O jornalista e repórter de guerra
sul-africano Al Venter considera Amílcar Cabral, “pai” das independências da
Guiné-Bissau e Cabo Verde, “a maior figura da libertação” em África, “bem
acima” dos restantes líderes dos movimentos de libertação africanos.
Numa entrevista à agência Lusa, o autor
de “Portugal e as Guerrilhas de África”, editado este mês pelo Clube de Autor,
lembra também António de Spínola, “um dos líderes mais liberais que conheci”,
considerando-o um homem “brilhante, talvez o mais brilhante” dos militares
portugueses que conheceu em África.
Al Venter, 78 anos, cobriu as três
frentes das guerras que Portugal manteve entre 1961 e 1974 – Angola, Guiné e
Moçambique – e o livro ora lançado é um reflexo da vivência que manteve com o
Exército, Marinha e Força Aérea portuguesas ao longo dos 13 anos de conflitos
contra o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), Partido Africano da
Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e Frente de Libertação de
Moçambique (Frelimo).
“ (Amílcar Cabral) está bem acima de
qualquer outro líder de movimentos de libertação, não só nos antigos
territórios portugueses mas de todos os africanos. (O PAIGC) tinha um exército
agressivo e disciplinado”, salientou.
“E Cabral soube aproveitar a geografia
da Guiné, que não tinha os problemas encontrados pela Frelimo ou pelo MPLA, que
eram obrigados a percorrer centenas ou milhares de quilómetros para
movimentarem as tropas e o armamento pesado."
Além disso, reforçou, o PAIGC de Cabral
era “solidamente” apoiado pelo regime de Sékou Touré, na vizinha Guiné-Conacri
(onde o movimento tinha a sua base militar), que contava com o apoio da então
União Soviética, o que ajudou no conflito e na declaração unilateral da
independência a 24 de setembro de 1973, oito meses depois de, ironicamente, ter
sido assassinado precisamente em Conacri.
Na entrevista à Lusa, e transversalmente
a diversas questões, o nome de Spínola surgiu recorrentemente, com o também
realizador de documentários sobre conflitos a lembrar que o conheceu em Bissau,
no fim dos anos de 1960, assumindo uma “grande admiração” pelo então Governador
Militar da Província Portuguesa da Guiné.
“Era um homem invulgar. Direto, às vezes
embaraçosamente direto, duro e um defensor da disciplina. Não tolerava
preguiçosos e punia os que, mesmo sendo pessoas da sua confiança, se
relaxassem. Mas era suficientemente modesto para se sentar com as pessoas,
fossem oficiais, fossem populares, e ouvir o que tinham a dizer”, sustentou.
Al Venter lembrou que, durante o
acompanhamento de missões de combate com as tropas portuguesas, conheceu
também, entre muitos outros, Otelo Saraiva de Carvalho e Vítor Alves, ambos
ligados à revolução de 25 de abril de 1974, de quem ficou “muito amigo”.
Sobre Angola, o repórter de guerra
mostrou-se “crítico” face ao MPLA, sobretudo por, já depois da independência,
ter agido de forma a pôr cobro ao cessar-fogo que permitiu as eleições de 1992
e de ter “assassinado” o líder da União Nacional para a Independência Total de
Angola (UNITA), Jonas Savimbi, em 2002, depois de ter contratado “um bando de
mercenários sul-africanos”.
Em relação a Savimbi, aliás, Al Venter
considera-o “um dos maiores líderes da guerrilha do século XX” do antes da
independência de Angola (11 de novembro de 1975) e que soube ser sempre
“extremamente cauteloso” e evitar as sucessivas tentativas para o assassinarem.
Al Venter disse nunca ter percebido por
que razão os Estados Unidos decidiram apoiar o líder da Frente de Libertação
Nacional de Angola (FNLA), Holden Roberto, associado ao então presidente do
ex-Zaire (atual República Democrática do Congo), homem que considerou “corrupto
e alcoólico”.
Sobre Moçambique, quer a Frelimo quer a
Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) combateram “inteligentemente” contra
Portugal, inteligência que “faltou a ambos” na guerra, apesar de considerar que
Afonso Dhlakama liderava, na altura, um “exército insurgente invulgarmente
competente”.
“Se as guerrilhas estavam prontas para
enfrentar as forças portuguesas no terreno? Sim, tanto na Guiné como em
Moçambique e não em Angola, embora, neste último caso, a guerra durou o tempo
suficiente para o MPLA o tentar verdadeiramente”, concluiu.Com a Lusa
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