Jesus ilustra a história de um homem, provavelmente rico, que se ausentando de seu país, chama alguns de seus servos e lhes dá talentos para que administrem enquanto estiver fora. Cada um desses homens recebeu uma quantidade. Aquele senhor, depois de muito tempo, volta e resolve acertar contas com os três homens que estavam incumbidos de administrar suas riquezas. Dois deles administraram muito bem, porém, aquele que recebeu menos foi duramente criticado e punido, pois não fez aquele talento que recebeu render durante todo aquele tempo.
Jesus quer deixar claro quem é Deus.
Está na parte final dos seus ensinamentos. Tem consigo os discípulos e, neles,
todos os que virão a acreditar na sua palavra. Como nós, hoje. E recorre a três
parábolas muito concretas: A da festa nupcial, narrada no domingo passado, a da
avaliação final ou do juízo da humanidade e do universo, no próximo domingo que
a Igreja celebra como a Festa de Cristo Rei, a de hoje dedicada aos talentos
confiados aos servos por um homem rico que vai fazer uma viagem. Por indicação
do Papa Francisco este domingo é consagrado especialmente aos Pobres, o que
indica uma chave de leitura para o texto evangélico
Mateus elabora uma excelente catequese
para os judeus convertidos, destinatários preferenciais do seu evangelho. E faz
uma narração em que praticamente todos os elementos têm um especial
significado. Vale a pena acompanhar o seu precioso relato.
Um homem parte de viagem. (Mt 25,
14-30). Certamente teria razões sérias: Gosto pela aventura, cansaço das rotinas
da vida, tentativas de alcançar novos benefícios, ou o desejo de mostrar uma
faceta do seu coração: a confiança nos empregados e no seu agir responsável?
Tudo aponta para esta última hipótese. Os dons entregues gratuitamente têm
apenas em conta as capacidades dos servos, nem sequer as necessidades ou outras
circunstâncias. São à medida de cada um. Sem exigir nada que a ultrapasse. Não
pretende sobrecarregar ninguém, nem provocar cansaços estéreis. Nada de
“burnout”. Mas uma excelente oportunidade para que as capacidades possam
desenvolver-se, afirmar-se, atingir a maturidade. Que propósito sublime e
beleza confiante!
A viagem demora o tempo suficiente para
que os servos possam realizar o trabalho encomendado. Certamente que,
entretanto, vários sentimentos o assaltam, antes de vir encontrar-se com eles.
Mas a confiança na sua atitude responsável prevalecia. E que grande alegria se
apoderou do seu coração quando ouvia o relato do que havia acontecido aos dois
primeiros. Tinham conseguido o pleno: Os cinco multiplicaram-se por outros
cinco; o mesmo acontecendo aos dois que alcançaram outros dois. O dono tem uma
reacção curiosa, cheia de mensagem: Não reclama nada, mas tudo entrega de novo:
as mais-valias e os talentos confiados. Com provas tão positivas, os servos
podem desempenhar serviços maiores e saborear a alegria exuberante do seu
senhor. Que momento tão consolador! Que desfecho tão surpreendente! Que apreço
pela confiança serena e activa!
O mesmo não acontece com o que havia
recebido o talento proporcional às suas capacidades e actua de acordo com as
regras que conhece: Sabia que és severo; tive medo e salvaguardei o teu
talento; aqui o tens. Mateus ao destacar as razões invocadas deixa a claro a
força paralisante do medo, a asfixia das capacidades que provoca, a
esterilidade da vida respaldada na segurança e na acomodação. Razões que podem
iluminar muitas atitudes e comportamentos actuais, e, à maneira de “chicotada
psicológica”, abanar consciências adormecidas. E o dono complacente aceita a
medida indicada pelo servo medroso. As razões que acompanham a sua declaração
visualizam as trevas do seu coração, a solidão em que se colocou, o choro da
lamentação consentida. “Tudo isto revela o que impediu o servo de entrar numa
relação de confiança”, que é um dos objectivos da parábola. (Vers Dimanche, nº
469).
Deus oferece-nos a possibilidade de
viver já a sua alegria. Espera que correspondamos à confiança que tem em nós e
cuidemos dos seus dons que enriquecem a nossa humanidade: Os da criação e das
criaturas, os da saúde integral e da educação libertadora, os da solidariedade
operativa e da caridade a toda a prova, os da celebração dos sacramentos e da
participação na missa dominical, os da graça divina como presença revigorante
das nossas forças peregrinas.
O Papa Francisco envia-nos uma mensagem
especial para o “Dia Mundial dos Pobres” que celebramos, hoje. Dela retiramos
este parágrafo persuasivo: “Benditas as mãos que se abrem para acolher os
pobres e socorrê-los: são mãos que levam esperança. Benditas as mãos que
superam toda a barreira de cultura, religião e nacionalidade, derramando óleo
de consolação nas chagas da humanidade. Benditas as mãos que se abrem sem pedir
nada em troca, sem «se» nem «mas», nem «talvez»: são mãos que fazem descer
sobre os irmãos a bênção de Deus. (da mensagem do Papa Francisco para o dia
Mundial dos Pobres, nº 5). Os dons de Deus estão nas nossas mãos!
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