Esperava-se um documento conjunto ao
final da noite, mas as negociações sobre a guerra na Ucrânia entraram noite
dentro e podem prosseguir esta quinta-feira.
Um aperto de mão breve e tão frio como
uma noite de Inverno em Minsk foi o máximo que os líderes da Rússia e da
Ucrânia conseguiram mostrar ao mundo no arranque de uma maratona negocial que
se esperava longa e complicada.
Já de madrugada, cinco horas depois do
início da cimeira na capital da Bielorrússia que é também uma das últimas
tentativas para pôr fim à guerra no Leste da Ucrânia, o ministro dos Negócios
Estrangeiros russo veio dizer que as conversas estavam a ser muito positivas,
mas o mundo teria de esperar mais umas horas para conhecer os resultados.
A contrastar com o optimismo de Lavrov,
o Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão usava a sua conta no Twitter para
resumir o que se passava na reunião, sete horas depois dos primeiros
cumprimentos: “Conversações sobre a Ucrânia não estão fáceis e prosseguem. O
ministro Steinmeier continua em Minsk a participar nas negociações e adia
partida planeada para o Brasil.”
À chegada ao Palácio da Independência –
a residência oficial do Presidente Alexander Lukashenko, transformado em
improvável mediador de paz na Europa depois de ter sido visado por sanções da
União Europeia na última década –, os líderes da Alemanha, de França, da Rússia
e da Ucrânia estiveram duas horas reunidos num salão, num aquecimento para a
cimeira que se seguiu, e que contou com a presença dos respectivos ministros
dos Negócios Estrangeiros.
As imagens do encontro captaram toda a
tensão que embrulhou as conversas – Angela Merkel e François Hollande sentados
lado a lado, no mesmo sofá; Vladimir Putin e Petro Poroshenko cada um na sua
cadeira, talvez para facilitar um cruzamento de olhares que raramente
aconteceu.
Ao mesmo tempo que os quatro líderes
trocavam as primeiras impressões, um grupo de representantes da Rússia, da
Ucrânia e da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa continuava as
discussões que tinham começado na terça-feira, e que chegaram a prometer um
acordo de cessar-fogo imediato. Ao longo de quarta-feira, o representante dos
rebeldes pró-russos da autoproclamada República Popular de Donetsk, Denis
Pushilin, veio refrear as expectativas, dizendo que ainda era cedo para falar
nisso.
Ao fim da noite de quarta-feira, parecia
ganhar forma a ideia de que a declaração final da cimeira de Minsk iria ficar
aquém de um passo decisivo para o fim da guerra no Leste da Ucrânia, apesar do
envolvimento pessoal de dois dos mais importantes líderes internacionais – a
chanceler alemã e o Presidente francês.
O mais provável é que o documento
conjunto não vá muito além do que já tinha sido acordado em Setembro do ano
passado – o reconhecimento da integridade territorial e da soberania da
Ucrânia; um pedido de maior autonomia para o território controlado pelos
separatistas pró-russos; um cessar-fogo imediato; e o estabelecimento de uma
zona desmilitarizada para impedir que as partes em conflito consigam atacar-se.
Os pontos mais sensíveis são a
delimitação da zona conquistada pelos rebeldes pró-russos e o futuro estatuto
político dessa região.
Para os separatistas, qualquer acordo
que seja alcançado em Minsk deve reconhecer como suas as cidades conquistadas
desde o primeiro acordo, assinado há cinco meses; para o Governo de Kiev, essa
reivindicação é inaceitável, e as partes devem trabalhar em cima do mapa que
existia em Setembro, quando os separatistas tinham menos território.
Mas a principal dor de cabeça é a
questão do futuro estatuto político, que é talvez o único ponto que nem a
intervenção da Rússia poderá resolver facilmente – Kiev aceita conceder uma
certa autonomia e Moscovo sobe a parada para uma federalização, mas os
separatistas não exigem menos do que a independência.
Pelas declarações ao canal Vesti 24 do
presidente do parlamento da autoproclamada República Popular de Donetsk, Denis
Pushilin, percebe-se que há margem para um acordo, desde que esse acordo esteja
mais colado ao memorando assinado em Setembro – e que acabou por não ser
cumprido – do que a um documento que obrigue os separatistas pró-russos a
fazerem concessões significativas. A ideia de alargar a zona desmilitarizada
dos iniciais 30 quilómetros previstos em Setembro para entre 50 e 70
quilómetros é “um compromisso possível”, mas quanto à exigência de separação
total da Ucrânia, nem um pequeno sinal de mudança.
//Publico
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