terça-feira, 17 de dezembro de 2019

A MINHA CONFISSÃO! POIS, QUERO UMA GUINÉ-BISSAU, COM PROJETOS POLÍTICOS QUE REPRESENTEM, VERDADEIRAMENTE, OS INTERESSES DA POPULAÇÃO


É muito lamentável ver alguns/algumas jovens guiguis engajados (as) e determinados (as) em defender uma formação política voltada para os seus interesses pessoais, em vez de fazer isso em prol da Guiné-Bissau e quem sofre com tudo isso somos todos nós que não necessariamente nos beneficiamos do sistema.

Fico triste ao assistir jovens que se dizem portadores de diplomas universitários adotarem pensamentos retrógrados ao alegarem que não votariam em uma dada candidatura, porque o postulante ao cargo não possui nível universitário. No entanto, ser líder competente não pressupõe, necessariamente, ser portador de diploma de nível superior. O essencial, pelo menos é o que diz a maioria dos manuais de ciência política, é que o postulante ao poder representativo seja ético, responsável e comprometido com os interesses do país e, lamentavelmente, são poucas as pessoas, neste momento histórico, independentemente de sua formação partidária e do seu nível universitário, à disposição da nação para assumi-la, de verdade, rumo às grandes transformações necessárias.

Há algumas pessoas que usam, infelizmente, discursos “étnicos” para conseguirem votos e não são tachadas de “tribalistas”, porquanto pertencem a uma cor partidária que é “intocável”; caso o outro o fizesse, haveria, sem sombras de dúvidas, grande repercussão e rotulação. Por que isso acontece em uma sociedade como a nossa? Isso não deve continuar a acontecer na nossa sociedade que é plural e heterogênea.

Ainda há pessoas que dizem que não há “tribalismo” na nossa sociedade e ressentimento contra alguns grupos “étnicos”. Contudo, eu diria o contrário, visto que algumas pessoas são induzidas desde a tenra idade a odiar alguns povos.

Muitas vezes fui tachado pelo fato de ser Brasa (Balanta) e sofri bastante com isso, pois somos considerados à margem da sociedade guineense. Comecei a reparar esse fato desde o 9º ano quando um professor me rotulou por ser quem sou. Tal fato tem-se repetido enésimas vezes. Há pessoas que só me enxergam como Brasa e não como guigui. Isso é chocante em uma sociedade como a nossa, na qual há misturas de todo tipo. Nesta lógica, pergunto-me: como devo me enxergar? Em função disso, General Dabana Naualna postula no Facebook o seguinte: “Se um dia formos capazes de ver numa pessoa um indivíduo e não uma tribo inteira, nesse mesmo dia provaremos o gosto da nossa guineendade”. Essas questões devem ser pensadas e debatidas e não ser um tabu na nossa sociedade.

Outro fato relevante a ressaltar é que há “inteligentinhos no Facebook” que são especialistas em abordar diferentes temáticas e isso me deixa tão preocupado e inquieto, pois cada uma/um agora é perito em tudo e versa sobre tudo com firmeza e propriedade. Afinal, não sabemos quem é quem? É um caos total.

Aplaudo vivamente o meu irmão do peito Emílio, vulgo Pala de Mindara, que, no dia 17 de fevereiro, abordou, no vídeo em direto e no post do dia 21 do referido mês do corrente ano a malandragem e a incompetência dos políticos guiguis e a hipocrisia de alguns/algumas que os (as) defendem. Precisamos de mais pessoas como ele que tenham a capacidade de enxergar além da ponta do seu próprio nariz, pois não é à toa que o grande Isaac Newton afirma que se ele viu “[...] mais longe, foi por estar de pé sobre ombros de gigantes”. Infelizmente poucos têm entendimento sobre o que Pala queria transmitir.

Irmão Pala, que você continue com a sua convicção, visto que são poucas as pessoas que enxergam o processo como você na sua condição de vivência como simpatizante do PAIGC ao longo de inúmeros anos e que, apesar de usufruir alguns benefícios, isso não o deixou deslocado da realidade a sua volta.

