A chegada de Barack Obama, o primeiro afro-americano
eleito presidente dos Estados Unidos, à Casa Branca em 2009 suscitou grandes
expectativas em África, expectativas que poderão ser confirmadas na cimeira
EUA/África que Washington acolhe na próxima semana.
Após seis anos na presidência norte-americana, Obama
vai reunir, entre 04 e 06 de agosto, os líderes do continente africano para uma
cimeira que visa, entre outros aspetos, reforçar as relações económicas com uma
região que é fortemente cortejada por outro gigante mundial, a China.
Da Etiópia à Nigéria, passando pelos países
africanos de língua oficial portuguesa (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau,
Moçambique e São Tomé e Príncipe), 50 chefes de Estado ou de governo foram
convidados para estar em Washington, pela primeira vez na história americana,
independentemente da prática de valores democráticos e da defesa dos direitos
humanos.
Para justificar a decisão de convidar quase todos os
líderes africanos, a Casa Branca afirmou que convidou todos aqueles que
"têm boas relações com os Estados Unidos e a União Africana (UA)".
Entre os que ficaram de fora está a Eritreia, país
que está a ser alvo de sanções por parte da ONU, o Sudão, devido ao seu
Presidente Omar al-Bashir (acusado pelo Tribunal Penal Internacional de crimes
de guerra e contra a humanidade) e o Zimbabué, cujo chefe de Estado, Robert
Mugabe, está sujeito a sanções norte-americanas. Igualmente de fora está a
República Centro Africana, em guerra civil e liderada por uma presidente de
transição, que está suspensa da UA.
Para memória futura ficará seguramente a fotografia
de família do encontro em torno do 44.º Presidente norte-americano, cujo pai é
originário do Quénia.
Sobre os resultados concretos desta primeira cimeira
EUA/África, sob o lema "Investir na próxima geração", as
interrogações são várias, tendo em conta que Obama, pelo menos durante o primeiro
mandato presidencial, esteve sempre mais direcionado para o continente asiático
do que para África.
As ameaças que pesam sobre o continente africano --
os ataques do movimento radical islâmico Boko Haram na Nigéria, a guerra civil
no Sudão do Sul ou as ofensivas dos rebeldes 'shebab' somalis no Quénia -, vão
ser necessariamente abordadas.
Mas, a agenda do encontro poderá vir a ser dominada
pela epidemia do Ébola.
A epidemia, que foi declarada no início do ano na
Guiné-Conacri, já fez 729 mortos na África Ocidental (Guiné-Conacri, Serra
Leoa, Libéria, Nigéria).
O surto de febre hemorrágica poderá propagar-se
"como um incêndio florestal", alertaram as autoridades sanitárias
norte-americanas. Na sexta-feira, o Departamento de Estado norte-americano anunciou
que estava a preparar o processo de evacuação médica de dois cidadãos que
tinham sido infetados com o vírus Ébola.
O Presidente da Serra Leoa, Ernest Bai Koroma,
decretou na quinta-feira o estado de emergência perante um "desafio
excecional" e anunciou que não estará em Washington.
A chefe de Estado liberiana, Ellen Sirleaf Johnson,
que ordenou o encerramento de "todas as escolas", também não irá
participar na cimeira.
Na quinta-feira à noite, um responsável
norte-americano anunciou igualmente que o novo Presidente egípcio, Abdel Fattah
al-Sissi, e o rei de Marrocos Mohammed VI também não irão deslocar-se à capital
federal norte-americana, sem avançar os motivos da ausência.
Apesar destas questões, a cimeira terá uma forte
componente económica, com um programa centrado nas oportunidades de um
continente onde 60% da população tem menos de 35 anos e com perspetivas de crescimento
superiores ao resto do mundo (5,4% este ano e 5,8% para 2015, segundo o Fundo
Monetário Internacional).
"Vejo África como o próximo grande caso de
sucesso mundial e os Estados Unidos querem ser um parceiro desse sucesso",
declarou Obama há um ano quando realizou um périplo por três países africanos
(Senegal, África do Sul e Tanzânia).
Na altura, especialistas afirmaram que o objetivo da
viagem era "demonstrar aos governos africanos e aos seus cidadãos que os
Estados Unidos estavam empenhados em reencontrarem-se com eles" e
"explicar porque os Estados Unidos podem ser bons parceiros de
África" em comparação com outros, como é o caso da China ou da União
Europeia.
Evocando uma imagem de uma África frequentemente
associada "aos conflitos, à doença e à pobreza", a conselheira para a
Segurança Nacional, Susan Rice, reconheceu na quarta-feira que os EUA têm
"ainda muito trabalho para tentar mudar uma visão ultrapassada na qual
África é muitas vezes marginalizada".
Já para Deborah Brautigam, que dirige o departamento
China Africa Research Initiative (CARI), na Universidade Johns-Hopkins
(Maryland), esta cimeira é uma resposta à fulgurante ofensiva de Pequim.
"É difícil de interpretar de outro modo, mesmo
porque é o mesmo método que foi usado pelos chineses", disse a
especialista, recordando, no entanto, que o Fórum de Cooperação Sino-Africana,
organizado em 2006 em Pequim, foi precedido de seis anos de intenso trabalho.
O comércio entre o continente africano e a China
ultrapassou os 200 mil milhões de dólares (cerca de 150 mil milhões de euros)
em 2013 pela primeira vez, tornando a China no maior parceiro comercial de
África.
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