Coloquei essa questão a mim próprio
aquando do meu regresso a Bissau em Dezembro último. Perante as evidências, não
restam dúvidas de que, milhares de guineenses radicados no estrangeiro vêm à
terra natal gozar férias, aproveitando para renovar os seus documentos. Consta
que há quase excesso de pessoas na capital do país.
A 28 de Dezembro, o voo Lisboa-Bissau
tinha 368 passageiros, que lotaram completamente a zona das chegadas do
aeroporto internacional Osvaldo Vieira em Bissau. O espaço físico era
manifestamente pequeno para albergar o número elevado de passageiros que
aterrava na capital guineense. O pequeno tapete rolante das bagagens estava
literalmente sem capacidade para despachar as muitas malas acabadas de chegar,
pois é, na verdade, demasiado pequeno. Os passageiros não cabiam no espaço de
recolha das malas. Reinava o caos e a confusão na recolha das bagagens. Depois
de horas a fio, já com as malas, surge outro problema: a falta de carrinhos
para as transportar. As mesmas têm que passar pelo controlo de raio-x, o que
também provoca uma enorme fila dos passageiros, já de si muito cansados. Fora
da zona das chegadas, com as obras no parque de estacionamento do aeroporto, é
quase impossível conseguir espaço para estacionar.
Há muito que se reclama um novo
aeroporto no país, como, por exemplo, aquele - novinho - de Dacar, a capital
senegalesa. Recordo que as autoridades nacionais repetiram - em alto e bom som
- que gostaram muito da obra feita no país vizinho. Foram muitos os elogios aos
senegaleses pela visão e capacidade de realização. Faltou só pedir aos
senegaleses que "colocassem" o antigo aeroporto de Dacar em Bissau.
Nos dias seguintes, repete-se o cenário
habitual: nos lugares públicos em Bissau ouve-se repetidamente os que vivem cá
a dizer: "Voltem para a Europa para que possamos viver na normalidade. Bô
intchinu terra kun."
Nas discotecas faz-se longa fila nas
bilheteiras e dentro, quase que não se encontra espaço para dançar. Muitos
dizem: "Eu não vou à discoteca até quando voltarem para a Europa, porque
não há espaço sequer para nada." O mesmo acontece nos serviços de
Emigração, para a renovação dos passaportes e, nos de Identificação. Convém
salientar que há um único sítio em Bissau para solicitar a emissão do Bilhete
de Identidade, o mesmo para o passaporte.
Nas estradas, principalmente na avenida
principal, o trânsito é intensíssimo durante quase todo o diana zona de Chapa.
Muita viatura na via! É que os que vêm não param: estão em todo o lado! Desde
Novembro que as companhias aéreas vêem os seus voos lotados para Bissau.
Mas será que a cidade capital é
demasiado pequena para receber os emigrantes?
As crianças guineenses que nasceram na
Europa, quando estão de férias na terra natal, não têm sequer um parque/espaço
de diversões, digno do termo, para brincar. É tudo e só, armazéns em Bissau! A
cidade está a crescer de forma desorganizada, sem espaços de lazer; não há
cinemas, bibliotecas, espaços polivalentes, parques de diversão, salas para
concertos etc. Há sim, sedes partidárias por todo o canto e, vivendas dos que
passaram pela governação, construídas nas zonas nobres, como se a riqueza deste
país fosse só para sustentar a vaidade e os caprichos de alguns.
O legado que estão a deixar aos jovens
subentende que o caminho ideal para ser bem-sucedido na vida é roubar do Estado
- quando for " Djinton di praça". Depois, tentar usar o mesmo
dinheiro para a compra de consciências, promovendo a divisão social no seio da
família guineense.
Nota: Os artigos assinados por amigos, colaboradores ou outros não vinculam a IBD, necessariamente, às opiniões neles expressas.
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