A imprensa portuguesa atravessa dificuldades, depois
da crise que atingiu vários grupos de média. O capital estrangeiro, sobretudo
angolano, terá ajudado a salvar algumas empresas, mas também obrigou a
despedimentos.
O caso mais recente é o do grupo Controlinveste, do
qual o empresário angolano, António Mosquito, é um dos acionistas principais.
No âmbito das reformas em curso, os novos donos da holding querem despedir mais
de uma centena e meia de trabalhadores, entre os quais jornalistas, para quem
está em causa a liberdade e a qualidade de informação.
Jornais
com história despedem dezenas de jornalistas
Cento e quarenta trabalhadores, dos quais 64
jornalistas, de vários meios de informação e comunicação da Controlinveste
receiam o despedimento coletivo, depois das reformas param redução de custos
que a nova administração decidiu fazer nas empresas do grupo. Organizações
representativas dos jornalistas e demais trabalhadores do Jornal de Notícias, o
Jogo, Diário de Notícias, a rádio TSF, Global Imagens e Notícias Magazine estão
a usar todas as formas de luta ao seu alcance para travar a decisão da
administração.
Várias
formas de luta contra despedimentos anunciados
Depois de uma vigília em Lisboa e no Porto, seguida
de um dia de greve na semana passada, os visados prometem não cruzar os braços
até conseguirem a suspensão do processo de despedimento coletivo. O que está em
causa é muito mais que postos de trabalho, explica Fernando Valdez, da direção
do Sindicato dos Jornalistas: "Estão em causa também questões ligadas à
qualidade de informação que é produzida, porque em jornais que não têm os meios
mínimos não é possível dar a qualidade exigida aos leitores, muito menos quando
os jornalistas estão ameaçados de despedimentos. O que está em causa é também o
direito das pessoas à informação."
Fernando Valdez considera ainda que para redações já
reduzidas é gravíssimo que se pretenda despedir quase sete dezenas de
jornalistas. Na Global Imagens, exemplifica, mais de metade dos repórteres
fotográficos estão no grupo dos despedidos. O jornalista João Paulo Baltazar é
um dos que está nesta lista.
Para este profissional que trabalha há 26 anos na
rádio TSF, "Importa que a gestão dos órgãos de comunicação seja muito
clara, porque um órgão de comunicação social não é uma empresa como outra
qualquer, não é uma fábrica de salsichas, não é uma fábrica de sapatos, é um
órgão que tem um papel social muito relevante na democracia."
Diversidade
da informação em perigo
Os protestos são em defesa da legislação, mas também
da pluralidade e da diversidade de informação. Para a jornalista Diana Andringa
está em causa a liberdade de imprensa, "porque sempre que jornalistas são
despedidos em despedimento coletivo, surge um clima de medo que é contra a
liberdade de imprensa e que põe em perigo essa liberdade. A substituição de jornalistas
com contratos permanentes por outros jovens jornalistas com contratos precários
é outra ameaça à liberdade de imprensa."
Entre os novos acionistas da Controlinveste está o
angolano, António Mosquito Mbakassi, que detém 27,5 por cento do capital do
grupo. Visto como figura independente dos partidos de Angola, Mbakassi
construiu uma carreira de sucesso também associada aos meios próximos do
Presidente angolano José Eduardo dos Santos. O empresário surge a reforçar a
presença de alguns grupos angolanos interessados em aumentar o seu controlo
sobre a comunicação social portuguesa.
O
que estará por trás dos investimentos angolanos?
Diana Andringa é uma das muitas pessoas em Portugal
que questionam o investimento com origem em Angola nos meios de comunicação
social em Portugal. Segundo a jornalista sérnior, que durante muitos anos
ocupou o cargo de presidente do sindicato de jornalistas, não é nada certo que
"os investidores angolanos estejam interessados em que haja em Portugal
uma imprensa livre, independente e imparcial."
No entanto, João Paulo Baltazar é de opinião que não
é relevante a origem do capital: "Eu não vejo nenhum problema e nenhuma
relação direta entre investimento angolano e despedimentos. Não vejo como
necessáriamente mau o investimento estrangeiro em Portugal."
Desde que a nova administração tomou posse, em março
deste ano, saíram já 20 profissionais após negociação. Já antes destes
protestos, o presidente do conselho de administração da Controlinveste
Conteúdos, Daniel Proença de Carvalho, justificou as reformas com a evolução
negativa dos mercados dos media. E esclareceu que "as medidas anunciadas,
embora dolorosas, são indispensáveis para que o grupo possa crescer
sustentadamente no futuro próximo.
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