Francisco reafirmou hoje uma política de tolerância zero contra a pedofilia e a corrupção no encontro de Natal com os membros da Cúria Romana
O Papa destacou hoje no Vaticano o Natal
como uma oportunidade de “penitência e renovação para a Igreja Católica”, no meio
das “escândalos” que envolveram as estruturas eclesiais ao longo deste último
ano.
Durante uma sessão de apresentação de
boas festas de Natal à Cúria Romana, esta manhã, na Sala Clementina, em Roma,
Francisco reconheceu que “a barca da Igreja vive momentos difíceis, acometida
por tempestades e furacões”, nomeadamente devido ao “contratestemunho” e à
“infidelidade” de “alguns filhos e ministros da Igreja”.
O Papa argentino referiu-se aos casos de
abusos sexuais contra menores cometidos por membros do clero, encobertos por
bispos e cardeais, que têm sido dados a conhecer em vários países.
“Desde há vários anos que a Igreja está
seriamente empenhada em erradicar o mal dos abusos, que clama por justiça ao
Senhor, a Deus que nunca esquece o sofrimento vivido por muitos menores por
causa de clérigos e pessoas consagradas: abusos de poder, abusos de consciência
e abusos sexuais”, apontou o Papa.
Para Francisco, é fundamental erradicar
da Igreja Católica aqueles que, a coberto da sua consagração a Deus, “abusam
dos fracos, valendo-se do seu poder moral e de persuasão”, que “cometem
abominações e continuam a exercer o seu ministério como se nada tivesse
acontecido”; ou que “não temem a Deus nem o seu juízo, mas apenas ser
descobertos e desmascarados”
“Ministros, que dilaceram o corpo da
Igreja, causando escândalos e desacreditando a missão salvífica da Igreja e os
sacrifícios de muitos dos seus irmãos”, frisou o Papa argentino.
Durante o encontro com os membros da
Cúria Romana, esta sexta-feira, o Papa afirmou que não haverá lugar na Igreja
Católica para situações de pedofilia, para aqueles que Francisco apelidou como
“lobos vorazes”, cujos atos “deformam o rosto da Igreja, minando a sua
credibilidade”.
Que não haverá lugar para aqueles que
“entram, sem pestanejar, na rede de corrupção, atraiçoam Deus, os seus
mandamentos, a própria vocação, a Igreja, o povo de Deus e a confiança dos
pequeninos e dos seus familiares”.
“Fique claro que a Igreja, perante estas
abominações, não poupará esforços fazendo tudo o que for necessário para
entregar à justiça toda a pessoa que tenha cometido tais delitos. A Igreja não
procurará jamais dissimular ou subestimar qualquer um destes casos. Isto nunca
mais deve acontecer”, frisou o Papa argentino.
O Papa lembrou depois os cardeais acerca
da importância do encontro que vai ter lugar em fevereiro de 2019, com
responsáveis de todas as conferências episcopais do mundo, para abordar a
temática dos abusos.
Uma iniciativa através da qual “a Igreja
reiterará a sua firme vontade de prosseguir, com toda a sua força, pelo caminho
da purificação”.
“A Igreja, valendo-se também da ajuda
dos peritos, questionar-se-á como proteger as crianças; como evitar tais
calamidades, como tratar e reintegrar as vítimas; como reforçar a formação nos
seminários. Procurar-se-á transformar os erros cometidos em oportunidades para
erradicar este flagelo não só do corpo da Igreja, mas também do seio da
sociedade”, apontou Francisco.
O Papa argentino recuperou aquilo que
disse acerca do Natal como época de “penitência e renovação” para a Igreja
Católica, para realçar que o nascimento de Jesus “é a festa que dá a certeza de
que nenhum pecado será maior do que o empenho de Cristo”.
Muito deste processo de renovação,
observou o Papa, depende também da vontade da própria Igreja em assumir os seus
erros e corrigir o que está mal.
“Uma Igreja empedernida será sempre uma
Igreja sem esperança”, asseverou Francisco.
Do lado do Cúria Romana, os cardeais de
todo o mundo afirmaram o seu empenho de “participar na solicitude quotidiana do
Papa, por toda a Santa Igreja” e enalteceram “o esforço imparável de Francisco
a favor da paz e da colaboração entre os povos”, as “várias viagens internacionais
pontifícias” que foram promovidas, e acontecimentos como “o Sínodo dos Bispos
dedicado aos jovens, e a canonização do Papa Paulo VI”.
Os membros do Colégio Cardinalício
agradeceram ainda particularmente ao Papa argentino pela dádiva “da sua última
exortação apostólica, ‘Alegrai-vos e exultai’, que fez ressoar de novo dentro
da Igreja Católica o desafio a uma reforma interior, em ordem à santidade”.
“Recordou-nos, de modo particular, que
na base de cada renovação está o empenho de colocar Deus no centro de toda a
nossa vida”, apontou o representante da Cúria Romana.Com a Ecclesia
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