Argentina, Chile, Equador e Uruguai não perderam
tempo em enviar os embaixadores ao Kremlin para fechar acordos agrícolas,
poucas horas depois da Rússia anunciar o embargo de um ano a produtos
agroalimentares da União Europeia (UE). A rapidez diplomática latino-americana
para entrar no mercado russo, e substituir os produtos europeus, incomoda cada
vez mais Bruxelas, à medida que outros países como o gigante Brasil piscam o
olho a Moscovo. “Vamos falar com os países e esperar que não tirem benefícios
injustos”, disse um responsável europeu ao Financial Times. A UE e o bloco
Mercosul avançam a passos largos para assinar um acordo comercial – um processo
que dura há duas décadas e está mais frágil desde que UE e EUA começaram a
conversar sobre um tratado comercial transatlântico. Por enquanto ninguém em
Bruxelas arrisca cruzar os dois dossiers.
A Comissão Barroso classifica de “desleal” a jogada latino-americana
na Rússia e a Polónia estuda abrir um processo na Organização Mundial do
Comércio (OMC) contra Moscovo pelo embargo – apesar de ser uma resposta russa
às sanções aprovadas pela UE e EUA pela crise ucraniana. “Podemos entender que
empresas privadas, produtoras e exportadoras, procurem novas oportunidades. O
que não vemos com bons olhos é que estejam governos por detrás”, sublinhou
fonte comunitária ao El País. Nos encontros com os países latino-americanos, a
UE vai apelar para que reconsiderem novos contratos com um parceiro “tão pouco
fiável” como a Rússia. Mas na região o desconforto europeu é menos prioritário
do que a oportunidade do mercado russo de 143 milhões de habitantes e, cujo
sector agroalimentar deixado vago pela UE vale cerca de 11 mil milhões de euros
por ano.
“A Argentina gerará condições para que o sector
privado, com o impulso do Estado, possa satisfazer a procura do mercado russo”,
disse fonte oficial do governo argentino. Bruxelas tem motivos para estar
preocupada. A Rússia eliminou interdições sanitárias a 89 empresas brasileiras
de carne e 18 empresas de processamento de peixe do Peru. O governo brasileiro
autorizou já 90 unidades de produção a exportar frango, bife e porco para a
Rússia. “O mais importante para os exportadores brasileiros é ganhar este
mercado, e mantê-lo quando expirar o embargo de um ano”, avançou José Augusto
Castro, presidente da Associação Brasileira do Comércio Externo. Castro estima
que o Brasil facture mais 370 milhões de euros com novas exportações para a
Rússia. Na frente interna, Bruxelas tem ainda de lidar com o descontentamento
dos agricultores europeus.
Amanhã, o executivo europeu deve iniciar contactos
com os governos dos 28 para avaliar o impacto do embargo russo e eventuais
indemnizações. O fundo de compensação agrícola está dotado de 400 milhões de
euros.Para começar, a UE anunciou ontem o apoio a produtores de pêssegos e
nectarinas, aos quais vai comprar 10% da produção e distribuí-la de graça pelas
escolas, hospitais e prisões. O comissário europeu da Agricultura, Dacian Cios,
estima que a ajuda aos produtores europeus de fruta custe cerca de 30 milhões
de euros.
//Economico
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