terça-feira, 12 de agosto de 2014

Guiné – Bissau, materiais utilizados no hospital são dos anos 60



Por,Filomeno Sambú
No Odemocrata

O diretor do Serviço de Cuidados Intensivos do Hospital Nacional Simão Mendes, Mboma Sanca, afirmou na passada terça-feira, que a situação higiénica do único centro hospitalar de referência nacional “está muito mal”, porque quem faz esse serviço já não tem condições físicas para o fazer. No entendimento do médico, torna urgente contratar uma empresa de limpeza para se ocupar desse serviço “desde os imóveis até às salas de tratamento dos doentes e de internamento, ou seja tudo o que toca com o hospital”, referiu.

“Para além das condições higiénicas do hospital que não são das melhores, os hospitais em si confrontam-se com problemas de bactérias e infeções, que são próprios dos hospitais. Essas bactérias aproveitam dos medicamentos e os antibióticos usados no hospital para sua alimentação” explica.

Na mesma entrevista, o médico revela que os materiais utilizados até hoje no maior centro hospitalar no país são dos anos sessenta (60), sublinhando que “há situações em que as enfermeiras fazem partos sem luvas e médicos observam os doentes sem luvas” o que na sua opinião “ constitui um crime”.

Para Mboma Sanca, os mecanismos para mudar a tendência de os doentes continuarem a ir ao hospital e sair com infeção, passa pelo tratamento dos doentes. Todavia, avança que, “esse não é o caso dos nossos hospitais em que pessoa vai ao hospital e depois leva para casa o que não tem”, referiu.

Assegurou que na Guiné-Bissau é recorrente os doentes saírem dos hospitais para casa com “ graves problemas ligados ao pneumonia e broncopneumonia” devido à falta de controlo das infeções hospitalares.

“Há dois tipos de infeções: Umas adquiridas nas comunidades e outras nos centros hospitalares. Aquelas adquiridas nos hospitais são mais agressivas e mortais do que as outras das comunidades, por isso é fundamental controlar as infeções, fazer testes, proceder às limpezas das salas e a manutenção dos catetes, fontes onde as bactérias facilmente penetram para causar danos às vidas humanas”, notou.

O responsável pelo Serviço dos Cuidados Intensivos do Hospital Nacional Simão Mendes avisa por isso que, caso esses cuidados não forem doravante tidos em conta “ estaremos a permitir mais a evolução das doenças do que travá-las”.

Ele lembra que a medicina é a tecnologia e que as coisas mudam em função das evoluções que se vão operando na área” as próprias bactérias também evoluem sistematicamente”.

“No nosso caso, temos por exemplo, estufas utilizados para a esterilização dos materiais no bloco operatório, são de anos sessenta (60), ou seja a situação é praticamente idêntica, quando faz referência a outros setores do hospital”, sublinha Mboma.

Neste sentido, defende que o Governo deve engajar-se seriamente, porquanto o combate a essas infeções ou de outros males à saúde não depende em grande medida dos médicos, das parteiras nem de quem trabalha no hospital, mas sim do Ministério da Saúde, enquanto instituição que tutela a área. “ Quem manda vir os medicamentos e os materiais é o Ministério”, indicou.

O nosso entrevistado acusa ainda o Ministério da Saúde de falta de política virada ao hospital, enquanto “ rosto da Guiné-Bissau”.

Enumerando as dificuldades que o maior centro hospitalar do país enfrenta, o médico fala da falta de água e da eletricidade, consideradas necessidades básicas para tratamento eficaz dos doentes. Asseverou ainda que no caso do hospital Simão Mendes, os médicos chegam a operar doentes sem uma bata especializada e por mais incrível que pareça, as batas utilizadas não são conservadas em perfeitas condições. “Um médico do bloco operatório chaga a operar doente e depois sai a movimentar com a mesma bata na rua, o que significa transportar a infeção para doente”, explica.

Quanto ao surto de Ébola que assola a vizinha República da Guiné-Conacri e mais três países da sub-região (Libéria, Serra-Leoa e a Nigéria), o médico diz que não acredita na capacidade de resposta do hospital face a uma eventual entrada da epidemia no país, porque “simplesmente nada está ser feito nesse sentido”, justificou, dando exemplo da Nigéria, um “ gigante” na costa, mas que já teve casos resultantes do Ébola, pelo que esse seria o momento ideal de o país começar a tomar medidas necessárias para uma eventual situação de emergência, contudo notou que o novo executivo está sensibilizado sobre o assunto.

1 comentário :

  1. Se o próprio sistema de informação hospitalar não funcionar é impossível controlar qualquer que seja situação do hospital.
    Há muito tempo que muitos me tomam como "persona não grata" pelo facto de defender instalações e utilização de sistema de informação hospitalar para facilitar controlo de atividades sejam de âmbito clínica, administrativa e financeira dos hospitais. Peço desculpas por aparecer mais uma vez para chatear cabeças de muitos. É apenas querer melhorar o que inclui vida de todos nós.

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