terça-feira, 15 de julho de 2014

Investidores angolanos investem na imprensa portuguesa e despedem pessoal

A imprensa portuguesa atravessa dificuldades, depois da crise que atingiu vários grupos de média. O capital estrangeiro, sobretudo angolano, terá ajudado a salvar algumas empresas, mas também obrigou a despedimentos.

O caso mais recente é o do grupo Controlinveste, do qual o empresário angolano, António Mosquito, é um dos acionistas principais. No âmbito das reformas em curso, os novos donos da holding querem despedir mais de uma centena e meia de trabalhadores, entre os quais jornalistas, para quem está em causa a liberdade e a qualidade de informação.

Jornais com história despedem dezenas de jornalistas

Cento e quarenta trabalhadores, dos quais 64 jornalistas, de vários meios de informação e comunicação da Controlinveste receiam o despedimento coletivo, depois das reformas param redução de custos que a nova administração decidiu fazer nas empresas do grupo. Organizações representativas dos jornalistas e demais trabalhadores do Jornal de Notícias, o Jogo, Diário de Notícias, a rádio TSF, Global Imagens e Notícias Magazine estão a usar todas as formas de luta ao seu alcance para travar a decisão da administração.

Várias formas de luta contra despedimentos anunciados

Depois de uma vigília em Lisboa e no Porto, seguida de um dia de greve na semana passada, os visados prometem não cruzar os braços até conseguirem a suspensão do processo de despedimento coletivo. O que está em causa é muito mais que postos de trabalho, explica Fernando Valdez, da direção do Sindicato dos Jornalistas: "Estão em causa também questões ligadas à qualidade de informação que é produzida, porque em jornais que não têm os meios mínimos não é possível dar a qualidade exigida aos leitores, muito menos quando os jornalistas estão ameaçados de despedimentos. O que está em causa é também o direito das pessoas à informação."

Fernando Valdez considera ainda que para redações já reduzidas é gravíssimo que se pretenda despedir quase sete dezenas de jornalistas. Na Global Imagens, exemplifica, mais de metade dos repórteres fotográficos estão no grupo dos despedidos. O jornalista João Paulo Baltazar é um dos que está nesta lista.

Para este profissional que trabalha há 26 anos na rádio TSF, "Importa que a gestão dos órgãos de comunicação seja muito clara, porque um órgão de comunicação social não é uma empresa como outra qualquer, não é uma fábrica de salsichas, não é uma fábrica de sapatos, é um órgão que tem um papel social muito relevante na democracia."

Diversidade da informação em perigo

Os protestos são em defesa da legislação, mas também da pluralidade e da diversidade de informação. Para a jornalista Diana Andringa está em causa a liberdade de imprensa, "porque sempre que jornalistas são despedidos em despedimento coletivo, surge um clima de medo que é contra a liberdade de imprensa e que põe em perigo essa liberdade. A substituição de jornalistas com contratos permanentes por outros jovens jornalistas com contratos precários é outra ameaça à liberdade de imprensa."

Entre os novos acionistas da Controlinveste está o angolano, António Mosquito Mbakassi, que detém 27,5 por cento do capital do grupo. Visto como figura independente dos partidos de Angola, Mbakassi construiu uma carreira de sucesso também associada aos meios próximos do Presidente angolano José Eduardo dos Santos. O empresário surge a reforçar a presença de alguns grupos angolanos interessados em aumentar o seu controlo sobre a comunicação social portuguesa.

O que estará por trás dos investimentos angolanos?

Diana Andringa é uma das muitas pessoas em Portugal que questionam o investimento com origem em Angola nos meios de comunicação social em Portugal. Segundo a jornalista sérnior, que durante muitos anos ocupou o cargo de presidente do sindicato de jornalistas, não é nada certo que "os investidores angolanos estejam interessados em que haja em Portugal uma imprensa livre, independente e imparcial."

No entanto, João Paulo Baltazar é de opinião que não é relevante a origem do capital: "Eu não vejo nenhum problema e nenhuma relação direta entre investimento angolano e despedimentos. Não vejo como necessáriamente mau o investimento estrangeiro em Portugal."

Desde que a nova administração tomou posse, em março deste ano, saíram já 20 profissionais após negociação. Já antes destes protestos, o presidente do conselho de administração da Controlinveste Conteúdos, Daniel Proença de Carvalho, justificou as reformas com a evolução negativa dos mercados dos media. E esclareceu que "as medidas anunciadas, embora dolorosas, são indispensáveis para que o grupo possa crescer sustentadamente no futuro próximo.

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