Éder, de 'patinho feio' a cisne branco. Éder, “o menino d’ouro” capaz de lutar contra tudo e contra todos.
Éder é o nome que todos gritam nas ruas
de Bissau, depois de o jogador guineense naturalizado português ter marcado o
golo que fez de Portugal o novo Campeão Europeu de futebol.
"Éder, guineense, és o nosso
orgulho", gritaram vários jovens à porta do Centro Cultural Português, em
Bissau, logo após o jogo, no local onde começaram os festejos, com tachos e
tambores.
Rapidamente, um pouco por todas as ruas,
o nome do goleador passou a ser evocado alto e bom som, ao mesmo tempo que
todos gritavam "Viva Portugal".
Dezenas de carros encheram as ruas do
centro da capital, com bandeiras portuguesas nas janelas e buzinas
ensurdecedoras.
Mas para se fazer a festa foi preciso
passar por muitas emoções.
De luzes apagadas, como num cinema,
centenas de pessoas, guineenses e portugueses, pareciam querer entrar no ecrã
gigante do Centro Cultural Português, impulsionados por raiva, medo, comoção e
até comédia, com uma pitada de calor tropical.
Gritaram de raiva com a falta de
pontaria nos (poucos) remates de Portugal, para logo a seguir exclamarem de
medo com os pontapés dos franceses - defendidos por Rui Patrício.
Houve até comédia aos 38 minutos quando
vários jogadores portugueses tocaram na bola junto à grande área francesa, mas
sem o discernimento para atirar à baliza.
A saída de Ronaldo, lesionado, com dores
e a chorar, foi um ponto alto.
"Ainda estou emocionado",
contou Demba Baldé, arrepiado, ao intervalo.
Ao lado, Cláudio Monteiro encontrou
naquele momento a chave para a vitória: "parece que a saída do Ronaldo
lhes deu outra motivação".
A resposta surgiu aos 109 minutos: um
golo do suplente Éder selou o triunfo da formação das ‘quinas'.
Portugal sagrou-se hoje campeão da
Europa de futebol pela primeira vez na sua história, ao bater na final a
anfitriã França por 1-0, após prolongamento, em encontro disputado no Stade de
France, em Saint-Denis.
A seleção portuguesa tornou-se a segunda
na história da competição a vencer a equipa da casa na final, 12 anos depois de
ter perdido por 1-0 com a Grécia a do Euro2004, no Estádio da Luz, em Lisboa.
Com a Lusa
….
O
internacional português Éder considerou "muito merecido" o título de
campeão europeu de futebol, confessando que, antes de entrar em jogo, Ronaldo
lhe assegurou que seria ele a marcar o golo da vitória.
"Por todo o trabalho que fizemos,
todos os jogadores, todo o 'staff', todos os portugueses que procuram este
título há muito tempo, acho que é fantástico, é muito merecido. Estamos todos
de parabéns", disse Éder, que substituiu Renato Sanches aos 79 minutos e
marcou o golod da vitória sobre a França (1-0), aos 109 minutos, no
porlongamento disputado no Stade de France, em Saint-Denis.
O jogador do Lille confessou que
Ronaldo, que abandonou o jogo aos 25 minutos por lesão, lhe disse antes de
entrar em campo: "Ele [Cristiano Ronaldo] disse-me que seria eu a fazer o
golo da vitória".
"Passou-me essa força, essa energia
dele, foi importante marcar o golo, mas foi muito trabalhado pela nossa equipa.
Desde o início do Europeu fomos espetaculares. Acho que o povo português
merece", salientou.
Éder destacou ainda a confiança que o
selecionador nacional, Fernando Santos, depositou em si.
"Desde o primeiro dia, desde que
Fernando Santos me convocou, ele sabe das minhas qualidades, o grupo sabe,
confiou em mim. Trabalhei para dar o meu contributo e hoje foi possível, estou
muito contente pelo que fizemos", comentou.
Éder,
de 'patinho feio' a cisne branco
Éder, “o menino d’ouro” capaz de lutar
contra tudo e contra todos.
Nasceu longe, em Bissau, mas cresceu num
lar em Coimbra. E foi aí que começou a fazer os primeiros golos. O melhor de
todos marcou-o na final do Euro 2016. Esta é a sua história. De luta.
