O novo chefe de Estado da Guiné-Bissau,
Úmaro Sissoco Embaló, investido na ausência do líder do Parlamento, garantiu
esta quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020, que será um presidente de transformação,
mudança, paz, justiça, progresso e da liberdade de cada guineense.
Embaló discursava numa cerimônia de tomada
num acto dirigido pelo primeiro vice-presidente da Assembleia Nacional Popular,
Nuno Gomes Nabiam, na presença da segunda vice-presidente, Hadja Satu Camará e
uma parte de deputados de Nação.
A cerimónia foi igualmente testemunhada
pelo chefe de Estado cessante, José Mário Vaz. A investidura de Embaló foi
realizada um dia depois de a candidatura de Domingos Simões Pereira ter dado
entrada de mais um recurso de contencioso eleitoral ao Supremo Tribunal de
Justiça, na sua veste do Tribunal Constitucional.
O Presidente investido disse no seu
discurso que representará aspirações, sonhos e anseios de todos e de cada um,
não os interesses. “Eu nunca serei um Presidente em defesa de interesses,
venham eles de ondem vierem”.
Eis na íntegra o discurso de novo Chefe de
Estado da Guiné-Bissau, Úmaro Sissoco Embaló…
A nossa investidura hoje ao mais alto
cargo da Nação, como Presidente de todos os guineenses, representa um novo
começo para a Guiné-Bissau, a inauguração de uma nova era de dignidade, paz e
progresso para os guineenses.
Candidatamos à mais alta magistratura da
NAÇÃO e fomos escolhidos pelo povo da Guiné-Bissau, com larga e inequívoca
maioria, para cumprir os objetivos e os sonhos de um povo heróico, nobre e
honrado, que vêm sendo sucessivamente adiados e defraudados.
Esta esperança do povo da Guiné-Bissau é a
razão fundamental pela qual eu sou hoje investido perante vós, guineenses,
traduz a vossa vontade de Mudança.
Por isso estou aqui, para vos servir, para
vos honrar, para concretizar os desígnios e anseios de um povo humilde, que
foram a razão da nossa Independência, e cuja concretização o povo aguarda há 47
anos.
O balanço dos anos de independência
traduz-se lamentavelmente hoje, no falhanço total da concretização dos Sonhos
pelos quais lutaram os nossos avós e os nossos pais.
Ao longo de 47 anos, o nosso povo almejou
uma vida melhor, que jamais alcançou devido ao o deficit de governação
patriótica e da competência e falta de altruísmo, conduziram-nos ao retrocesso
e à tragédia coletiva, a tal ponto que hoje temos piores escolas, piores hospitais, piores
infraestruturas no geral.
Guineenses,
Pertencemos à geração do concreto e
acreditamos que todos nós, juntos, seremos capazes. A luta da geração do
concreto “é uma luta para ter pão, para ter terra, para ter escolas, para ter
hospitais, uma luta sobretudo para o desenvolvimento, em suma, para que as
nossas crianças não sofram mais.
Essa será a nossa luta.
Será também uma luta para mostrar ao mundo
que somos um povo digno, trabalhador e honesto, dignos filhos de Cabral.
Para que se realize o sonho de Amílcar
Cabral e dos nossos mártires da independência, que é também o nosso sonho por
uma vida melhor, impõe-se, hoje, um novo começo, a Refundação do Estado
Guineense e d as suas instituições.
As motivações que juntaram os guineenses
na luta pela Independência e a fundação do Estado diluíram-se nas quezílias e
lutas intestinas dos últimos 47 anos. Hoje é preciso encontrar novos motivos,
novas causas, novas bandeiras para juntar os guineenses em torno de uma Nova
Aliança, baseada em aspirações comuns.
Nós vamos Redundar o Estado, congregando
as vontades nacionais em torno de novos alicerces, novas causas, consubstanciando
valores e aspirações partilhados pelos guineenses no Século XXI.
Essa Nova Aliança traduz-se na preservação da soberania, na reconciliação
nacional, na coesão social e inter-étnica, na estabilidade política, na igualdade, justiça e
cidadania para todos, no acesso à educação, à saúde, à habitação e a infraestruturas e
serviços de qualidade, na afirmação do guineense no mundo, na restauração da
autoridade do Estado, no primado da Lei e dos direitos humanos, no combate à
corrupção, na melhoria da qualidade da governação nacional e local, na
criação riqueza partilhada numa Nova Sociedade regida pela solidariedade. Estes novos valores,
aspirações e objetivos formarão o cimento que unirá os guineenses em busca de
um futuro melhor, de Paz, Justiça, Progresso e Liberdade.
Nos últimos anos de desnorte, desordem e
banditismo político o Estado Guineense colapsou e com ele desabaram e ruíram
todas as suas traves mestras, as instituições nas quais se traduz a ação do
Estado. Por isso é imprescindível a Refundação dessas Instituições, a começar
pela Justiça e a Administração pública, atualmente corroídas pela corrupção.
Saliento ainda que o combate feroz à
corrupção, ao narcotráfico e ao banditismo constituirão objectivos estratégicos
e destacados da minha magistratura.
