sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Trump ameaça cortar ajuda a países que votaram contra os EUA

“Recebem centenas de milhões de dólares e até milhares de milhões de dólares (…) Deixe-os votar contra nós. Vamos poupar muito. Não nos importamos”, afirmou o Presidente norte-americano

O Presidente dos EUA lançou esta quarta-feira um sério aviso aos Estados-membros da ONU que tencionam apoiar uma resolução que condena o reconhecimento norte-americano de Jerusalém como capital de Israel, ameaçando cortar a ajuda financeira atribuída por Washington.

“Vamos tomar nota dos votos”, disse Donald Trump, em declarações na Casa Branca, em Washington, na véspera de uma votação na Assembleia-geral da ONU de um texto contra o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel.

Nas mesmas declarações, Trump denunciou “todos os países que recebem o dinheiro dos Estados Unidos e que depois votam contra [os EUA] no Conselho de Segurança”.

“Recebem centenas de milhões de dólares e até milhares de milhões de dólares (…) Deixe-os votar contra nós. Vamos poupar muito. Não nos importamos”, reforçou o chefe de Estado norte-americano.

Os 193 países-membros da Assembleia-geral da ONU vão votar na quinta-feira um projeto de resolução que foi proposto pelo Iémen e pela Turquia, em nome de um grupo de países árabes e da Organização para a Cooperação Islâmica (OCI).

O texto não faz uma menção específica aos Estados Unidos, mas afirma que qualquer decisão sobre Jerusalém deve ser cancelada.

Esta votação acontece depois de Washington ter recorrido, na segunda-feira, ao seu direito de veto no Conselho de Segurança para impedir a adoção de uma resolução que também condenava a decisão norte-americana.

Ao contrário do que se passa no Conselho de Segurança (os cinco membros permanentes do órgão têm direito de veto), na Assembleia-geral não há direito de veto e os textos adotados não são vinculativos.

Em reação a esta votação, a embaixadora dos Estados Unidos junto das Nações Unidas, Nikki Haley, fez saber, via rede social Twitter e numa carta endereçada a representantes de vários Estados-membros, que Washington ia “anotar os nomes” dos países que rejeitarem o reconhecimento de Jerusalém como a capital israelita e a mudança da embaixada norte-americana para a mesma cidade.

As palavras de Nikki Haley foram denunciadas hoje em Istambul pelo chefe da diplomacia palestiniana, Riyad al-Malki, que afirmou que os Estados Unidos estão a recorrer a ameaças e a intimidações.

“Amanhã [quinta-feira] veremos quantos países vão optar por votar (com) a sua consciência. Eles votarão pela justiça e votarão a favor desta resolução”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros palestiniano.

Ao lado de Riyad al-Malki estava o ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Mevlut Cavusoglu, que disse acreditar que os países-membros da Assembleia-geral da ONU vão ignorar a pressão norte-americana e vão votar em consciência.

“Nenhum Estado honrado vai inclinar-se perante tal pressão”, disse o chefe da diplomacia da Turquia.

Trump anunciou a 06 de dezembro que os Estados Unidos reconhecem Jerusalém como capital de Israel e que vão transferir a sua embaixada de Telavive para Jerusalém, contrariando a posição da ONU e dos países europeus, árabes e muçulmanos, assim como a linha diplomática seguida por Washington ao longo de décadas.

Os países com representação diplomática em Israel têm as embaixadas em Telavive, em conformidade com o princípio, consagrado em resoluções das Nações Unidas, de que o estatuto de Jerusalém deve ser definido em negociações entre israelitas e palestinianos.

A questão de Jerusalém é uma das mais complicadas e delicadas do conflito israelo-palestiniano, um dos mais antigos do mundo.

Israel ocupa Jerusalém oriental desde 1967 e declarou, em 1980, toda a cidade de Jerusalém como a sua capital indivisa.

Os palestinianos querem fazer de Jerusalém oriental a capital de um desejado Estado palestiniano, coexistente em paz com Israel.


Jerusalém é considerada uma cidade santa para cristãos, judeus e muçulmanos. Com a Lusa

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