“Tende cuidado; não vos deixeis enganar”. A aparência é diferente da realidade. Muitos se apresentam como defensores da verdade e anunciadores de um futuro sedutor, como amigos dos pobres e porta-vozes dos esquecidos e marginalizados, como devotos fervorosos e vistosos praticantes. Fazem brilhar a sua aparência. A realidade é bem diferente: propagação de meias verdades e de mentiras camufladas, exploradores de desamparados e de piedosos devotos. Tende cuidado. O engano é uma possibilidade real que confunde e desacredita. Desumaniza. “O espaço religioso e eclesial é também cenário de enganos e imposturas que se manifestam. Sobretudo, na pretensão de verdade absoluta e indiscutível.
“Colocando no centro os pobres ao inaugurar o seu Reino, Jesus quer-nos dizer precisamente isto: Ele inaugurou, mas confiou-nos, a nós seus discípulos, a tarefa de lhe dar seguimento, com a responsabilidade de dar esperança aos pobres. Sobretudo num período como o nosso, é preciso reanimar a esperança e restabelecer a confiança. É um programa que a comunidade cristã não pode subestimar. Disso depende a credibilidade do nosso anúncio e do testemunho dos cristãos” - Papa Francisco
Jesus está nas imediações do templo de
Jerusalém. Vive os últimos dias, antes da sua paixão e morte. Conversa com
alguns acompanhantes encantados com a majestade e a beleza do que vêem. Estão
maravilhados e cheios de confiança. Contemplam o edifício e observam a
afluência de pessoas devotas que vão lançar as suas ofertas nas caixas do
tesouro. Sentem um orgulho compreensível pela história e funcionalidade do
centro de peregrinação “nacional”, aonde todos acorrem. Lc 21, 5-19
Jesus, bom observador e insigne pedagogo,
tem um outro olhar e faz uma outra avaliação, sentenciando: “Dias virão em que
de tudo o que estais a ver não ficará pedra sobre pedra”. E acrescenta: “Tende
cuidado; não vos deixeis enganar”. Como prevenção enumera alguns exemplos do
que acontecerá: chegada de pretensos messias, anúncio de guerras e revoltas
entre povos, fenómenos espantosos e outros grandes sinais. Exorta a que não
tenham medo e aproveita este cenário para fazer um dos seus ensinamentos mais
expressivos sobre o valor do tempo presente, numa perspectiva do futuro
definitivo, sobre a atitude fundamental a cultivar na esperança activa e
perseverante, sobre os comportamentos corajosos, alicerçados, não na
fragilidade humana, mas na convicção consistente de que o Espírito de Jesus estará
presente e actuante.
Lucas, o narrador do episódio, escreve o
seu Evangelho passados cerca de quarenta anos. Muitos factos já tinham ocorrido
e outros estão ainda a suceder hoje. O templo é pilhado e arruinado, aquando da
invasão de Jerusalém, pelas tropas de Tito (pelos anos 70). A população é
subjugada e muitos judeus são trucidados. A hostilidade para com os cristãos é
crescente e converte-se em atitudes frontais que chegam à perseguição e à
morte. Como se verifica ainda nos nossos dias em tão grande número e em tantos
países. Infelizmente!
Jesus vê com um olhar desencantado e
lúcido o fim próximo. “Tal como o templo (e o seu sistema de ofertas e de
santificações), também todas as construções e realizações mais santas e
espirituais do homem são caducas, finitas. Não são elas que devem prender o
olhar e a atenção, mas o Senhor que vem e do qual elas querem apenas ser um
sinal”. Manicardi.
“Tende cuidado; não vos deixeis enganar”.
A aparência é diferente da realidade. Muitos se apresentam como defensores da
verdade e anunciadores de um futuro sedutor, como amigos dos pobres e
porta-vozes dos esquecidos e marginalizados, como devotos fervorosos e vistosos
praticantes. Fazem brilhar a sua aparência. A realidade é bem diferente:
propagação de meias verdades e de mentiras camufladas, exploradores de
desamparados e de piedosos devotos. Tende cuidado. O engano é uma possibilidade
real que confunde e desacredita. Desumaniza. “O espaço religioso e eclesial é
também cenário de enganos e imposturas que se manifestam. Sobretudo, na
pretensão de verdade absoluta e indiscutível. O cristão é chamado a dizer não:
a ordem «Não os sigais» é tão forte como a ordem dada noutras vezes por Jesus:
“Segui-me”, afirma Manicardi.
“Tende cuidado; não vos deixeis enganar”.
A calamidade, por maior que seja, não anuncia o fim do mundo. Mostra a sua
fragilidade precária e emite alertas de prevenção. O cristão está chamado a
empreender a luta activa contra o medo e o poder paralisante do terror. “Não
vos alarmeis”, diz o Senhor (Lc 21, 9); está chamado a ser humilde, a
reconhecer que o seu tempo não é a totalidade do tempo nem a sua vida a
totalidade da história; está chamado a ser perseverante e paciente, firme e
resistente. “Queremos preservar para vós, jovens, para a nova geração, afirma
Bonhoeffer a partir da prisão de Tegel, em 1944, a alma com cuja força devereis
projectar, construir e modelar uma vida nova e melhor”.
Celebra-se neste penúltimo domingo do ano
litúrgico o Dia Mundial do Pobre, iniciativa do Papa Francisco na sequência do
Jubileu da Misericórdia. O último será dedicado a Jesus Cristo, Senhor do
Universo. Pretende destacar a relação entre ambos, de Cristo e do Pobre e
despertar a consciência humana, sobretudo cristã, para a sua responsabilidade
de intervenção libertadora. Nesse sentido, o Papa dirige ao mundo e à Igreja
uma mensagem cheia de realismo e de esperança, de que extraímos a seguinte
passagem: “Colocando no centro os pobres ao inaugurar o seu Reino, Jesus
quer-nos dizer precisamente isto: Ele inaugurou, mas confiou-nos, a nós seus
discípulos, a tarefa de lhe dar seguimento, com a responsabilidade de dar
esperança aos pobres. Sobretudo num período como o nosso, é preciso reanimar a
esperança e restabelecer a confiança. É um programa que a comunidade cristã não
pode subestimar. Disso depende a credibilidade do nosso anúncio e do testemunho
dos cristãos”.
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