É decepcionante constatar que algumas pessoas simplesmente escamoteiam verdades e isso nos custou muito e nos custará ainda mais e esse é o motivo pelo qual a Guiné-Bissau tem estado em abismo e em apuros e eu não posso ficar sereno e contentar-me com isso. Por isso concordo com o advogado Domingos Quadé: “A terra que viu nascer e formou não pode afundar-se, inclusive comigo lá dentro, mantendo-me, entretanto, impávido e sereno”.

Infelizmente, pelo que tenho constatado nas redes sociais e não apenas nelas, tudo indica que não estamos aprendendo com a história; sempre somos movidos pelos interesses partidários e pessoais, o que é muito triste e preocupante em pleno século XXI. O que há é uma doutrinação total nas redes sociais para convencer as pessoas, a todo custo, a votarem em um partido político. Para esse efeito, usam o discurso de que há uma formação partidária mais preparada para o projeto de desenvolvimento. Entretanto, pergunto: o que é um projeto de desenvolvimento? Será que as outras formações políticas não o têm? E não são preparadas? Tanta hipocrisia!!!! Há pessoas que simplesmente endeusam alguns políticos e adoram fazer isso e depois afirmam com toda letra “sou uma pessoa instruída e competente”. Que pena!!!

Pela minha experiência as pessoas não votam nos projetos políticos, mas votam, sim, pela ideologia, infelizmente.

Quero uma Guiné-Bissau: na qual os projetos políticos representem, verdadeiramente, os interesses da população, onde os políticos põem o interesse da população em primeiro plano, onde não haverá mais golpes de Estado, onde não reinará destituição do governo, onde o meu povo saboreará o gosto da guineendade, onde os políticos terão como meta construir um país onde os seus filhos possam estudar em uma escola pública com os filhos da população comum, onde os hospitais públicos serão frequentados tanto por políticos como pela população em geral, onde haverá clareza na seleção de bolsa de estudo e não haverá suborno e nem privilégio devido à condição social e econômica, onde haverá uma boa infraestrutura e uma boa estrada, onde há saneamento básico, onde ninguém precisará ser mandado para fora do país por falta de materiais nos hospitais públicos, onde ninguém morrerá por causa de paludismo, onde as notas escolares não serão mais comercializadas pelos (as) professores (as), onde os medicamentos dos hospitais não serão mais furtados pelos próprios médicos, onde as nossas mães não morrerão mais de parto por falta de luz na ocasião de uma cesariana, onde haverá ensino de qualidade para que possamos competir, pelo menos, com a nossa sub-região no mesmo pé de igualdade, onde haverá universidades de qualidade não só na capital, mas, também, em todas as outras regiões do país, de modo a incluir o maior número possível de cidadãos guineenses.

Quero um país onde ninguém será tachado por pertencer a um determinado povo, onde ninguém votará simplesmente em uma dada candidatura por pertencer ao seu povo, onde reinará a justiça e igualdade social e onde os (as) professores (as) serão reconhecidos (as), pagos (as) atempadamente com um salário justo.

Há quem dirá que tudo isso não passa de uma grande utopia e me perguntarão: para que serve a utopia se nós nunca a alcançaremos? Para essas pessoas, resgato, então, os dizeres de Eduardo Galeano: “A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos, e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais a alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar”.

Portanto, amigos (as), caminhemos rumo a uma peregrinação constante para alcançarmos aquilo que o filósofo Platão, há 2400 anos, já nos recomendava: a transcendência, isto é, a capacidade de superarmos a nós mesmos em todas as nossas limitações, de tal forma que possamos alcançar tudo aquilo que é maior do que nós mesmos e que, no caso da Guiné-Bissau, é o interesse maior do povo guineense e não de grupos políticos locais focados em seus próprios interesses.

Agora estou aliviado e podem me apedrejar. A ver vamos!!!
Nha mantenhas,
Isna Sia Namara
Licenciando em Matemática pelo Instituto Federal da Bahia – IFBA.

Nota: Os artigos assinados por amigos, colaboradores ou outros não vinculam a IBD, necessariamente, às opiniões neles expressas.

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