No odemocrata
É, sem margem para dúvida, louvável a decisão do
nosso Primeiro-ministro em solicitar aos membros do seu governo a entrega da
declaração dos seus bens até dia 15 deste mês. Porque na verdade todos os
servidores de Estado da Guiné-Bissau, no exercício de mandatos, cargos, funções
ou empregos nos órgãos de Administração Pública directa ou indirectamente
deveriam, em nome de transparência e de boa governação do país, efectuar a
declaração anual dos seus bens.
Mas, começando agora pelos membros do executivo, já
não é nada mau. Na realidade tinha sempre que começar por uma das categorias
dos servidores de Estado no combate dessa malsã da corrupção que fustiga a
governação em sucessivos governos legítimos ou “golpistas” no nosso país.
Aliás, é, na nossa visão, um dos factores e uma das causas do nosso atraso.
Também a base do enraizamento da cultura de corrupção é, sem dúvida, a ausência
do controlo rigoroso aos titulares de cargos públicos na Guiné-Bissau. O
enriquecimento ilícito tornou-se uma prática “normalizada” e
“institucionalizada”.
Primeiro-Ministro é preciso, todavia, fazer mais
alguma coisa que torne eficiente o acto de declarar os bens por parte dos
membros do seu governo. Porque, senão não terá interesse público e impacto que
deveria ter na algibeira de todos nós os guineenses. Aliás, se Primeiro-ministro
não hologramizar essas declarações de bens dos membros do seu gabinete
ficaremos com má ideia de que as fingiu pedir só para o Zé-povinho de Bandim
que votou nas últimas eleições legislativas ver.
A primeira questão que se coloca agora é a
necessidade de haver um órgão composto por pessoas com reconhecida competência
e com a ideoniedade tecno-moral provada que recebe e controle as declarações
dos bens dos membros do governo. O referido orgão teria o poder de investigar e
acompanhar os desempenhos de cada membro do governo. A mesma estrutura teria
igualmente a competência de auditar os referidos governantes no final dos seus
mandatos. Caso contrário, a famosa declaração de bens não passaria de um mero
acto publicista por parte do Primeiro-Ministro. É preciso ter a coragem de
criar este orgão para dar alma a esta importante iniciativa que deverá albergar
outros detentores de cargos públicos deste país.
A Alta Autoridade da Luta contra Corrupção é para
nós um fiasco total. Desde o início da era democrática nunca a ouvimos a
pronunciar publicamente sobre casos de corrupção que flagela este país. Na
mesma linha temos o Tribunal de Contas que nunca publicou irregularidades nas
contas de uma das instituições do nosso Estado.
Por isso, confiar outra vez o Tribunal de Contas ou
a Alta Autoridade de Luta Contra Corrupção pela fiscalização da moralidade dos
governantes, seria uma perda de tempo nesta era do regresso à ordem
constitucional.
As declarações de bens dos Ministros de Domingos
Simões Pereira devem fazer parte da prevenção e de combate à corrupção na
gestão de Rés-publica. Todos os Ministros do governo devem apresentar os seus
bens, nomeadamente imóveis, móveis, acções, investimentos financeiros,
participações societárias e outros bens e valores patrimoniais existentes no
país e no estrangeiro. Devem também fazer parte das declarações, os bens e
valores relacionados com os seus cônjuges: companheiro(a), filhos e outras
pessoas que estejam na dependência económica dos Ministros.
As declarações de bens e valores dos nossos
governantes devem ser tornados públicos nos Media nacional, aguardadas num
portal da Primatura e actualizadas anualmente até dia 15 de Setembro de cada
ano. Tudo para que a transparência seja mesma transparência aos olhos do
Zé-povinho de Bandim. Por outro lado, é preciso conhecermos as sanções ou as
medidas que o Primeiro-Ministro irá aplicar ou tomar para com os Ministros que
não entregarem dentro do prazo as suas declarações de bens ou que eventualmente
apresentarem falsas declarações. Será que apresentação de falsa declaração é
justa causa para o Primeiro-Ministro mandar o governante para casa? Na nossa
visão seria uma boa solução Domingos Simões Pereira mandar para casa o Ministro
que apresentar falsa declaração de bens. Porque quem apresentar falsas
declarações não merecerá mais a confiança do Zé-povinho que votou a 13 de Abril
último.
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