João, a testemunha de Jesus, está no rio
Jordão com as numerosas pessoas que tinham escutado o seu apelo. Arrependidas,
querem receber o batismo da penitência por meio do rito da água purificadora.
Provindos da outra margem, chegam também sacerdotes e levitas enviados pelos judeus
de Jerusalém. São uma espécie de inquiridores, uma delegação credenciada para
averiguar o que estava a acontecer, a começar pela identidade de João. E as
perguntas, claras e directas, surgem de imediato. E a justificação, também:
“Dar uma resposta àqueles que nos enviaram”. Não vinham por sua iniciativa nem
agem por conta própria; são mandatados pelos notáveis da cidade e funcionários
do Templo; pelos que estavam bem com a situação.
João responde com grande transparência.
Faz brilhar a luz de quem é testemunha. Afirma que é a voz e não a palavra nem
o profeta, que apenas baptiza na água, que “vai chegar Alguém depois de mim”. E
lança o apelo/desafio: “Conhecei-o porque Ele está no meio de vós”. E na sua
simplicidade e modéstia, brilha a grandeza da missão do “homem enviado por
Deus”, como atesta o início do texto hoje proclamado na liturgia.
O relato do Evangelho não desvenda a
reacção dos sacerdotes e levitas. Mas não é difícil de imaginar. Seria um misto
de desconforto e perplexidade, de preocupação interpelante e de curiosa
expectativa. Menos ainda se fica a saber a atitude dos judeus de Jerusalém
depois de receberem a informação. Para o narrador isso não interessa, pois quer
centrar o leitor no núcleo da mensagem e não oferecer motivos de dispersão. “Alguém
está no meio de Vós”. João é a testemunha. O local da ocorrência é Betânia,
além do Jordão. É preciso reconhecê-lo.
A certeza de que Jesus está no meio de
nós, ainda que de forma anónima e despercebida, desperta um duplo sentimento: O
da alegria que preenche o coração humano e o inunda de esperança; e o da busca
que a consciência iluminada pela fé está chamada a fazer. São estes os
alicerces que a liturgia de hoje pretende realçar e celebrar.
A alegria tem a sua fonte primeira no
encontro pessoal com Jesus Cristo, no diálogo de amizade consequente, na
aceitação dos seus ensinamentos, no seguimento do seu estilo de vida. A
consciência, que quer ser livre e agir responsavelmente, precisa da “alavanca”
da verdade e do amor, da compreensão de si e da relação correcta com os outros
e seus contextos culturais e sociais. E fica-nos o apelo/convite: “Alguém está
no meio de vós”, isto é no santuário da consciência pessoal e comunitária,
familiar e colectiva onde predomina o bom senso e o bem comum. Por isso, fazei
silêncio no vosso coração. Há tantos ruídos a habitar-nos. Sobretudo em certos
ambientes. Protegei-vos para O reconhecer e escutar. Com Ele, é mais fácil
perceber que as vozes do tempo são portadoras de aspirações genuínas onde
ressoa o Espírito de Deus. E, como João, sede testemunhas da luz, sempre pronta
a irradiar. Há tanta treva a semear confusão.
“O mais grandioso que pode fazer um ser
humano neste mundo, afirma J. M. Castillo, é ser testemunha de Jesus, dizer com
a própria forma de vida que Jesus é a esperança que nos resta e o futuro que
temos”.
Ser testemunha é ver “como a terra faz
brotar os germes e o jardim germinar as sementes” e descobrir: “Assim o Senhor
Deus fará brotar a justiça e o louvor diante de todas as nações”, afirma Isaías
na primeira leitura.
A certeza de que o Senhor está connosco
e realiza o que promete, leva o salmista a exultar de alegria e a fazer-nos
rezar o hino de Maria de Nazaré, a Senhora do Advento, a Mãe de Jesus que vai
chegar no Natal que se aproxima. E com esta oração singular, a contemplar o
modo de agir de Deus que realiza a salvação de cada pessoa e de toda a
humanidade a partir dos humildes em relação a si, dos mansos (activos não
violentos) em relação aos outros e às injustiças, dos famintos de dignidade que,
reconhecida e assumida, visa derrubar as estruturas do poder opressor e
transformar a ordem estabelecida para que brilhe a fraternidade humana e a
harmonia da criação.
Escuta o apelo de João. Medita na
atitude de Maria. Descobre e reconhece que Jesus está no meio de nós e quer
agir connosco e por nós.
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