sábado, 2 de agosto de 2014

Guiné-Bissau, Não mereço ser abandonada pelo estado da Guiné-Bissau”


A antiga atleta internacional que outrora representava o país nas grandes pistas do atletismo ao nível mundial, Domingas Embana Togna, disse, numa entrevista exclusiva ao nosso semanário, que não merece “ser abandonada pelo Estado da Guiné-Bissau”.

Esta especialista de meia maratona, que trouxe ao país de Cabral a taça de ouro, em 2007, numa prova de meia maratona de 21 quilómetros realizada em Dakar (Senegal), concedeu uma entrevista a’O Democrata, na passada terça-feira, para falar da sua atual situação de vida. Togna, que deixou as pistas de atletismo em 2008 com grandes triunfos para o país, encontra-se numa situação de miséria e de abandono total.

A nossa reportagem deslocou-se até o bairro de Antula Bono, onde a ex-atleta faz atividade de escavação de pedra e de apanha-areia para comercializar. Vimos uma mulher sentada numa pedra grande com um ferro na mão a quebrar pedrinhas para depois revendê-las aos clientes.

A mulher que avistamos, com roupas rotas no corpo, tratava-se da antiga medalha de ouro, que igualmente representou o país nas grandes competições internacionais de atletismo. Domingas Togna Embana disse a nossa reportagem, que atualmente este é o trabalho que faz para garantir a sobrevivência da sua família, já que ninguém se lembra dela ou daquilo que fez para a Guiné-Bissau.

Togna Embana assegurou que por aquilo que fez no passado para o país, pelo menos que lhe permitissem fazer parte da equipa de federação de atletismo, no sentido de poder ganhar alguma coisa para garantir a sua sobrevivência. Sustentou ainda que pode não ter a formação superior, mas, conforme disse, pode orientar as atletas femininas tendo em conta a sua experiência.

Assegurou que no momento atravessa uma situação muito difícil que nem sequer pode imaginar. Acrescentando ainda que uma pessoa que ganhou várias medalhas ao serviço do país, hoje transformou-se numa escavadeira de pedra e de apanha-areia.

“Confesso que sinto uma dor no coração. Mas estou a levar a vida desta forma, mas também era actividade que eu exercia no passado para comprar os calçados que usava para o treino naquele período. Uma vez cheguei a pensar que resolveria o meu problema com o atletismo, por isso esforcei bastante para conquistar os trofeus e medalhas. Agora estou aqui mais uma vez a escavar a pedra para sobreviver. Não pedi ao Estado que me dê tudo, mas pelo menos que me valorize, que me trate como alguém que um dia trouxe algo de bom para o país”, espelhou tristemente a ex-atleta.

Lembrou, neste particular, que falou aos seus familiares que ia fingir que morreu, para ver se os responsáveis da federação de atletismo e os dirigentes do país iam fazer alguma coisa para o seu choro. Todavia, avançou que chegou aquele ponto devido os problemas que enfrenta na vida, ou seja, por causa de abandono total em que se encontra.

Indagado se arrependeu de ter representado o país nas competições internacionais, respondeu que não se arrependeu de nada, porque, independentemente de correr para o país, ela gosta do atletismo.

“Gosto de atletismo e sinto que é uma coisa que está no meu sangue. Mesmo se for chamada hoje digo que estou em condições de correr, como também conseguir bons resultados. Posso fazer isso, mas estou com medo de servir mais este país. Fiz tudo para levar a bandeira do nosso país ao mais alto nível, mas o pago foi o abandono e desprezo”, lamentou a antiga atleta.

Domingas Togna Embana contou que tem um filho de onze anos que, a semelhança da mãe, gosta de atletismo, e que tem uma grande potencialidade. Acrescentou ainda que o seu sonho era ver o seu filho a correr, mas, devido àquilo que lhe aconteceu, o seu marido recusou que o menino seguisse esse caminho.

Domingas erguendo a taça de ouro ganha em Dakar Domingas Embana Togna inicou a carreira de atletismo em 1996 e no mesmo ano representou o país nos jogos Olímpicos. Em 2006, participou nos jogos da lusofonia em Macau. No mesmo ano, representou a Guiné-Bissau na Maratona dos países Africanos organizada no Senegal (Dakar), onde ficou em primeiro lugar, ganhando uma taça de ouro.

Em 2007, participou na meia maratona de vinte e um (21) quilómetros, organizada em Argélia. Neste ano ainda, participou na meia maratona de quarente e dois (42) quilómetros, em Japão. Em 2008, participou nos jogos Olímpicos, em China (Pequim).

Em 1996, venceu uma corrida na categoria juvenil organizada pela Cooperação Francesa. Recebeu como prémio fato de treno, copos e óculos. No mesmo ano, venceu a corrida escolar, em 100 metros, e recebeu como prémio medalha de prata. Em 2004, venceu a corrida escolar e recebeu como prémio um aparelho de Rádio de dez pilhas. Em 2005, venceu a corrida de Safim – império (Bissau) 21 km, recebeu como prémio uma bicicleta. Em 2006, venceu meia maratona de Safim – império organizada pela MTN (21 km), recebeu como prémio um Televisor. No mesmo ano, venceu a corrida organizada pela federação de Atletismo 16 km, recebendo o prémio um Televisor. Finalmente, em 2007, venceu Meeting realizado na Guiné-Bissau, onde participaram cinco países de sub-região, na categoria de mil e quinhentos metros. Recebeu a medalha de ouro.

//Odemocrata

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