O investigador de questões identitárias
Tcherno Djaló disse à Lusa que a Guiné-Bissau "tem a sorte" de ser
constituída por diversas etnias que se respeitaram entre si ao longo de séculos,
ao contrário de outros países africanos.
Antigo ministro da Educação guineense,
Tcherno Djaló considerou que embora as elites, a liderança do país, estejam
cada vez mais tentadas a "manipular e a empurrar" os grupos étnicos,
estes nunca entraram em conflitos.
O facto de a Guiné-Bissau ser
constituída por mais de 30 grupos étnicos diferentes, cada um com a sua
cultura, organização politica, rituais e idiossincrasias próprias, é para o
investigador formado em Ciência Política na Suíça uma "grande sorte".
"Nunca houve um problema na Guiné.
Não há o problema do espaço vital (de uma etnia), nunca houve uma confrontação
interétnica até agora apesar de todas as convulsões políticas que nós temos
tido. Isso limita-se às esferas do poder, não chega às bases. Esta é a sorte da
Guiné", afirmou Tcherno Djaló.
Tal como nos outros países, a liderança
política parece estar tentada a criar "um falso problema" na
Guiné-Bissau opondo as populações umas contra outras com pressupostos étnicos,
disse ainda Djaló, dando o exemplo da vizinha Guiné-Conacri onde, afirmou, as
clivagens são reais.
"O nosso vizinho, a Guiné-Conacri,
tem uma clivagem muito forte, uma confrontação forte entre os Fulas e os
Malinkés, derramamento de sangue, uma linha política, organizações políticas na
base étnica", o que "não é o caso" da Guiné-Bissau, sublinhou.
Se no passado, a liderança intelectual e
política teve o condão de juntar todos os grupos étnicos à volta da luta armada
contra a dominação colonial, a tarefa deve ser agora unir as etnias novamente
para a tarefa do desenvolvimento, uma ideia que Djaló considerou como difícil,
devido aos interesses.
"Lutar contra um inimigo comum é
fácil, agora lutar por, pela e ainda por cima sem se ter um alvo em concreto, é
mais difícil mas aí é que reside a capacidade das lideranças nacionais",
notou o investigador.
Assumindo-se como autor da ideia de uma
segunda câmara no Parlamento que congregasse todas as dinâmicas culturais e
étnicas, Tcherno Djaló entende que o Estado deve, contudo, continuar a ter em
atenção a necessidade de inclusão "de toda gente" nas esferas de
decisão "sob pena de criar clivagens".
Defensor da ideia de manutenção do
"clima de entendimento pacífico da diversidade étnica" na
Guiné-Bissau, que disse ser de há seculos, o investigador lembrou ao Estado o
seu papel de "pai da unidade".
Questionado sobre se a diversidade
étnica pode ainda um dia ajudar a forjar uma nação guineense, Tcherno Djaló
afirmou que tudo irá depender do papel do Estado, mas salientou que prefere
falar "em várias nações" que se vão juntar na República da Guiné-Bissau.
"Ai de nos se tivéssemos uma
expressão cultural monolítica. É uma grande riqueza deste país. É o que faz com
que tenhamos esta dinâmica cultural muito viva", observou Djaló.
O país não tem tido atenção à cultura
porque "tem estado ocupado em cuidar da sobrevivência" das
populações, disse Tcherno Djaló, que acredita que no futuro essa tendência será
invertida.
Antigo professor de Ciência Política e
Relações Internacionais na Universidade Lusófona de Lisboa, Tcherno Djaló é
cofundador da Universidade Amílcar Cabral da Guiné-Bissau. Com a Lusa
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