A criação do estado novo, apos a
independência em 1973 trouxe problemas sérios no sistema do ensino, ao
oficializar apenas o português como a única língua oficial da Guiné-Bissau.
Num artigo publicado na revista científica“ Mandinga - Revista de Estudos Linguísticos”, Doutorando Dabana Namone, fez as seguintes considerações
conceituais, apontando não apenas as consequências, mas também levanta as causas
e as possíveis saídas para uma educação virada para a realidade
sociolinguística guineense. “ É necessário que reinventemos uma Guiné-Bissau
nossa que possa responder as nossas próprias necessidades e não satisfazer uma
elite que sempre deseja enriquecer pela desgraça e fracasso dos outros”,
citando Ki-Zerbo.
Nas
suas considerações iniciais, fez enquadrar os seguintes conceitos:
A língua é uma ferramenta importante
para desenvolvimento quantitativo e qualitativo na educação, seja ela
tradicional ou moderna. Nos países multilingues, com características culturais
diversas, como é o caso da Guiné-Bissau, tanto as línguas africanas antigas,
quanto as recentes, como é o caso de Crioulo, exercem um papel fundamental na
vida do povo. O povo da Guiné-Bissau é na sua maioria de origem bantu e, é de
tradição oral, uma vez que as regras de ser e de estar na sociedade são
transmitidas através da oralidade. A língua oral tem servido de forma plena na
transmissão da cultura e dos hábitos tradicionais que são marcas de identidade,
tanto no continente africano como em outras partes do planeta, dissertou Namone
no seu artigo.
A educação na língua do educando
facilita o desenvolvimento cognitivo, sobretudo nas primeiras fases da educação
básica, para além de constituir bases da referência cultural. É assim na Africa
do Sul, na Tanzânia, na Namíbia e em muitos outros países que adotaram as
línguas locais como línguas de ensino. Queiramos ou não, a língua e a cultura
e, os dois são indissociáveis. Por isso que os estudos sobre a língua em
contexto social tiveram seu sucesso desde que o linguista americano Willliam
Labov e outros aprofundaram estudos sobre esse assunto na década 60.
Neste sentido, a escolha da língua para
ensino deveria exigir um esforço redobrado dos governantes e dos especialista
em educação, na busca de uma planificação coerente e coesa da política
linguística, que deve ter, como objetivo geral, promover o desenvolvimento
qualitativo da educação do país, a partir da inclusão sociocultural de todas as
populações, especialmente, as mais necessitadas.
Sendo assim, a língua Crioula, a mais
falada pela maioria da população guineense, deveria ser priorizada na educação,
para que toda, ou a maioria da população, se sinta incluída no sistema escolar.
São estes aspetos que a presente pesquisa procura discutir, apontando algumas
alternativas que possam contribuir para o desenvolvimento qualitativa da
educação guineense, preleccionou Namone.
Se olharmos para o contexto da criação
do estado novo, logo apos ao alcance da independência em 1973, questiona-se a
escolha do português como a única língua do ensino para o povo guineense,
sabendo que o Crioulo é a mais falada e a mais conhecida pelos guineenses.
Assim, levantam-se algumas hipóteses que guiam a pesquisa:
Sendo o crioulo a língua mais falada, os alunos tem dificuldades em assimilar conhecimentos transmitidos apenas em português, fato que cria dificuldade no desenvolvimento e na qualidade de aprendizagem dos alunos;Não é pelo fato de crioulo ser de base portuguesa que isso ajuda na compreensão da língua portuguesa;Observa-se que os professores seguem uma norma-padrão pouco conhecida ou não utilizada por eles no cotidiano. Esta atitude redunda num fracasso, pois os alunos encontram as mesmas dificuldades que os professores carregam;Veja-se que nem ainda existe dicionário que reflete as realidades socioculturais e linguísticas guineenses. Está claro e, é incontestável que o dicionário elaborado com base nos corpora escritos de Portugal, jamais pode responder as realidades léxico-semânticas vividas pelo povo da Guiné-Bissau. Portanto os consulentes guineenses ficam desiludidos ao consultar um dicionário da variedade do português europeu. Explica Namone.
A pesquisa foi inspirada pela mensagem
de Nelson Mandela, grande líder africano, quando proferia um discurso na Universidade
de Witwatersrand, em Johannesburg, na Africa do Sul, em 16 de Julho de 2003,
afirmando categoricamente que “ a
educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo”. Imbuído nessa necessidade patriótica,
sentimos necessidade de olhar, procurar caminhos que possam melhorar
qualitativamente o sistema educativo guineense para que um futuro prospero seja
mais risonho, num povo que sofreu (e ainda continua sofrendo) com altos índices
de pobreza e, sobretudo, de analfabetismo, 43 anos apos alcance da
independência.
Entendemos que apostando na qualidade de
ensino, estaríamos fornecendo a melhor “arma” para a luta contra a pobreza, a
miséria e contra a colonização moderna no mundo globalizado, explanou Namone
Para avaliar as consequências do ensino
do Português como a única língua oficial na Guiné-Bissau é necessário, buscar
compreender, alguns dados importantes ilustrados na imagem, que mostra as
percentagens de falantes das diversas línguas da Guiné-Bissau.
In. revista científica “Mandinga - Revista de Estudos Linguísticos", 2017
Plinio Gomes Há uma tendência em querer substituir o português pelo crioulo, julgando que o avanço seria rapidamente conquistado e que com isso disvinculamos da língua do colono. O patriotismo pode nos levar a pensar que será benéfico essa alternância. Para qualquer individuo o domínio da língua materna é forte. Quando un fula fala crioulo é diferente da do manjaco ou bijagós. Como aprender uma língua sem estrutura? O sotaque já faz com que haja diferença e esse sotaque pode influenciar a escrita. Quem compreende perfeitamente o português pode escrever o crioulo com menos erros, pondo em evidência o nível intelectual dessa pessoa. Denota-se que há aqueles que na sua escrita do crioulo algumas letras deixam de existir, como por exemplo a letra "C" que é substituida pela letra "K". Para outros a letra "I" também não existe e só a letra "Y" é usada. Sem regras não há possibilidades de ensino do crioulo. Outro factor relevante é o intercâmbio com outras culturas. O crioulo fora da nossa fronteira é desconhecida e quando é conhecida é praticamente diferente. Deixemos os linguísticos fazerem o seu trabalho e que se valorize o ensino no português com boas escolas e pessoal docente competente. O ensino é mediocre na Guiné porque alguns professores não dominam a língua portuguesa.
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