SEF desmantelou rede nigeriana que obrigou 40 jovens
africanas a prostituir-se. Advogado português fazia parte do esquema e foi
preso
Esperava as raparigas, africanas e algumas menores
de idade, no aeroporto de Lisboa e ajudava-as a dar entrada com os papéis para
pedirem asilo político. Um advogado português foi detido ontem numa operação do
Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) por suspeitas de colaborar com uma
rede de nigerianos que se dedicava ao tráfico de mulheres e ao auxílio à
imigração ilegal.
Além do português foram detidos seis nigerianos, que
pertencerão a uma rede criminosa internacional que angariava jovens africanas,
sobretudo nigerianas, as trazia para Portugal e as encaminhava para outros
países da Europa – onde eram obrigadas a prostituir-se. Alguns dos detidos
tinham, também eles, pedidos de asilo pendentes em território nacional.
Apesar de a rede ser nigeriana, a Guiné-Bissau era o
país utilizado como plataforma para fazer chegar as raparigas a Portugal,
normalmente através dos voos da TAP Bissau-Lisboa, cancelados em Dezembro.
“Pontualmente a ligação acontecia a partir do Senegal, mas na maioria das vezes
ocorria via Bissau”, adiantou ao i o director-nacional adjunto do SEF.
José van der Kellen conta que a investigação durou
um ano e foi desencadeada depois de os inspectores terem detectado
“comportamentos” anómalos no aeroporto, como a presença do mesmo advogado à
chegada de determinados voos. “Havia dias em que parecia saber de antemão que
ia dar entrada com pedidos de asilo, antes de os passageiros chegarem”,
exemplifica. Além disso, algumas jovens africanas foram apanhadas em outros
países da Europa e devolvidas a Portugal, o que gerou suspeitas.
As raparigas chegavam a Portugal com passaportes
falsos e, ainda no aeroporto, pediam asilo político com a ajuda do advogado –
que tratava das burocracias e, segundo José van der Kellen, lhes cobrava
“avultadas quantias de dinheiro”. Depois de meterem os papéis, e como os
processos podem demorar meses até estarem concluídos, as jovens eram
encaminhadas para espaços da Segurança Social, onde ficavam a aguardar uma
decisão.
Enquanto esperavam, eram contactadas por elementos
da rede, que as encaminhavam para países como a França, Itália, Espanha ou
Holanda e lhes entregavam novas identidades para poderem circular livremente
pela Europa. Nos países de destino eram-lhes retirados os documentos e passavam
a ser vigiadas por mulheres mais velhas da mesma nacionalidade, sendo obrigadas
a prostituir-se. Em alguns casos, enquanto aguardavam a saída do país,
prostituíam-se ainda em Portugal. O director-nacional adjunto do SEF conta que
à saída dos países de origem as jovens comprometiam-se com uma dívida de 50 mil
euros, que iam pagando através da prostituição.
A operação Naira envolveu 52 inspectores do SEF e
analistas da Europol – que ajudaram no cruzamento de informação entre os vários
países da Europa envolvidos – e culminou ontem com as sete detenções e buscas
em Lisboa, Odivelas e no Laranjeiro. O SEF passou a pente fino residências,
carros e o escritório do advogado e apreendeu documentos que mostram
transferências de vários milhares de euros entre o grupo.
//ionline.pt
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