Fernando Casimiro (Didinho)
Perdeu-se muito tempo, prejudicando a Guiné-Bissau e os
guineenses, com a teimosia da "tolerância zero" aos golpes de Estado,
para, nos dias que correm, ouvirmos governantes de países e organizações que
"juraram" nunca reconhecer as autoridades de transição no pós-golpe
de Estado, reconhecerem, ainda que, implicitamente, essas mesmas
autoridades, ao fazerem fé na retoma da normalidade constitucional, com a
organização e realização das eleições presidenciais e legislativas agendadas
para 16 de Março próximo e, se alguém tivesse dúvidas, pelas mesmas autoridades
de transição desprezadas desde que empossadas...
Até o ex-primeiro-ministro e candidato ilegal às eleições
presidenciais antecipadas de 18 de Março de 2012 fez questão de se recensear,
em Cabo-Verde (onde, pelos vistos, fixou residência), gesto que legitima
e de que maneira, as autoridades de transição da Guiné-Bissau.
Para quem dizia não reconhecer as autoridades de transição,
faz sentido haver eleições na Guiné-Bissau, quando, supostamente, não há
autoridades "legitimadas" com competência para organizar e realizar
eleições que, uma vez realizadas e consideradas em conformidade, legitimam as
próximas autoridades da Guiné-Bissau?
Afinal, perdeu-se tanto tempo, com teimosias sustentadas por
interesses e conveniências de uns e de outros, menos da Guiné-Bissau e do povo
guineense!
Afinal, quem tinha razão/visão, ainda que todos condenássemos
o golpe de Estado?
Seriam aqueles que exigiam o retorno ao poder das autoridades
depostas, sem nenhuma outra alternativa a bem de uma saída da crise instalada?
Ou seriam aqueles que, por força do realismo circunstancial e
conhecimento de causa, constataram desde logo que o golpe de Estado era um
facto consumado e, por isso, a solução seria necessariamente outra (que não a
promoção do retorno ao poder do regime deposto), que proporcionasse em tempo
útil/oportuno, a retoma da normalidade constitucional, através da organização e
realização de eleições, depois de um período e de um processo de transição
política?
Perdemos muito tempo, para só agora se estar a falar em
eleições e na retoma da normalidade constitucional, omitindo a "tolerância
zero" a golpes de Estado... Ainda bem que conseguimos evitar uma guerra na
Guiné-Bissau. Trabalhamos muito para que as "tempestades", todas as
tempestades se abrandassem/acalmassem. Hoje, damos graças a Deus, seja Ele quem
for; Deus, seja Ele qual for, para cada Homem ou Mulher, de Fé, que entre
orações/preces, rogou ao seu Ser Superior que abençoasse a Guiné-Bissau,
livrando-a da guerra!
Quase dois anos depois (e numa altura em que foram anunciados
relatórios de estudos sustentados sobre potencialidades petrolíferas da
Guiné-Bissau que superam as expectativas iniciais, certamente, razão principal
de todas as disputas de posicionamento no pós-golpe de Estado de 12 de Abril de
2012) eles aí estão, a fazerem-se ao "bolo"... de forma sorrateira,
entre governantes de países que não queriam saber das autoridades de
transição da Guiné-Bissau para nada, e organizações várias, incluindo uma,
a CPLP da qual a Guiné-Bissau Estado-Membro, Fundador e de Pleno Direito, foi
excluída ilegalmente (desprezada/humilhada até) de todas as participações na
Comunidade, desde o golpe de Estado de 12 de Abril de 2012.
E agora que a CPLP até já nomeou um representante para a
Guiné-Bissau, e que viajará brevemente para lá... como explicar aos guineenses
a suposta convicção da organização e dos seus Estados-Membros, relativamente à
"tolerância-zero" aos golpes de Estado?
Passamos todos a ser "golpistas" por,
finalmente, conseguirmos ver onde está a solução, ao menos, para a
retoma da normalidade constitucional e democrática?
Ainda bem que o tempo é o Juiz Supremo de todos os
"juízes" e, juízos...!
Aos jovens do meu país, sobretudo, aconselho a não abrirem
mãos da Guiné-Bissau de todos nós. Defendam-na, cuidem dela, projectem-na e
façam-na afirmar-se no Mundo. A minha geração (bem assim, as que antecederam a
minha) continuará a fazer o que for possível fazer, mas o tempo não perdoa... O
vosso futuro, o futuro de todo o nosso povo, está, garantidamente, na nossa
Terra-Mãe, a Guiné-Bissau e, nas vossas "mãos e cabeças"!
Fernando Casimiro
(Didinho)
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