quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Embargo russo abre “guerra” entre Bruxelas e América Latina



A UE está incomodada pela rapidez dos governos latino-americanos em fechar acordos com o Kremlin.

Argentina, Chile, Equador e Uruguai não perderam tempo em enviar os embaixadores ao Kremlin para fechar acordos agrícolas, poucas horas depois da Rússia anunciar o embargo de um ano a produtos agroalimentares da União Europeia (UE). A rapidez diplomática latino-americana para entrar no mercado russo, e substituir os produtos europeus, incomoda cada vez mais Bruxelas, à medida que outros países como o gigante Brasil piscam o olho a Moscovo. “Vamos falar com os países e esperar que não tirem benefícios injustos”, disse um responsável europeu ao Financial Times. A UE e o bloco Mercosul avançam a passos largos para assinar um acordo comercial – um processo que dura há duas décadas e está mais frágil desde que UE e EUA começaram a conversar sobre um tratado comercial transatlântico. Por enquanto ninguém em Bruxelas arrisca cruzar os dois dossiers.

A Comissão Barroso classifica de “desleal” a jogada latino-americana na Rússia e a Polónia estuda abrir um processo na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra Moscovo pelo embargo – apesar de ser uma resposta russa às sanções aprovadas pela UE e EUA pela crise ucraniana. “Podemos entender que empresas privadas, produtoras e exportadoras, procurem novas oportunidades. O que não vemos com bons olhos é que estejam governos por detrás”, sublinhou fonte comunitária ao El País. Nos encontros com os países latino-americanos, a UE vai apelar para que reconsiderem novos contratos com um parceiro “tão pouco fiável” como a Rússia. Mas na região o desconforto europeu é menos prioritário do que a oportunidade do mercado russo de 143 milhões de habitantes e, cujo sector agroalimentar deixado vago pela UE vale cerca de 11 mil milhões de euros por ano.

“A Argentina gerará condições para que o sector privado, com o impulso do Estado, possa satisfazer a procura do mercado russo”, disse fonte oficial do governo argentino. Bruxelas tem motivos para estar preocupada. A Rússia eliminou interdições sanitárias a 89 empresas brasileiras de carne e 18 empresas de processamento de peixe do Peru. O governo brasileiro autorizou já 90 unidades de produção a exportar frango, bife e porco para a Rússia. “O mais importante para os exportadores brasileiros é ganhar este mercado, e mantê-lo quando expirar o embargo de um ano”, avançou José Augusto Castro, presidente da Associação Brasileira do Comércio Externo. Castro estima que o Brasil facture mais 370 milhões de euros com novas exportações para a Rússia. Na frente interna, Bruxelas tem ainda de lidar com o descontentamento dos agricultores europeus.

Amanhã, o executivo europeu deve iniciar contactos com os governos dos 28 para avaliar o impacto do embargo russo e eventuais indemnizações. O fundo de compensação agrícola está dotado de 400 milhões de euros.Para começar, a UE anunciou ontem o apoio a produtores de pêssegos e nectarinas, aos quais vai comprar 10% da produção e distribuí-la de graça pelas escolas, hospitais e prisões. O comissário europeu da Agricultura, Dacian Cios, estima que a ajuda aos produtores europeus de fruta custe cerca de 30 milhões de euros.

//Economico

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