sábado, 2 de agosto de 2014

Barack Obama convida África para Washington



A chegada de Barack Obama, o primeiro afro-americano eleito presidente dos Estados Unidos, à Casa Branca em 2009 suscitou grandes expectativas em África, expectativas que poderão ser confirmadas na cimeira EUA/África que Washington acolhe na próxima semana.

Após seis anos na presidência norte-americana, Obama vai reunir, entre 04 e 06 de agosto, os líderes do continente africano para uma cimeira que visa, entre outros aspetos, reforçar as relações económicas com uma região que é fortemente cortejada por outro gigante mundial, a China.

Da Etiópia à Nigéria, passando pelos países africanos de língua oficial portuguesa (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe), 50 chefes de Estado ou de governo foram convidados para estar em Washington, pela primeira vez na história americana, independentemente da prática de valores democráticos e da defesa dos direitos humanos.

Para justificar a decisão de convidar quase todos os líderes africanos, a Casa Branca afirmou que convidou todos aqueles que "têm boas relações com os Estados Unidos e a União Africana (UA)".

Entre os que ficaram de fora está a Eritreia, país que está a ser alvo de sanções por parte da ONU, o Sudão, devido ao seu Presidente Omar al-Bashir (acusado pelo Tribunal Penal Internacional de crimes de guerra e contra a humanidade) e o Zimbabué, cujo chefe de Estado, Robert Mugabe, está sujeito a sanções norte-americanas. Igualmente de fora está a República Centro Africana, em guerra civil e liderada por uma presidente de transição, que está suspensa da UA.

Para memória futura ficará seguramente a fotografia de família do encontro em torno do 44.º Presidente norte-americano, cujo pai é originário do Quénia.

Sobre os resultados concretos desta primeira cimeira EUA/África, sob o lema "Investir na próxima geração", as interrogações são várias, tendo em conta que Obama, pelo menos durante o primeiro mandato presidencial, esteve sempre mais direcionado para o continente asiático do que para África.

As ameaças que pesam sobre o continente africano -- os ataques do movimento radical islâmico Boko Haram na Nigéria, a guerra civil no Sudão do Sul ou as ofensivas dos rebeldes 'shebab' somalis no Quénia -, vão ser necessariamente abordadas.

Mas, a agenda do encontro poderá vir a ser dominada pela epidemia do Ébola.

A epidemia, que foi declarada no início do ano na Guiné-Conacri, já fez 729 mortos na África Ocidental (Guiné-Conacri, Serra Leoa, Libéria, Nigéria).

O surto de febre hemorrágica poderá propagar-se "como um incêndio florestal", alertaram as autoridades sanitárias norte-americanas. Na sexta-feira, o Departamento de Estado norte-americano anunciou que estava a preparar o processo de evacuação médica de dois cidadãos que tinham sido infetados com o vírus Ébola.

O Presidente da Serra Leoa, Ernest Bai Koroma, decretou na quinta-feira o estado de emergência perante um "desafio excecional" e anunciou que não estará em Washington.

A chefe de Estado liberiana, Ellen Sirleaf Johnson, que ordenou o encerramento de "todas as escolas", também não irá participar na cimeira.

Na quinta-feira à noite, um responsável norte-americano anunciou igualmente que o novo Presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sissi, e o rei de Marrocos Mohammed VI também não irão deslocar-se à capital federal norte-americana, sem avançar os motivos da ausência.

Apesar destas questões, a cimeira terá uma forte componente económica, com um programa centrado nas oportunidades de um continente onde 60% da população tem menos de 35 anos e com perspetivas de crescimento superiores ao resto do mundo (5,4% este ano e 5,8% para 2015, segundo o Fundo Monetário Internacional).

"Vejo África como o próximo grande caso de sucesso mundial e os Estados Unidos querem ser um parceiro desse sucesso", declarou Obama há um ano quando realizou um périplo por três países africanos (Senegal, África do Sul e Tanzânia).

Na altura, especialistas afirmaram que o objetivo da viagem era "demonstrar aos governos africanos e aos seus cidadãos que os Estados Unidos estavam empenhados em reencontrarem-se com eles" e "explicar porque os Estados Unidos podem ser bons parceiros de África" em comparação com outros, como é o caso da China ou da União Europeia.

Evocando uma imagem de uma África frequentemente associada "aos conflitos, à doença e à pobreza", a conselheira para a Segurança Nacional, Susan Rice, reconheceu na quarta-feira que os EUA têm "ainda muito trabalho para tentar mudar uma visão ultrapassada na qual África é muitas vezes marginalizada".

Já para Deborah Brautigam, que dirige o departamento China Africa Research Initiative (CARI), na Universidade Johns-Hopkins (Maryland), esta cimeira é uma resposta à fulgurante ofensiva de Pequim.

"É difícil de interpretar de outro modo, mesmo porque é o mesmo método que foi usado pelos chineses", disse a especialista, recordando, no entanto, que o Fórum de Cooperação Sino-Africana, organizado em 2006 em Pequim, foi precedido de seis anos de intenso trabalho.

O comércio entre o continente africano e a China ultrapassou os 200 mil milhões de dólares (cerca de 150 mil milhões de euros) em 2013 pela primeira vez, tornando a China no maior parceiro comercial de África.

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