Éderzito. Éderzito Lopes. Ele é matulão.
Mas, convenhamos: não é propriamente o mais intimidador dos nomes para um
ponta-de-lança. Não é um Karl-Heinz, como o era Rummenigge. Ou tão pouco um
Ruud, como van Nistelrooy o foi. Então, talvez por saber que o nome próprio
era, em si mesmo, um diminutivo ou quase, Éderzito “rebatizou-se” nos relvados:
Éder. Só Éder.
Não, o nome não “intimidava”. Mas a vida
de Éder, desde criança, intimidaria qualquer um. Nasceu na Guiné-Bissau, há 28
anos, mas não tem memória da Bissau natal. Deixou-a quando tinha somente três
anos e veio viver com os pais para Lisboa. E nunca lá voltou. O problema é que
os pais de Éder não tinham condições financeiras para o criar. Foi curta a
estadia em Lisboa, tendo sido colocado num colégio em Braga, a Obra do Frei
Gil, seguindo pouco depois para Coimbra e para o Lar Girassol. Aí fez-se homem.
Desses dias no lar recordaria em
entrevista: “Nós jogávamos muito futebol lá no pátio e eu partia muitos vidros.
Tive alguns castigos por causa disso. Uns puxões de orelhas, uns raspanetes,
tive de ir para a cama mais cedo, sem ver televisão. Por outro lado, chegaram a
tirar-me do futebol por causa das notas e o treinador do Adémia foi ao colégio
pedir para eu jogar. Mesmo que eu não treinasse durante a semana, ele ia pedir
que eu fosse só aos jogos.”
O Adémia foi o seu primeiro clube, dos
15 aos 19 anos. Quando chegou a sénior, transferiu-se primeiro para o Oliveira
do Hospital e depois para o Tourizense, onde ganhou o seu primeiro “grande”
ordenado: 400 euros. “Dei parte à minha mãe e, como o dinheiro era necessário
no dia-a-dia, gastei-o nas coisas essenciais”, diria.
Chegou à Académica em 2008, com apenas
20 anos. E foi aí que deu nas vista entre os melhores, na Liga. Os “estudantes”
até o queriam antes, quando ainda jogava na formação do Adémia, mas por ser
guineense e estrangeiro, não o podiam inscrever para jogar e a contratação
caiu. Éder pensou mesmo em desistir do futebol, desalentado. Parou durante um
ano. “Durante esse ano joguei futebol somente com os amigos. Voltar exigiu de
mim muita vontade e algum espírito de sacrifício.” Mas Éder assume: “Sempre
acreditei nas minha capacidades. Sabia que era difícil, mas acreditava nas
minhas capacidades e, com a ajuda dos amigos, consegui chegar onde cheguei”.
Não eram os mesmos amigos que tem hoje
na Seleção. Nem aqueles que encontrou por todos os clubes por onde passou,
sobretudo o Sp. Braga, onde se fez goleador, não tanto no Swansea, onde a
passagem foi breve, ou mais recentemente no Lille, onde se reencontrou com os
golos. E com eles mereceu um “bilhete” para o Euro 2016.
Não eram os mesmos amigos. Mas na
Seleção teve muitos. E tem. Sobretudo Fernando Santos. Também João Vieira
Pinto. Também Ronaldo. E precisou deles, todos, quando as críticas chegaram.
Não, Éder não é Pauleta, nem Nuno Gomes, nem Eusébio, nem Nené, tão pouco
Cristiano Ronaldo. Não é tão goleador quanto eles. E por não marcar golos na
seleção, tornou-se num “patinho feio” — como Fernando Santos recusou que o
apelidassem um dia.
Éder e a Seleção. Uma história de “ódio”
que resultou em ouro
O primeiro golo de Éder na Seleção até
foi auspicioso. Veio “tarde”, ao fim de 18 internacionalizações e poucos
minutos, mas foi esse seu golo solitário contra a Itália, em junho de 2015, que
permitiu que Portugal acabasse com uma “seca” que durou quase 40 anos: em 11
jogos até aí, não havia maneira de vencer a Itália.
