quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Uma noite em Minsk com horas a mais e soluções a menos

Esperava-se um documento conjunto ao final da noite, mas as negociações sobre a guerra na Ucrânia entraram noite dentro e podem prosseguir esta quinta-feira.

Um aperto de mão breve e tão frio como uma noite de Inverno em Minsk foi o máximo que os líderes da Rússia e da Ucrânia conseguiram mostrar ao mundo no arranque de uma maratona negocial que se esperava longa e complicada.

Já de madrugada, cinco horas depois do início da cimeira na capital da Bielorrússia que é também uma das últimas tentativas para pôr fim à guerra no Leste da Ucrânia, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo veio dizer que as conversas estavam a ser muito positivas, mas o mundo teria de esperar mais umas horas para conhecer os resultados.

A contrastar com o optimismo de Lavrov, o Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão usava a sua conta no Twitter para resumir o que se passava na reunião, sete horas depois dos primeiros cumprimentos: “Conversações sobre a Ucrânia não estão fáceis e prosseguem. O ministro Steinmeier continua em Minsk a participar nas negociações e adia partida planeada para o Brasil.”

À chegada ao Palácio da Independência – a residência oficial do Presidente Alexander Lukashenko, transformado em improvável mediador de paz na Europa depois de ter sido visado por sanções da União Europeia na última década –, os líderes da Alemanha, de França, da Rússia e da Ucrânia estiveram duas horas reunidos num salão, num aquecimento para a cimeira que se seguiu, e que contou com a presença dos respectivos ministros dos Negócios Estrangeiros.

As imagens do encontro captaram toda a tensão que embrulhou as conversas – Angela Merkel e François Hollande sentados lado a lado, no mesmo sofá; Vladimir Putin e Petro Poroshenko cada um na sua cadeira, talvez para facilitar um cruzamento de olhares que raramente aconteceu.

Ao mesmo tempo que os quatro líderes trocavam as primeiras impressões, um grupo de representantes da Rússia, da Ucrânia e da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa continuava as discussões que tinham começado na terça-feira, e que chegaram a prometer um acordo de cessar-fogo imediato. Ao longo de quarta-feira, o representante dos rebeldes pró-russos da autoproclamada República Popular de Donetsk, Denis Pushilin, veio refrear as expectativas, dizendo que ainda era cedo para falar nisso.

Ao fim da noite de quarta-feira, parecia ganhar forma a ideia de que a declaração final da cimeira de Minsk iria ficar aquém de um passo decisivo para o fim da guerra no Leste da Ucrânia, apesar do envolvimento pessoal de dois dos mais importantes líderes internacionais – a chanceler alemã e o Presidente francês.

O mais provável é que o documento conjunto não vá muito além do que já tinha sido acordado em Setembro do ano passado – o reconhecimento da integridade territorial e da soberania da Ucrânia; um pedido de maior autonomia para o território controlado pelos separatistas pró-russos; um cessar-fogo imediato; e o estabelecimento de uma zona desmilitarizada para impedir que as partes em conflito consigam atacar-se.

Os pontos mais sensíveis são a delimitação da zona conquistada pelos rebeldes pró-russos e o futuro estatuto político dessa região.

Para os separatistas, qualquer acordo que seja alcançado em Minsk deve reconhecer como suas as cidades conquistadas desde o primeiro acordo, assinado há cinco meses; para o Governo de Kiev, essa reivindicação é inaceitável, e as partes devem trabalhar em cima do mapa que existia em Setembro, quando os separatistas tinham menos território.

Mas a principal dor de cabeça é a questão do futuro estatuto político, que é talvez o único ponto que nem a intervenção da Rússia poderá resolver facilmente – Kiev aceita conceder uma certa autonomia e Moscovo sobe a parada para uma federalização, mas os separatistas não exigem menos do que a independência.

Pelas declarações ao canal Vesti 24 do presidente do parlamento da autoproclamada República Popular de Donetsk, Denis Pushilin, percebe-se que há margem para um acordo, desde que esse acordo esteja mais colado ao memorando assinado em Setembro – e que acabou por não ser cumprido – do que a um documento que obrigue os separatistas pró-russos a fazerem concessões significativas. A ideia de alargar a zona desmilitarizada dos iniciais 30 quilómetros previstos em Setembro para entre 50 e 70 quilómetros é “um compromisso possível”, mas quanto à exigência de separação total da Ucrânia, nem um pequeno sinal de mudança.


//Publico

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