sábado, 15 de setembro de 2018

Seguir Jesus nos caminhos da vida

"Seguir Jesus, o peregrino da proximidade e do bem-fazer, o companheiro e confidente de todas as horas, alegrias e dores, o guia que ilumina a tocha da nossa consciência e o farol da nossa liberdade, o homem tão humano que só pode ser Deus no amor de entrega e na coragem da confiança filial."

Jesus vai a caminho de Cesareia de Filipe, local distante do mar da Galileia uns 25 Km. Aqui se encontra uma das maiores fontes que alimentam o rio Jordão e, com a abundância da sua água, geram uma vegetação fértil e atraente. Outros motivos teria Jesus para se dirigir para lá, motivos de que faria parte o simbolismo da fonte e da abundância, da fertilidade e atracção, simbolismo que fica plasmado no diálogo com os discípulos, sobretudo com Pedro. Mc 8, 27-35.

No caminho, conversa-se sobre o que a experiência vivida na companhia de Jesus lhes proporciona, a esperança a despertar nos corações, a aventura em que se vêem envolvidos, o convívio amigo entre todos sempre animado pelo exemplo do Mestre. Também surgiriam os ecos dos comentários populares e das críticas, que iam surgindo, da parte dos fariseus e escribas. E as pretensões veladas de cada um vir a ocupar um lugar importante na organização futura que já se desenha em embrião.


Jesus intervém na conversa e, de repente, pergunta- lhes: “Quem dizem os homens que Eu sou?”. Centra deste modo a atenção na sua pessoa, quer verificar a ressonância da sua missão e aferir a capacidade dos discípulos em serem fiéis transmissores da mensagem e a justeza da sua compreensão. Quer preparar a grande revelação do que é ser Messias de Deus e dos passos próximos a seguir no caminho para Jerusalém, onde tudo se consumaria.

Jesus escuta as respostas que vão surgindo e o colocam a nível dos grandes profetas. Dir-se-ia que a cota da sua fama, a nível popular, era muito elevada. Quem não ficaria satisfeito?! Em vez de mostrar reacção positiva, Jesus prossegue com nova pergunta, possivelmente a que mais lhe interessava para o objectivo que pretendia: “E vós quem dizeis que Eu sou?”, pergunta que denota uma relação pessoal, a definir com urgência, pergunta que é dirigida a todos os seus discípulos ao longo da história. A cada um de nós, Jesus pergunta: Quem sou Eu para ti? Que lugar me dás no teu dia-a-dia, nas tuas opções e critérios de vida, na tua busca de felicidade?

Pedro toma a palavra e, não sem uma iluminação interior, responde acertadamente: “Tu és o Messias”. Esta iluminação brilhará com nova intensidade mais tarde. Jesus acolhe a declaração feita, mas proíbe a sua divulgação com severidade. Por que seria? Certamente, por cautela, para evitar maior excitação popular e reacção dos adversários. Mas terá sido, como Marcos nos adianta, pelo modo de realizar a missão de ser Messias. Jesus chama-se a si mesmo Filho do homem, sujeito à fragilidade e exposto à intempérie, e levanta o véu à sua realeza divina, que será declarada na sua originalidade no tribunal de Pilatos e confirmada após a ressurreição. O modo é o caminho da cruz, aceite por amor como garantia de quanto vale a pessoa humana para Deus, como testemunho de que a verdade reforça sempre a liberdade e a solidariedade dá rosto à comunhão.

“A acção messiânica de Jesus, afirma a nota de roda-pé da Bíblia Pastoral em comentário a esta passagrm, p. 1374, consiste em criar um mundo plenamente humano, onde tudo é de todos e repartido entre todos. Este messianismo destrói a estrutura de uma sociedade injusta, onde há ricos à custa dos pobres e poderosos à custa dos fracos. Por isso aquela sociedade vai matar Jesus, antes que Ele a destrua. Mas os discípulos imaginam um messias glorioso e triunfante”.

Jesus não contesta a afirmação de Pedro, mas a sua compreensão do que é ser Messias. Por isso, reage com uma repreensão veemente: “Vai-te, Satanás, porque não compreendes as coisas de Deus, mas só as dos homens”. Pobre Pedro! Que comparação tão interpelante, que chicotada psicológica tão dura! Como te deve ter custado ouvir e calar!. E nem os colegas te dão uma palavra de alívio. A questão é decisiva: Não basta dizer quem Jesus é, mas aceitar o seu modo de agir e seguir os seus passos, pôr os pés nas suas pegadas, deixar-se tatuar pela sua impressão digital.

Seguir Jesus, o peregrino da proximidade e do bem-fazer, o companheiro e confidente de todas as horas, alegrias e dores, o guia que ilumina a tocha da nossa consciência e o farol da nossa liberdade, o homem tão humano que só pode ser Deus no amor de entrega e na coragem da confiança filial.

Seguir Jesus é tomar a cruz da vida e, em gestos de amor, consumir as energias e sacrificar comodidades, ainda que seja preciso derramar lágrimas de dor que são penhor de manhãs de páscoa florida. Não pelo gosto de sofrer ou de fazer sofrer. Seria um gosto doentio masoquista ou sádico.

O seguimento de Jesus, esclarece o Papa Francisco, por ocasião da oração do Ângelus a 13 de Setembro de 2015, significa tomar a cruz – todos nós a temos – para o acompanhar na sua jornada, um caminho nada cómodo que não é de sucesso, da glória passageira, mas que leva à verdadeira liberdade, a que nos liberta do egoísmo e do pecado. Trata-se de operar uma clara rejeição daquela mentalidade mundana que coloca o próprio «eu» e os próprios interesses no centro da existência. Isto não é o que Jesus quer de nós… Decidir segui-Lo, ao nosso Mestre e Senhor que se fez Servo de todos, exige caminhar atrás d’Ele e ouvi-Lo atentamente na sua Palavra – lembrem-se de ler todos os dias uma passagem do Evangelho – e nos Sacramentos. Há jovens aqui na praça: jovens e moças, pergunto-vos: já tiveram vontade de seguir Jesus mais de perto? Pensem, rezem e deixem que o Senhor fale convosco”.

E o Papa, tendo em conta o próximo Sínodo dos Bispos sobre “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”, escreve uma oração para ser rezada por toda a Igreja: Também nós a vamos rezar:

Senhor Jesus, a tua Igreja a caminho do Sínodo dirige o olhar a todos os jovens do mundo. Pedimos-te que, com coragem, assumam a própria vida, olhem para as realidades mais bonitas e mais profundas e conservem sempre um coração livre.

Acompanhados por guias sábios e generosos, ajuda-os a responder à chamada que Tu diriges a cada um deles, para realizar o próprio projeto de vida e alcançar a felicidade. Mantém aberto o seu coração aos grandes sonhos tornando-os atentos ao bem dos irmãos.

Como o Discípulo amado, também eles permaneçam ao pé da Cruz para acolher a tua Mãe, recebendo-a como um dom de ti. Sejam testemunhas da tua Ressurreição e saibam reconhecer-te vivo ao lado deles anunciando com alegria que Tu és o Senhor. Amém.

Franciscus

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