O ex-representante da ONU para a
Guiné-Bissau, José Ramos-Horta, na altura fez muitas campanha e defendeu hoje
que "o imbróglio político" naquele país não tem só um responsável assumindo
a sua parte e instou à procura do diálogo, saudando "o papel muito positivo" das Forças Armadas, à margem da crise.
Ramos-Horta foi recebido hoje, em
audiência, pelo Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, com quem abordou
a situação na Guiné-Bissau, onde a falta de entendimento político fez com que
nos últimos 11 meses o país já tenha tido quatro governos, o último dos quais
empossado no início deste mês.
No final do encontro, Ramos-Horta
referiu que "há uma crise política, é óbvio, o país está meio paralisado,
mas não há guerra, não é necessário dramatizarmos".
Perante o "imbróglio" que
atravessa a Guiné-Bissau, não é possível responsabilizar apenas uma parte,
considerou o antigo Presidente timorense, em declarações aos jornalistas no
Palácio de Belém.
Ramos-Horta destacou o "papel muito
positivo das Forças Armadas, que continuam nas casernas sem interferir".
"Sempre que houve algo negativo
feito pelo exército, no passado, criticávamos e eram sancionados. Nos últimos
dois anos, têm-se comportado admiravelmente. É preciso registar, para os
encorajar a manter-se nos quartéis, sem interferir na crise política",
sublinhou.
O antigo representante dosecretário-geral das Nações Unidas para a Guiné-Bissau recomendou que não se
desista dos esforços para "levar as partes envolvidas na Guiné-Bissau ao
diálogo".
"Sabemos que não é fácil, é preciso
muita paciência de quem gere a situação", admitiu, apontando também que os
políticos guineenses têm de compreender que "há muitas outras preocupações
e prioridades da comunidade internacional, e correm o risco de a Guiné-Bissau
ser penalizada pela não resolução desse imbróglio político".
Questionado sobre o papel do Presidente
guineense, José Mário Vaz, nesta crise, Ramos-Horta considerou que, nas
circunstâncias atuais, "deve ser sobretudo o aconselhador, o pai da Nação,
deve reunir toda a grande família guineense".
Ramos-Horta referiu que o responsável
guineense - que se encontra em Portugal em visita privada -, já ouviu os
partidos políticos e a sociedade civil na Guiné-Bissau, mas também os parceiros
no âmbito de organizações internacionais como a ONU, a CEDEAO, a União
Africana, a CPLP, e encontrou-se ainda com "o grande mestre, o grande
professor Marcelo Rebelo de Sousa", pelo que poderá regressar ao seu país
"mais inspirado, mais encorajado a reactivar o diálogo e a encontrar uma
solução".
O ex-Presidente timorense referiu que
"é possível que o Presidente repense toda a situação e encontre uma
saída", afirmando acreditar que há solução para a crise actual.
"A grande qualidade da Guiné-Bissau
é que não há guerra, não há conflito étnico-religioso, não é o que se passa no
Sudão do Sul ou Burundi", defendeu.
Ramos-Horta deixou, no entanto, um
alerta: "É preciso não esgotar a paciência do povo. Esse povo muito
pacífico também pode perder a paciência".
Por outro lado, advertiu, "a
contínua instabilidade do país pode ser aproveitada pelo crime organizado de
toda a espécie, incluindo grupos extremistas, ideológicos ou religiosos".
Ramos-Horta, que deixou as funções na
ONU há mais de um ano, revelou que continua a ser consultado pela organização
sobre a situação na Guiné-Bissau e ainda no mês passado transmitiu a sua
opinião aos membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
A. Keita
ResponderEliminarQuem protagonizou um tal título a este artigo? É uma simples "Bêtise" (no sentido de "defaut d'intélligence et de jugement" = falta ou defeito de inteligência e de juízo). A S. Exa. Mon Sr. José Ramos Horta foi o melhor Representante do SG. das NU's de todos os que no nosso país passaram até aqui. E, eu tive a oportunidade de trabalhar no sistema aquando dos mandatos de dois: Nana Sincan e David Steven (é o segundo melhor).
Obrigado.
Amizade.
A. Keita