“Escutar Jesus, é o mesmo que interessar-se pelo que diz e obedecer-lhe ao que escuta; conhecer as ovelhas indica uma relação de mútua compreensão e aceitação...
Jesus está em Jerusalém e passa pelo
Templo no pórtico de Salomão. Decorria a festa da Dedicação que fazia a memória
da sua re-consagração, após a profanação ordenada pelo Rei Antíoco IV. Um grupo
de judeus questiona Jesus sobre a sua identidade. O diálogo é longo com
perguntas muito directas e respostas cada vez mais pertinentes. João
apresenta-o no capítulo 10 e a liturgia de hoje destaca os versículos 27-30,
centrados na relação singular que explicita aquela identidade. É a relação
recíproca entre Ele e Deus Pai, entre Ele e os discípulos, Entre Ele e os que
vierem a seguir os seus passos. (O seu rebanho, em linguagem pastoril).
João, o evangelista, recorre a uma
parábola que fica conhecida pela parábola do Bom Pastor que cuida zelosamente
do rebanho. Usa a linguagem do tempo. Familiar e expressiva. E nesta passagem
traduz aquela relação nos verbos escutar, conhecer e seguir. E, em jeito de
justificação, acrescenta: “Eu e o Pai somos um”.
“Escutar, anota J. M. Castillo (La
Religión de Jesús, ciclo c, p. 199). é o mesmo que interessar-se pelo que diz e
obedecer-lhe ao que escuta; conhecer as ovelhas indica uma relação de mútua compreensão
e aceitação; seguir define a forma de vida do discípulo que se fia de Jesus,
deixa tudo por Ele e identifica a sua vida com a do pastor, como o pastor
identifica a sua com a daqueles que pastoreia” Que grandeza de mensagem e
simplicidade de comunicação! Constitui uma estimulante referência para todos os
tempos, pondo em realce os traços marcantes dos que são chamados a, em nome de
Jesus, serem pastores na humanidade, sobretudo na Igreja. Escutar é a primeira
característica do discípulo pastor. Expressa a atitude permanente de quem vive
a relação fundante.
Seguir Jesus é escutar a sua voz que nos
chega de tantos modos: no rosto das pessoas, na beleza da natureza, nas feridas
dos maltratados e em tantos outros cobertos de chagas; no ambiente familiar que
cultiva o amor terno e fecundo, nos espaços educativos que promovem os valores
integrais; na leitura da Bíblia e na celebração do domingo – dia que Lhe é
especialmente consagrado – e na participação da eucaristia e em tantos gestos
de bondade solidária e cristã. Seguir Jesus é estar atento aos factos e
acontecimentos, descodificar o seu significado, prever os seus efeitos e a sua
repercussão na dignidade da pessoa humana, na sociedade e na Igreja. Seguir
Jesus é estimar a consciência individual e abrir-se à relação com outros, a fim
de a confrontar em diálogo sincero e esclarecedor. Atitude que vai crescendo,
felizmente.
Há atitudes diferentes em cristãos que
dificilmente sintonizam com o Evangelho. Enumeram-se algumas: menosprezar a
consciência e a sua responsabilidade ética; reservar à hierarquia o que diz
respeito à Igreja, sobretudo no desempenho da missão; considerar os/as
leigos/as eventuais “tarefeiros” quando solicitados; achar que os católicos
divorciados-recasados não devem ter acesso a funções ou serviços na comunidade
eclesial. Cultivar um olhar pessimista em relação à evolução da humanidade,
dando a impressão de que o Espírito Santo foi “de férias” e tarda em voltar.
Hoje, celebra-se o dia Mundial das
Vocações, dia especial para escutar a voz do Bom Pastor. O Papa Francisco,
dirigindo-se aos Jovens, destaca a importância do encontro com o Senhor que
desperta um novo fascínio na vida, exorta a que não se deixem contagiar pelo
medo que paralisa a vista dos altos cumes e lembra que o Senhor promete a
alegria duma vida nova que enche o coração e anima o caminho.
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