai iniciar-se.

O estilo de Jesus surge como resposta velada à pergunta preocupada de João. Acolhe os cegos e abre-lhes os olhos. Aproxima-se dos coxos e restitui-lhes a liberdade de movimentos. Escuta a súplica dos leprosos e estes ficam limpos da doença que marginaliza e rói a dignidade humana. Toca os ouvidos dos surdos e estes abrem-se à realidade nova da escuta que relaciona e insere no vasto horizonte comunicacional. Visita as famílias com defuntos, reza por eles e ordena-lhes que regressem à vida terrena, ao convívio dos seus. Que desafio nos lança o estilo de Jesus!

O contraste é flagrante e desconcertante: João ameaça com a ira divina, com castigos inclementes; Jesus liberta de medos, cura as feridas da vida, estende as mãos benfazejas a desconsiderados social e religiosamente. Este seu proceder desvenda um rosto diferente de Deus e da sua relação connosco. Quem não se sente atraído pelo amor que Deus nos tem e, espontaneamente, deseja corresponder-lhe?

A novidade de Jesus não anula a missão de João, mas re-situa-a no evoluir histórico do projecto de Deus. É um projecto em dinamismo crescente de realização. João correspondeu a uma etapa e, nela, é o maior dos humanos. Ele é mensageiro que prepara, voz que anuncia, pregoeiro que vai à-frente, profeta de tempos novos que se avizinham. Cumprida a sua missão, cessa funções. A promessa faz-se realidade: O anunciado chegou e a palavra tem nome.

Deus está aí. Discreto, mas solícito. Silencioso, mas interveniente. “Ferido”, mas sanador. Peregrino e companheiro no tempo, mas “dono” da casa de família onde acolhe em alegre festim todos os que souberam caminhar com Ele e aceitar o ritmo do seu amor.

Georgino Rocha

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