quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Que solução para a Guiné-Bissau?

Editorial de jornalista, António Nhaga, no Odemocrata

Nos últimos meses, a Guiné-Bissau tem vivido situações atípicas que transformaram o país num dos mais ingovernáveis do mundo.

Nenhum partido político vencedor das eleições legislativas concluiu o seu mandato. Tudo porque o maior desporto dos guineenses é matar ou fazer mal uns aos outros. Ninguém reconhece a legitimidade e qualidade a ninguém. Mesmo aqueles que não sabem fazer nada na vida, só porque falam muito alto nas costas da comunidade internacional que tem pactuado com os senhores da fala barata para afundar o país, julgam que são os únicos capazes de conduzir os destinos do país.

Todos querem o tacho. Claro. Por isso, todos pretendem que o país seja sempre governado por um tal governo de desacordo de Conacri onde todos podem meter a mão no “saco azul”, sem responsabilidade.

Se o país estruturalmente vive bem com um governo de desacordo de Conacri, então não vale a pena fazermos eleições legislativas. Pois seria uma prova inequívoca de que somos capazes de chegar a um desacordo de Conacri na escolha de quem dirige os nossos destinos políticos e sociais sem celeuma.

O que prova também que poderíamos evitar gastar dinheiro nas eleições legislativas. Pois a nossa maturidade política nos permitiria escolher entre nós quem é capaz de dirigir os nossos destinos.

O governo de desacordo de Conacri é mais para o inglês ver. Não passa de mais um malabarismo de um grupo de indivíduos organizados que sempre julgaram e julgam que são “Chico Esperto” do país e só eles é que podem governar a pátria de Cabral.

Não é possível, num país como o nosso, formar um verdadeiro governo de desacordo de Conacri na amálgama da intriga, onde o maior desporto dos homens é bater uns nos outros com todos os meios possíveis: veneno, Djambacus e mouros.

Em suma, num país onde a competência epistémica está fora dos elementos essenciais da estruturação da convivência política, económica e social, é difícil alcançar verdadeiros consensos. Todos os artefactos que podem ser considerados de unidade nacional são efémeros e o seu desenlaço desemboca sempre nos casos atípicos como naqueles em que o país viveu nos últimos meses.

A única solução para acabar com casos atípicos na Guiné-Bissau é responsabilizarmos um grupo de pessoas honestas – que na verdade são raras de encontrar – pela gestão dos destinos do nosso país. Caso contrário, estamos a enganar uns aos outros com discurso semiotizado cujo quadrado é desconhecido pela maioria da nossa população.

Na verdade, num país de traidores, nada é verdade ou mentira. Tudo é conforme a cor dos óculos com que cada um está a ver a nossa realidade. Ninguém sabe que a verdade é o que é, e continuará a ser verdade mesmo que pensemos ao contrário.

Num país onde não se debate nada que possa ser útil à vida social dos seus habitantes, é difícil falar em consenso e na unidade nacional. Pois, a destribalização dos elementos da mentalidade interna que reforçam a produção da consciência epistemológica nacional, estão completamente atrofiados com álcool e gosto pelo dinheiro frio da intriga.

Na verdade é bom criar um fórum estruturante para repensar epistemologicamente os vectores candentes que permitam reiniciar uma nova dinâmica política e social para o desenvolvimento da Guiné-Bissau.


Figurinos para formação de um governo de inclusão andam por aí a solta e os exemplos não nos faltam. Podemos até copiar os modelos em África. Mas, infelizmente, também não sabemos copiar. Sempre copiamos mal os modelos estruturantes para o desenvolvimento da nossa sociedade. Até quando!?

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