O investigador guineense Timóteo Saba M´bunde considerou hoje que a China e o Brasil utilizam um discurso "terceiro-mundista" de "solidariedade e irmandade" para atingir determinados interesses em África, nomeadamente na Guiné-Bissau.
Em entrevista à agência Lusa, o autor da
obra "As políticas externas Brasileira e Chinesa para a
Guiné-Bissau", Timóteo M'bunde disse acreditar que a China e o Brasil
"têm os seus interesses no continente (africano) e na Guiné-Bissau e
procuram legitimar o seu engajamento com a Guiné-Bissau a partir desse discurso
de solidariedade e irmandade".
O investigador considerou ainda que
"tanto o Brasil como a China lançam mão desse discurso terceiro-mundista,
que vem desde a Conferência de Bandung, justamente para se poderem projetar no
plano internacional, particularmente no continente africano".
"Isso gera uma certa tranquilidade
por parte das lideranças politicas, (...) que tentam dissipar desconfianças
sobre qualquer tendência de exploração neocolonial dessas potências emergentes
(Brasil e China)", disse.
Na sua obra lançada este ano, o autor
guineense traça um panorama da história política da Guiné-Bissau, desde a sua
independência, em 1974, até 2014, comentando os modelos políticos, laços
histórico-culturais e os interesses brasileiros e chineses no seu país de
origem, ao nível da política externa.
O investigador admitiu que a Guiné-Bissau
é um país com grande dependência de relações externas, mas afirmou que é
necessário mais do que isso para que o país africano evolua a vários níveis.
"A Guiné-Bissau, assim como boa parte
dos países da África subsaariana, é um país dependente de recursos de
cooperação. No entanto, eu acredito que essa dependência não traduz a ideia de
que a cooperação internacional (...) seja capaz de gerar desenvolvimento neste
país africano".
O investigador acrescentou ainda que esse
desenvolvimento só se consegue através da junção de forças entre os agentes
externos e internos, afirmando que a Guiné-Bissau efetivamente depende das
potências chinesa e brasileira, mas duvida de um desenvolvimento efetivo
resultante apenas dessa ajuda externa.
No âmbito do programa "Cooperação
Sul-Sul" - um programa de articulação política e de intercâmbio económico,
científico, tecnológico e cultural entre países em desenvolvimento,
maioritariamente, do hemisfério Sul- o Brasil e a China são os principais parceiros
da Guiné-Bissau e, segundo o autor guineense, são estes os dois países que têm
tido um papel mais ativo no desenvolvimento deste país africano.
Quanto aos campos de atuação de política
externa e cooperação para a Guiné-Bissau, o Brasil tem elegido "a educação
e a formação técnica", enquanto a China tem apostado em
"infraestruturas e exploração de recursos naturais", disse Timóteo
Saba M´bunde.
O jovem guineense disse ainda à agência
Lusa acreditar que a Guiné-Bissau, "consolidando a estabilidade política
governativa, poderá ter uma melhor inserção internacional e, consequentemente,
tirar dividendos económicos do seu engajamento com a China e o Brasil".
Com a Lusa
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