A estrela dos Sábios do Oriente que
procuram Jesus, recém-nascido, surge como o grande referencial para quem deseja
encontrar a verdade. Procura porque o seu espírito a intui e a vê partilhada
por outros. Procura porque reconhece os sinais da novidade que vão surgindo um
pouco por toda a parte e quer captá-los e entrar em sintonia. Procura porque
sente o impulso de uma secreta esperança que anima os caminhos da vida.
Jesus, o procurado, irradia a sua luz a
partir da encarnação, fazendo-se humano. Constitui assim um novo espaço de
encontro com toda a humanidade: homens e mulheres, povos e raças, judeus e
pagãos, novos e velhos, camponeses e citadinos. Hoje é o dia do encontro
oferecido por Deus na gruta de Belém, aonde chegam os Sábios Reis vindos do
Oriente, após terem feito um percurso que fica como iluminação de todos os que
se dispõem a ser cristãos discípulos de Jesus, a Estrela por excelência. E a
liturgia da Igreja destaca este encontro como meta de convergência do tempo de
Natal que manifesta novos horizontes: A Belém acorrem os pastores; ao Templo, o
velho Simeão e a profetisa Ana, símbolos queridos dos fiéis judeus; a Jerusalém
se dirigem, rumo a Belém, os Sábios Reis. (Mt 2, 1-12).
De Belém, a pequena aldeia de Judá, a “mão
de mestre” de Mateus guia os nossos passos para a universalidade dos povos,
para o encontro das culturas, para a aliança da razão e da fé, chamadas a
construir a harmonia sinfónica em cada um de nós. A contra-luz, fica o choque
dos acomodados e seguros, bem representados por Herodes e letrados do país,
políticos hábeis e pretensiosos, sacerdotes do templo-garante do usufruto do
estatuto alcançado. A sua atitude mantém-se actual com rostos visíveis e
provocadores. Do início ao fim, o relato de Mateus evidencia este contraste:
rejeição de uns e aceitação de outros. No Calvário é o centurião romano e o
ladrão da direita que confessam publicamente que Jesus é o Salvador, o filho de
Deus. Enquanto, os judeus o desprezam e o condenam a morte humilhante.
A narrativa de Mateus é tão rica que vale
a pena seguir os seus passos. Tudo acontece no tempo do rei Herodes, isto é, na
história e na cultura, na política e na economia, pois Roma exercia domínio
vigilante sobre a Palestina e impunha a sua ordem imperial. O ocorrido em Belém
tem data, rostos humanos, que espelham condições sociais e religiosas
diferentes.
A Jerusalém chegam uns sábios provindos do
Oriente Médio, sendo difícil actualmente identificar o país de origem. A cena
ocorre nesta região do mundo onde se centra, também hoje, o choque evidente do
poder e da razão, do direito de todos à convivência pacífica e a exclusão
forçado de muitos, da memória histórica comum e da força do facto político
criado. O Papa Francisco e o Secretário-geral da Nações Unidas, António
Gueterres, bem como outros líderes mundiais e organizações humanitárias erguem
a voz e propõem a busca de soluções dialogadas pelas partes em os conflitos.
Herodes fica alarmado com a notícia das
visitas, convoca a corte dos conselheiros, apura a verdade das profecias, dá
recomendações para o caminho a quem está em trânsito e toma as suas precauções.
Tudo parece sinceridade e cortesia, fruto de um coração generoso e bom. O final
da cena revela as reais intenções escondidas nesta perfídia. A matança das
crianças – os chamados santos Inocentes – fica como ocorrência emblemática do
que vem a acontecer ao longo da história. Ainda hoje, infelizmente!
Os peregrinos da verdade avançam “entre
trancos e barrancos” como diz o povo, sempre guiados pelo desejo ardente de
encontrar, beneficiando da luz da estrela da razão ou sentindo o peso da
escuridão e da dúvida, típicas de quem ousa tentar, mesmo às “apalpadelas”. A
coragem de resistir e querer levar por diante a decisão tomada revela uma
apreciável consistência interior e uma firme clarividência do objectivo a
alcançar. A qualidade do humano, que há em nós, mostra-se no seu esplendor. A
confiança anima o caminhar.
E chegam finalmente. A estrela indica o
local onde se encontra o procurado. A surpresa terá sido total: um Rei feito
menino; uma gruta convertida em palácio; uma companhia de pessoas tão simples e
silenciosas que nem sequer lhes dão as boas-vindas (pelo menos o relato não
refere, certamente porque Mateus quer centrar a intensidade do encontro na
atitude dos recém-chegados). E esta atitude torna-se emblemática para sempre:
Ajoelhados, oferecem os símbolos da sabedoria iluminada pela fé: O ouro da
realeza do serviço humilde que salva; o incenso da dignidade humana que espelha
a novidade divina; a mirra da fragilidade das criaturas sempre necessitadas
umas das outras e do Criador. Atitude que manifesta a humanidade de Deus e a
divindade do Homem; Deus em nós e nós com Deus. Apreciemos quem somos e
deixemos irradiar a luz que nos habita. E revigoremos a esperança no nosso
peregrinar.
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