“Serenamente,
mas seguro de que a minha probidade, que V.Excia bem conhece, perturbará a sua
consciência até me dirigir um pedido público de desculpas, informo V.Excia,
Senhor Primeiro Ministro, que tenho uma eternidade para receber esse seu pedido
e para, com elevação, o desculpar, mas V.Excia, para me dirigir um pedido de
desculpas, só tem a longevidade da sua vida”
Senhor Primeiro Ministro,
Dr. José Maria Neves
Serenamente, mas com grande indignação, fui
informado e depois li na imprensa que V. Excia pronunciou-se sobre um Parecer
meu sobre os Poderes do Presidente da República antes de o ler, agredindo-me
com expressões ofensivas com o único e censurável objectivo de desvalorizar e
desacreditar esse Parecer, o que obviamente não conseguirá com gratuitos
insultos. Por isso, dúvidas não tive que V.Excia quis o resultado e utilizou o
meio que entendeu o mais adequado e eficaz para o atingir, o que não honra um Primeiro-ministro.
Serenamente, por seguro da irrepreensibilidade ética
da minha conduta, deixei correr o tempo necessário para V. Excia se acalmar,
ler e compreender o meu Parecer e outros que, pela sua despolida reacção, intui
que iria pedir; deixei ainda correr o tempo necessário para V. Excia ouvir os
seus conselheiros jurídicos e para assumir publicamente que foi deselegante na
forma como se pronunciou sobre o Parecer, insultuoso e injusto no juízo que de
mim fez e difundiu nos meios de comunicação.
Serenamente, mas firme no juízo de censura que
publicamente lhe faço pela sua conduta eticamente reprovável e no repúdio das
suas soezes afirmações, decidi informar V. Excia que não pretendo judicializar
esta questão, tanto mais que as pronúncias judicativas dos Tribunais, embora
prenhes de juízos de censura, por si sós, não nos conferem dimensão ética, nem
polimento cívico.
Serenamente, mas com a dignidade que sempre norteou
o meu comportamento, aguardei um pedido de desculpas de V. Excia pela ofensa à
minha honra e dignidade pessoal e profissional, pedido que até agora não teve a
elevação cívica de formular, mantendo-se silente, o que não é próprio de um
homem probo.
Serenamente, mas seguro de que a minha probidade,
que V.Excia bem conhece, perturbará a sua consciência até me dirigir um pedido
público de desculpas, informo V.Excia, Senhor Primeiro Ministro, que tenho uma
eternidade para receber esse seu pedido e para, com elevação, o desculpar, mas
V.Excia, para me dirigir um pedido de desculpas, só tem a longevidade da sua
vida, que espero seja suficientemente longa, mesmo sabendo que essa longevidade
consubstancia um castigo que o seu insulto gratuito a quem sempre consigo se
relacionou de forma educada aplicará à sua consciência.
Serenamente, mas sempre e naturalmente sem rancor,
Senhor Primeiro Ministro, confio-lhe por essa forma a tarefa de se autopunir e
a de determinar o tempo que pretende sofrer esse castigo, que durará até que se
retrate.
Serenamente, senhor Primeiro Ministro...
Wladimir Augusto Correia Brito
Professor Catedrático
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