terça-feira, 2 de junho de 2015

Estados Unidos de África, um sonho possível!

Passaram já 52 anos quando um grupo de africanos, guiados pela vontade de mudança e progresso, lançaram em Adis-Abeba (Etiópia) a semente da unidade de África. As dinâmicas que motivaram esta histórica iniciativa na capital etíope permanecem intactas ainda hoje. A exigência de uma verdadeira independência política, tendo como alicerce uma independência económica, constitui um imperativo para a emancipação total dos povos africanos.

Os arquitectos do projecto unificador africano, Kwame Nkrumah, Patrice Lumumba, Amílcar Cabral e companheiros, tombaram na longa caminhada sem se terem portanto perdido a causa. A prova disso é que o ideal pan-africanista continua sempre vivo nos corações dos africanos. Os povos deste continente sabem muito bem que sem uma união verdadeira, a exploração dos seus recursos através de invenção de todos tipos de métodos, nunca acabará.

Individualmente, os países africanos serão sempre esmagados. O grande desafio permanece portanto a liderança política sólida rumo a esta quão almejada unidade. A unificação baseada em respeito pelas diferenças que nunca podem constitui uma barreira. África não pode vencer este desafio enquanto tiver dirigentes coniventes com interesses obscuros do Ocidente que continua usufruir das imensas matérias-primas de que dispõe em detrimento de guerras sangrentas que ceifam milhões de vidas. Um olhar para a região de Grandes Lagos dá para perceber a reinante anarquia institucionalizada naquela parte. Um autêntico império de negócios de sangue! O financiamento de grupos armados com a única finalidade de controlar zonas ricas em minérios. Os financiamentos de campanhas eleitorais de candidatos “amigos” que quando chegam ao poder tornam-se inimigos do povo que os elegeu, servindo os interesses de “doadores de corredores” e multinacionais omnipresentes.

O esquema que orientou a expansão e a exploração europeias durante cinco séculos nas terras africanas, não mudou muito. E meio século após o fenómeno das chamadas “independências políticas”, o formato hoje é quase o mesmo: Dividir os africanos para melhor os explorar. Cabe aos africanos, abandonar a piroga de vitimização e mesquinhez, embarcando-se com cabeça erguida no navio da construção do seu próprio destino. O futuro de África está entre as mãos dos seus filhos. Decisões corajosas, estratégias inteligentes e comungadas em espírito de união, devem doravante estar no centro da agenda da liderança continental asseguradas por homens e mulheres competentes e visionários.

O actual formato da União Africana deve mudar e ceder lugar ao pragmatismo. Não se pode compreender que até hoje cerca de 80% do orçamento da UA seja assegurada pela União Europeia. A batalha de Muammar Khadafi era exactamente acabar com esta “brincadeira” e defendia que o custo da UA fosse sustentado por africanos e não de fora. O líder líbio assegurava 15% do orçamento de funcionamento da fragilizada instituição. Que custa a países como Angola, África de Sul, Sudão, Nigéria (este último com PIB acima de 500 bilhões de dólares americanos) consagrar pelo menos 3 a 5 por centos dos seus respectivos PIB’s em prol da fortificação da liderança da UA? Há que sermos corajosos e pragmáticos na construção do nosso futuro colectivo. Os actuais dirigentes não devem esquecer que as suas acções serão não só avaliadas nos dias que passam mas também por gerações vindouras.


Outro desafio à actual geração dos chefes africanos é a questão da moeda única. Não há futuro para África e a sua economia sem uma união económica e monetária continental. Coloca-se igualmente outro desafio, o de comércio intra-africano (ainda a flutuar em 10%)   que suscita automaticamente a questão da mobilidade dentro do continente. A resposta a estas diversas equações, é e será um passo decisivo no caminho que conduza indubitavelmente aos Estados Unidos de África. Com Odemocrata, jornal privado da Guiné-Bissau

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