Jesus inicia na Galileia a sua missão em
público. Escolhe esta região intencionalmente. É uma escolha emblemática do seu
propósito de anunciar a novidade que traz consigo, o reino de Deus que está
próximo. É uma escolha pelas “periferias”, onde se cruzam judeus e romanos,
crentes fervorosos e indiferentes, comerciantes e soldados, gente simples,
amiga da convivência em paz. É uma escolha pelos socialmente desconsiderados e
silenciados, pelo “povo maldito que não conhece a Lei”. A Nicodemos que pede
sensatez aos sumos-sacerdotes e aos fariseus (que estavam a ponto de condenar
Jesus) estes respondem: “Estuda e verás que da Galileia não sai nenhum
profeta”. É uma escolha que se distancia de Jerusalém, a cidade oficial de
referência da religião judaica, o centro da vida social e política.
Marcos, que faz o relato deste início
missionário, condensa a mensagem de Jesus dizendo: “Cumpriu-se o tempo e o está
próximo reino de Deus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho” (Mc 1, 14-20);
mensagem que será desenvolvida nos capítulos seguintes; mensagem que visualiza
as duas faces da novidade anunciada: A proximidade do reino que Deus nos
oferece e somos convidados a aceitar, assumindo livremente as suas exigências.
E a confirmação de que o tempo está a esgotar-se. Não há mais delongas. Adiar é
opção arriscada. Também para nós. Não percamos a oportunidade de beneficiar da
Boa Nova posta ao nosso alcance.
Os pescadores que Marcos nos apresenta
escutam a chamada de Jesus e logo o seguiram. A prontidão na resposta põe em evidência
a força persuasiva de quem convida e a sintonia de quem escuta, sintonia que se
irá afinando ao longo do tempo de convivência e da relação pessoal, da vida em
grupo e da superação de quezílias, da partilha de experiências missionárias, de
aprendizagem com Jesus a orar a Deus, nosso Pai, de o seguir para onde quer que
vá.
E os pescadores do mar da Galieia
fazem-se “pescadores” de pessoas, prontos a deixar o circuito estreito das suas
rotinas e a embarcar na novidade de Deus, sempre surpreendente na história
humana. Hoje, a leitura narra o primeiro episódio desta feliz aventura.
“Pescadores de pessoas” indica a mudança
de sentido que a proposta de Jesus lhes faz: O mar será o mundo por onde avança
o barco da missão; as redes da captura e o saco de armazenamento abrem-se à
força persuasiva do testemunho e da palavra, ao apelo à aceitação, ao amor ao
Evangelho e à liberdade enriquecida pela verdade; a brisa e a ondelução das
marés cedem lugar ao sopro do Espírito e ao impulso missionário. E eles partem,
percorrem os caminhos da história e chegam até nós. Agora é a nossa vez!
“O anúncio cristão, escreve Manicardi,
Comentário à Liturgia, p. 93, proclama que Deus, em Jesus Cristo, procura
alcançar o homem no seu quotidiano, afirma o primado da iniciativa e da
misericórdia de Deus, mas comporta também o pedido das exigências do Reino:
conversão e fé. Portanto: mudança de vida, coragem para reconhecer que o
caminho que se está a percorrer é errado e voltar, inverter o sentido da
marcha; a seguir, fé, adesão a Jesus Cristo, como Senhor da própria vida, da
Igreja e da história”.
Os pescadores tém nome, família e
profissão: Simão e André, Tiago e João, irmãos respectivamente, Sendo Zebedeu o
pai dos últimos. Jesus está nas margens do mar e, como é normal, vai sonhando o
futuro, talvez mesmo estabelecendo contornos ao seu projecto. Vive intensamente
aquela hora, intensidade expressa no olhar e no apelo/convite ao seguimento.
“Vinde comigo e farei de vós pescadores de homens”. Marcos, o autor do relato,
anota a prontidão da resposta dos chamados. Jesus necessita de pessoas
concretas, prontas para o trabalho missionário, dispostas a ariscar na aventura
confiante. Também de mim. Também de ti.
Esta prontidão manifesta que a boa nova
estava já no coração e faz nascer os desejos, apreciar as capacidades e
dispor-se a ser companheiro de outros, s querer chegar a todas as suas
galileias, sem medo. Estava já presente, mas vai desabrochar, crescer e
amadurecer na escola apostólica do Mestre e no bom desempenho do mandato recebido.
“A missão que Jesus anuncia é
apaixonante e libertadora, exige dedicação plena, entrega, liberdade,
capacidade de compaixão e misericórdia”, afirma Miguel Mangas, na reflexão para
este domingo. Homilética, 2018/1 p. 38. Para ser exclusiva, esta exigência
comporta uma outra, a de nada antepor a Jesus e ao seu Evangelho. E Marcos
visualiza esta opção radical no exemplo dos novos discípulos. E o Papa
Francisco não cessa de o proclamar, bem como muitos outros rostos de
misericórdia. Jesus chama. Também nós, vamos dar-lhe uma resposta pronta e
generosa.
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