Por, Alexandre Martins
no Publico
Incêndio no maior depósito de combustível da
capital, Trípoli, está fora de controlo. Governo português aconselhou todos os
portugueses a saírem do país.
O relógio para a descida da Líbia até
ao caos generalizado está em contagem decrescente e cada vez mais perto do
ponto de não retorno. As constantes batalhas entre as inúmeras milícias que em
tempos lutaram lado a lado para derrubar a ditadura de Muammar Khadafi
provocaram nas últimas horas um incêndio no maior depósito de combustível da
capital, Trípoli, que já levou as frágeis autoridades locais a pedirem ajuda
internacional.
Um
dos tanques do depósito de Trípoli, que é operado por uma subsidiária da
Companhia Nacional de Petróleo (CNP), foi atingido no domingo por um rocket
disparado por uma das milícias que lutam pelo controlo do aeroporto da
cidade.
Para já, a prioridade é controlar o
incêndio, que poderá causar "um desastre humanitário e ambiental",
segundo um comunicado do Governo líbio, liderado pelo primeiro-ministro
interino Abdullah Al-Thani. "Vários países expressaram a sua
disponibilidade para enviarem aviões e equipas de especialistas em apagar as
chamas", lê-se no mesmo documento, que descreve o caso como "um
desastre com consequências imprevisíveis".
Ao longo de segunda-feira, o
desespero provocado pela falta de meios dos bombeiros e as dificuldades
agravadas pelos combates entre as milícias rivais levaram o Governo a pedir
ajuda à população, num apelo dirigido a todos os que tenham acesso a veículos
ou depósitos de água, relatou a correspondente da BBC na Líbia, Rana Jawad.
A mesma jornalista avançou mais
tarde, através
da sua conta no Twitter, que um segundo tanque do depósito tinha sido
atingido, o que levou os bombeiros a afastarem-se do local sem terem conseguido
controlar o primeiro incêndio. "Agora está tudo nas mãos de Deus",
citou a correspondente da BBC, avançado depois que a alegada disponibilidade de
"vários países" para ajudarem no combate ao incêndio não estava a
concretizar-se: "Porta-voz da CNP diz-me que o depósito ainda está a ser
atingido – a comunidade internacional não vai enviar aviões para apagar as
chamas."
O depósito está localizado na
principal estrada de acesso ao aeroporto de Trípoli, que tem sido palco nas últimas
duas semanas de violentos confrontos entre as milícias rivais. A luta pelo
controlo do aeroporto – que actualmente é pouco mais do que uma sucata repleta
de aviões destroçados pelos combates – é um dos pontos vitais para o futuro
próximo da Líbia, com vários responsáveis do Governo a anteciparem a
"desagregação"do país se não for possível parar essa batalha.
De um lado estão grupos islamistas
como as brigadas da antiga cidade rebelde de Misrata. Do outro, um grupo
heterogéneo de forças que tem vindo a alinhar com Khalifa Haftar, um antigo
general que lançou, à revelia do Governo, um ataque contra grupos de islamistas
radicais que actuam em Bengasi.
Com
a situação a agravar-se de dia para dia, vários países já avisaram os seus
cidadãos que devem sair da Líbia o mais depressa possível, enquanto ainda há
meios e rotas que o permitem. Os Estados Unidos, o Reino Unido, a
Alemanha e França desaconselham os seus cidadãos a permanecerem no país, e as
Nações Unidas mandaram retirar o seu pessoal diplomático.
O Governo português não fez um apelo
público à saída dos cidadãos portugueses, mas a situação está a ser acompanhada
pela embaixada em Trípoli — numa nota publicada
no Portal das Comunidades Portuguesas, lê-se que "face aos últimos
acontecimentos (...) desaconselham-se todas as viagens para a Líbia até a
situação estar desanuviada".
Contactada pelo PÚBLICO, a assessora
de imprensa do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Maria Francisca Seabra, disse
que a embaixada em Trípoli "contactou, nos últimos dias, os portugueses
residentes no país, tendo colaborado — no âmbito das suas competências — para a
saída do território dos portugueses que solicitaram esse apoio".
O secretário de Estado das Comunidades,
José Cesário, disse ao PÚBLICO que todos os portugueses que trabalham ou
residem na Líbia "foram aconselhados a sair" do país. O responsável
disse que a embaixada está em contacto com os portugueses e que a maioria dos
trabalhadores já saiu do país.
A esse número — que o secretário de
Estado estima rondar "uma centena" — somam-se "mais três que
poderão sair nas próximas horas". Quanto à dezena de portugueses que
residem na Líbia, José Césario disse que os contactos continuam, sem
informações que apontem para a sua saída do país.
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