A antiga atleta internacional que outrora
representava o país nas grandes pistas do atletismo ao nível mundial, Domingas
Embana Togna, disse, numa entrevista exclusiva ao nosso semanário, que não merece
“ser abandonada pelo Estado da Guiné-Bissau”.
Esta especialista de meia maratona, que trouxe ao
país de Cabral a taça de ouro, em 2007, numa prova de meia maratona de 21
quilómetros realizada em Dakar (Senegal), concedeu uma entrevista a’O
Democrata, na passada terça-feira, para falar da sua atual situação de vida.
Togna, que deixou as pistas de atletismo em 2008 com grandes triunfos para o
país, encontra-se numa situação de miséria e de abandono total.
A nossa reportagem deslocou-se até o bairro de Antula
Bono, onde a ex-atleta faz atividade de escavação de pedra e de apanha-areia
para comercializar. Vimos uma mulher sentada numa pedra grande com um ferro na
mão a quebrar pedrinhas para depois revendê-las aos clientes.
A mulher que avistamos, com roupas rotas no corpo,
tratava-se da antiga medalha de ouro, que igualmente representou o país nas
grandes competições internacionais de atletismo. Domingas Togna Embana disse a
nossa reportagem, que atualmente este é o trabalho que faz para garantir a
sobrevivência da sua família, já que ninguém se lembra dela ou daquilo que fez
para a Guiné-Bissau.
Togna Embana assegurou que por aquilo que fez no
passado para o país, pelo menos que lhe permitissem fazer parte da equipa de
federação de atletismo, no sentido de poder ganhar alguma coisa para garantir a
sua sobrevivência. Sustentou ainda que pode não ter a formação superior, mas,
conforme disse, pode orientar as atletas femininas tendo em conta a sua
experiência.
Assegurou que no momento atravessa uma situação muito
difícil que nem sequer pode imaginar. Acrescentando ainda que uma pessoa que
ganhou várias medalhas ao serviço do país, hoje transformou-se numa escavadeira
de pedra e de apanha-areia.
“Confesso que sinto uma dor no coração. Mas estou a
levar a vida desta forma, mas também era actividade que eu exercia no passado
para comprar os calçados que usava para o treino naquele período. Uma vez
cheguei a pensar que resolveria o meu problema com o atletismo, por isso
esforcei bastante para conquistar os trofeus e medalhas. Agora estou aqui mais
uma vez a escavar a pedra para sobreviver. Não pedi ao Estado que me dê tudo,
mas pelo menos que me valorize, que me trate como alguém que um dia trouxe algo
de bom para o país”, espelhou tristemente a ex-atleta.
Lembrou, neste particular, que falou aos seus
familiares que ia fingir que morreu, para ver se os responsáveis da federação
de atletismo e os dirigentes do país iam fazer alguma coisa para o seu choro.
Todavia, avançou que chegou aquele ponto devido os problemas que enfrenta na
vida, ou seja, por causa de abandono total em que se encontra.
Indagado se arrependeu de ter representado o país
nas competições internacionais, respondeu que não se arrependeu de nada,
porque, independentemente de correr para o país, ela gosta do atletismo.
“Gosto de atletismo e sinto que é uma coisa que está
no meu sangue. Mesmo se for chamada hoje digo que estou em condições de correr,
como também conseguir bons resultados. Posso fazer isso, mas estou com medo de
servir mais este país. Fiz tudo para levar a bandeira do nosso país ao mais
alto nível, mas o pago foi o abandono e desprezo”, lamentou a antiga atleta.
Domingas Togna Embana contou que tem um filho de
onze anos que, a semelhança da mãe, gosta de atletismo, e que tem uma grande
potencialidade. Acrescentou ainda que o seu sonho era ver o seu filho a correr,
mas, devido àquilo que lhe aconteceu, o seu marido recusou que o menino
seguisse esse caminho.
Domingas erguendo a taça de ouro ganha em Dakar
Domingas Embana Togna inicou a carreira de atletismo em 1996 e no mesmo ano
representou o país nos jogos Olímpicos. Em 2006, participou nos jogos da
lusofonia em Macau. No mesmo ano, representou a Guiné-Bissau na Maratona dos
países Africanos organizada no Senegal (Dakar), onde ficou em primeiro lugar,
ganhando uma taça de ouro.
Em 2007, participou na meia maratona de vinte e um
(21) quilómetros, organizada em Argélia. Neste ano ainda, participou na meia
maratona de quarente e dois (42) quilómetros, em Japão. Em 2008, participou nos
jogos Olímpicos, em China (Pequim).
Em 1996, venceu uma corrida na categoria juvenil
organizada pela Cooperação Francesa. Recebeu como prémio fato de treno, copos e
óculos. No mesmo ano, venceu a corrida escolar, em 100 metros, e recebeu como
prémio medalha de prata. Em 2004, venceu a corrida escolar e recebeu como
prémio um aparelho de Rádio de dez pilhas. Em 2005, venceu a corrida de Safim –
império (Bissau) 21 km, recebeu como prémio uma bicicleta. Em 2006, venceu meia
maratona de Safim – império organizada pela MTN (21 km), recebeu como prémio um
Televisor. No mesmo ano, venceu a corrida organizada pela federação de
Atletismo 16 km, recebendo o prémio um Televisor. Finalmente, em 2007, venceu
Meeting realizado na Guiné-Bissau, onde participaram cinco países de
sub-região, na categoria de mil e quinhentos metros. Recebeu a medalha de ouro.
//Odemocrata
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