A vida tem destes momentos: altos e baixos. E sem
altos e baixos ela simplesmente não existe. Os acontecimentos que ocorrem no
país constituem os compassos das circunstâncias que representam aquilo que é a
vida da pátria, no fundo de todos os guineenses e amigos da Guiné-Bissau. É o
amor no seu expoente máximo porque se sente até ao âmago do nosso ser.
Depois da desgraça: a Euforia
Passamos de sentimentos de desgraçados, de
pertencentes ao país de golpistas e irmãos desavindos aos eufóricos irmãos,
tendo como pano do fundo, as palavras do dia: terra ranka. Na verdade, temos
valores e não devemos baixar-nos perante ninguém. Nada de anormal se tomamos em
conta que a euforia é o estado normal pelo qual passa quem possuído pela
alegria, manifestando assim o seu entusiasmo exacerbado.
Nada além do normal ou que os guineenses não
mereçam. Martirizados pelos sucessivos acontecimentos negativos, somos hoje um
povo ansioso pelo orgulho e concretizações. Um povo que teimosamente renova a
acalentada esperança em cada resposta acertada: actos que consubstanciam
responsabilidades dos nossos dirigentes passaram a ser encarados como heróicos
– é o pagamento de salário atempado, aceitação de resultados eleitorais ou, o
sonho, da submissão dos militares a poder político. Tudo isso é demonstrativo da
situação atípico em que o país se encontra.
Tem sido uma enorme alegria assistir a transformação
espiritual que ocorre no seio dos guineenses. Na Guiné-Bissau a democracia não
é um sistema, é sim uma cultura, com os prejuízos de uma cultura no meio da desorganização.
Não, não estamos a escrever sob o efeito de nenhuma euforia, antes com a
sapiência de quem procura partilhar outra perspectiva diferente da exaltação. É
impossível condenar quem entusiasmado por uma governação medíocre, mas melhor
de tudo que conhecera antes, viu-se afundado numa outra de ruina completa e com
pessoas a quem não reconhece legitimidade porque resulta de um golpe militar.
Urge, no entanto, salientar que a Guiné-Bissau hoje a escassos passos de ter
autoridades legítimas, não pode ser automaticamente um país de sucesso.
A este propósito há dias, durante apresentação de
filme Cabralista, que tive prazer de estar entre promotores o Eng.º Domingos
Simões Pereira, Presidente do PAIGC e futuro Primeiro-Ministro ao usar da
palavra citou um filósofo alemão que na sua carta aos irmãos europeus afirma
“quando uma revolução ou transformação social promete ser completamente
positiva cria automaticamente condição para tal revolução não resultar em
nada”.
Anotações pertinentes
Os ventos de entusiasmo mostram-se amigos da nossa
fatigada pátria:
Uma eleição exemplar com intervenientes a demonstrar vontade de mudança na postura e atitude quanto à vontade popular;Os militares a prometerem submissão ao poder político;Chuva a cair mais cedo e em maior quantidade que normal para esta época do ano;E a nossa selecção nacional a competir a nível internacional.
E melhor que isso só falta a paz e a estabilidade
para construirmos o desenvolvimento almejado por todos.
Ora o que almejamos não se decreta, nem se obtêm sem
um engajamento de todas as forças vivas da nação. Por aqui denoto a
inteligência da citação do futuro primeiro-ministro, que outrora me surpreendeu
ao aceitar assumir tamanha de responsabilidade esplanada no outdoor da campanha
fixada na sede do PAIGC onde se lê DSP – Domingos Salvador do Povo. Ora
defendemos que o povo deve-se salvar no sol e com o seu suor. A construção
nacional é uma tarefa de todos e, sem dúvida, os que estão nos lugares cimeiros
devem saber interpretar “Si bu sta dianti na luta”, a célebre canção histórica
da Guiné-Bissau.
Não é, no entanto, aceitável que fiemos no labor de
JOMAV e DSP sem a nossa aplicação e suor. Não podemos crer que a chuva por si
só é sinónimo da boa colheita. De igual modo, não podemos crer que a nossa
selecção vai chegar ao CAN15 só porque o Presidente da Federação assim o
decreta. O progresso resulta de trabalho árduo de todos e nenhum caminho se faz
sem quedas e imprevistos.
Reconciliação ou organização
Os caminhos da vida mostra-nos experiências de
reconciliação de África de Sul e são capazes de fazer-nos apaixonarmos por essa
dinâmica de perdão colectiva. E sobre a reconciliação nacional tem evoluído a
perspectiva que defendemos como mais ajustado para o país.
Se no início essa reconciliação era total, ela
passou agora para aquela que se dirige para uma camada mais específica da
sociedade: os militares e os políticos.
Contudo, hoje em dia, uma ideia assalta a nossa
posição: a de que estamos simplesmente carentes de uma organização das coisas.
A Guiné-Bissau precisa de um poder forte para o Estado como é desígnio de que
qualquer outro Estado do mundo, um Poder Judicial independente e organizado, um
povo consciente e exigente. Estes e outros elementos constituem ingredientes necessários
para a existência de um Estado funcional e uma sociedade sã e em paz. Lá para
além da reconhecida euforia, a nossa reconciliação tem que passar pela criação
de condições para um país real, mesmo que continuemos com a mesma alegria,
resultante da nossa caracterítica de um povo alegre.
Nota: Os artigos assinados por amigos, colaboradores ou outros não vinculam a IBD, necessariamente, às opiniões neles expressas.
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