Passaram já 52 anos quando um grupo de
africanos, guiados pela vontade de mudança e progresso, lançaram em Adis-Abeba
(Etiópia) a semente da unidade de África. As dinâmicas que motivaram esta
histórica iniciativa na capital etíope permanecem intactas ainda hoje. A
exigência de uma verdadeira independência política, tendo como alicerce uma
independência económica, constitui um imperativo para a emancipação total dos
povos africanos.
Os arquitectos do projecto unificador
africano, Kwame Nkrumah, Patrice Lumumba, Amílcar Cabral e companheiros,
tombaram na longa caminhada sem se terem portanto perdido a causa. A prova
disso é que o ideal pan-africanista continua sempre vivo nos corações dos
africanos. Os povos deste continente sabem muito bem que sem uma união
verdadeira, a exploração dos seus recursos através de invenção de todos tipos
de métodos, nunca acabará.
Individualmente, os países africanos
serão sempre esmagados. O grande desafio permanece portanto a liderança
política sólida rumo a esta quão almejada unidade. A unificação baseada em
respeito pelas diferenças que nunca podem constitui uma barreira. África não
pode vencer este desafio enquanto tiver dirigentes coniventes com interesses
obscuros do Ocidente que continua usufruir das imensas matérias-primas de que
dispõe em detrimento de guerras sangrentas que ceifam milhões de vidas. Um
olhar para a região de Grandes Lagos dá para perceber a reinante anarquia
institucionalizada naquela parte. Um autêntico império de negócios de sangue! O
financiamento de grupos armados com a única finalidade de controlar zonas ricas
em minérios. Os financiamentos de campanhas eleitorais de candidatos “amigos”
que quando chegam ao poder tornam-se inimigos do povo que os elegeu, servindo
os interesses de “doadores de corredores” e multinacionais omnipresentes.
O esquema que orientou a expansão e a
exploração europeias durante cinco séculos nas terras africanas, não mudou
muito. E meio século após o fenómeno das chamadas “independências políticas”, o
formato hoje é quase o mesmo: Dividir os africanos para melhor os explorar.
Cabe aos africanos, abandonar a piroga de vitimização e mesquinhez,
embarcando-se com cabeça erguida no navio da construção do seu próprio destino.
O futuro de África está entre as mãos dos seus filhos. Decisões corajosas,
estratégias inteligentes e comungadas em espírito de união, devem doravante
estar no centro da agenda da liderança continental asseguradas por homens e
mulheres competentes e visionários.
O actual formato da União Africana deve
mudar e ceder lugar ao pragmatismo. Não se pode compreender que até hoje cerca
de 80% do orçamento da UA seja assegurada pela União Europeia. A batalha de
Muammar Khadafi era exactamente acabar com esta “brincadeira” e defendia que o
custo da UA fosse sustentado por africanos e não de fora. O líder líbio
assegurava 15% do orçamento de funcionamento da fragilizada instituição. Que
custa a países como Angola, África de Sul, Sudão, Nigéria (este último com PIB
acima de 500 bilhões de dólares americanos) consagrar pelo menos 3 a 5 por
centos dos seus respectivos PIB’s em prol da fortificação da liderança da UA?
Há que sermos corajosos e pragmáticos na construção do nosso futuro colectivo.
Os actuais dirigentes não devem esquecer que as suas acções serão não só
avaliadas nos dias que passam mas também por gerações vindouras.
Outro desafio à actual geração dos
chefes africanos é a questão da moeda única. Não há futuro para África e a sua
economia sem uma união económica e monetária continental. Coloca-se igualmente
outro desafio, o de comércio intra-africano (ainda a flutuar em 10%) que suscita automaticamente a questão da
mobilidade dentro do continente. A resposta a estas diversas equações, é e será
um passo decisivo no caminho que conduza indubitavelmente aos Estados Unidos de
África. Com Odemocrata, jornal privado da Guiné-Bissau
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