Este combate sem tréguas ao crime
organizado, nacional e transnacional, será um dos vectores fundamentais para a
restauração da segurança interna e da dignidade dos guineenses no mundo. Por isso eu presidirei ao Conselho de
Ministros sempre que se tratar da adoção de políticas, estratégias, programas e
instrumentos de combate a estes flagelos, pela moralização do Estado e da
Sociedade.
Enquanto herdeiro dos nossos heroicos
combatentes da liberdade da Pátria, que sou e orgulhosamente oriundo das Forças
Armadas, “a minha luta é também uma luta para mostrar à face do mundo que somos
gente com dignidade”.
Para tal é essencial promover a
credibilização da imagem externa do nosso país, garantindo a assunção plena dos
engajamentos da Guiné-Bissau a nível regional, continental e global, voltando a
fazer do nosso país um parceiro respeitado na Comunidade das Nações.
Por isso, eu irei promover iniciativas com
vista à promoção e afirmação do prestígio externo da Guiné-Bissau, no quadro de
uma ação estratégica que irá converter o nosso país num parceiro útil dos novos
actores globais no nosso espaço regional.
Assim potenciaremos os fatores de
crescimento económico da Guiné-Bissau, fazendo do nosso país uma terra próspera
em proveito de todos os seus filhos.
Para que possamos erguer um Novo Estado,
virtuoso e movido por uma visão partilhada por todos os guineenses, eu serei o
promotor incansável da Reconciliação Nacional. Uma reconciliação baseada na
justiça e na verdade.
Para tal, desde hoje, eu convido todos os
guineenses a baixarem as armas do ódio, da intriga e da maledicência, a fim de
olharmos todos para os mesmos objetivos e metas: fazer da Guiné-Bissau uma
terra de homens e mulheres felizes, vivendo em harmonia, numa Pátria de
Justiça, sob o império da Lei, partilhando a riqueza comum dos nossos mares, do
nosso subsolo e da nossa terra fértil, em benefício de todos, sem excepção e
sem discriminação.
Nós vamos construir um país novo, um país
para todos, onde todos são iguais, onde ninguém se sentirá excluído. Esta será
a pátria igualitária de todos nós, Felupes, e Jacancas, Balantas e Fulas, Pepeis e Manjacos, Mandingas
e Baiotes, Beafadas e Saraculés, Mancanhes, Oincas e Sussus…este será uma país de todos e para
todos.
Eu quero daqui dirigir um agradecimento e
uma homenagem muito especial a Sua Excelência o Senhor Presidente José Mário
Vaz, o Presidente que, devido à sua postura dialogante e de defesa da soberania
a e das instituições, inaugurou a era em que os Presidentes guineenses terminam
o seu mandato. Senhor Presidente, será sempre para mim uma referência e um
Conselheiro de Especial relevância.
O meu agradecimento a todos os candidatos
e a todos os Partidos que numa Aliança Patriótica para o Progresso e o Futuro
Melhor do nosso país, apoiaram a minha candidatura na segunda volta. A todos o
meu profundo reconhecimento e o meu muito obrigado.
Permitam-me uma palavra reconhecimento e
de compromisso para com a Juventude e as Mulheres do meu país. Por forma a
cumprir os meus compromissos com as Mulheres e com a Juventude, eu farei
questão de presidir ao Conselho de Ministros para a aprovação de um Plano
Estratégico de Empoderamento da Mulher e um Plano de Acção Nacional para a
Juventude.
Gostaria de agradecer a todas e a todos,
pela paciência e boa vontade despendidos na busca de uma solução pacífica,
justa e duradoura a esta crise artificial inventada em nome dos compromissos
assumidos para penhorar a nossa Guiné-Bissau.
Mas gostaria também de agradecer a todos
aqueles que se empenharam para eu hoje ser o Presidente de todos os
guineenses. Todos os apoiantes, desde os
ilustres conhecidos aos anónimos, o meu muito obrigada de coração.
Por último, quero agradecer ao povo da
Guiné-Bissau pela confiança depositada na minha pessoa para dirigir os destinos
do nosso País nos próximos 5 anos, tarefa que cumprirei imbuído do mais alto
sentimento de patriotismo e responsabilidade.
Guineenses,
Permitam-me concluir, ressaltando que
partir de hoje, serei o Presidente de todos os guineenses, daqueles que me
votaram, mas também daqueles que não me votaram, daqueles que, até ontem, eram
os meus adversários, mas que a partir de hoje serão meus aliados para
construção de um futuro Comum.
O meu lema será servir a todos, todas as
etnias, todas as religiões, todas as sensibilidades. Eu representarei de forma abnegada as
aspirações, os sonhos e anseios de todos e cada um, não os interesses, porque
eu nunca serei um Presidente de defesa de interesses, sejam quais forem, serei
sim, o Presidente da Transformação, da Mudança, da Melhoria e da realização
concreta dos sonhos de Paz, Justiça, Progresso e Liberdade de cada guineense.
Bem hajam todos!
Bem-haja a Guiné-Bissau, uma pátria para
todos e de todos! Com Odemocrata
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