Depois, veio a “seca” de Éder. Esteve
praticamente um ano sem marcar qualquer golo pela Seleção. E com ela vieram
também os apupos. Contra a Bélgica, por exemplo, ainda este ano e pouco antes
do Euro, em março, foi apupado. Muito. O vice-presidente da Federação
Portuguesa de Futebol, João Vieira Pinto, não gostou: “Incomodou-me
particularmente a reação do público ao Éder. Acho que devíamos respeitar mais
os jogadores da seleção, independentemente de gostarmos deles ou não. O Éder
estava a representar o nosso país e acho que merecia muito mais respeito. Está
na seleção porque o selecionador viu nele qualidades”. E Éder, em entrevista à
France Football, semanas depois, agradecer-lhe-ia o reconforto: “Quero
agradecer ao João Pinto por me ter defendido. Haverá sempre pessoas que não são
fãs do meu futebol. Tenho de continuar a treinar”.
Não sabemos se pelo apoio que aí teve —
se por tudo o que viveu na infância e o fez resiliente –, mas a verdade é que
Éder voltou, no Lille, a dar com a direção certa da baliza e dos golos. Fez
seis em 14 jogos em França, depois de uma primeira metade da época em “branco”
no País de Gales e no Swansea.
A confiança voltara. Mas, voltado à
Seleção, voltaram de novo os apupos. Aí, Fernando Santos bateu o pé aos adeptos
de assobio fácil. Como? A 29 de maio, para surpresa de muitos, Ricardo Carvalho
foi substituído no particular contra a Noruega e, sendo ele o capitão, teve que
entregar a braçadeira a alguém, e esse alguém foi Éder. “Não foi prova de
confiança. A confiança é colocar a jogá-lo. É um rapaz inteligente, sabe estar
e confio nele, até para essa função”, explicaria Fernando Santos.
Éder acabaria por ser convocado para o
Euro. E disse, chegado à sala de imprensa, antes da estreia de Portugal contra
a Islândia: “Seja um minuto, cinco ou dez, quero é ajudar a Seleção no momento
em que for chamado e estarei preparado a qualquer momento para ser solução”. E
até foi mais longe. O melhor marcador do Euro? “Não sei… Hmmm… Posso ser eu”,
gracejou, para depois atirar: “Este Europeu tem grandes jogadores, grandes
pontas-de-lança, como o Cristiano [Ronaldo] e o Lewandowski. Mas não quero
apostar nisso”.
Não foi ele o melhor marcador Euro. Nem
Ronaldo, nem “Lewa”. Esse foi Griezmann, da França. Mas Éder acertou, certeiro,
em parte no que disse nesse dia: jogou pouco tempo. Apenas 54 minutos, em três
jogos que começou sempre como suplente. Mas Éder marcaria um golo. O golo da
sua vida. Das nossas vidas. E, aconteça o que acontecer, hoje Éderzito é nome
de avançado intimidador. Tão ou mais intimidador do que Ruud. Tão ou mais do
que Karl-Heinz. Pelo menos para Lloris, o guarda-redes da França.
“Trabalho da melhor forma para conseguir
ultrapassar adversidades. Desde criança é isso que faço. Ser considerado
‘patinho feio’? Não é fácil. Mas não procuro calar ninguém. O meu objetivo
passa por ajudar a seleção da melhor forma.” E ajudou.
José Mário Vaz - Presidente da Republica
da Guiné-Bissau, numa nota na sua página de facebook disse:
“Portugal Campeão da Europa.
Com esta vitória da equipa portuguesa na
conquista do Euro 2016, Portugal e toda a lusofonia estão de parabéns.
Mas, não posso deixar de sentir um
orgulho particular pela contribuição decisiva do nosso Éder Lopes, jogador
luso-guineense.
Felicito a seleção da França como
anfitriã pelo seu desempenho no Euro 2016.
Estamos todos de parabéns.”
L'histoire ne retiendra qu'un nom après la finale gagnée dimanche par le Portugal au Stade de France, près de Paris, face au pays hôte : celui d'Éderzito António Macedo Lopes dit Eder, natif de Bissau.
ResponderEliminarLe Portugal peut enfin prétendre faire partie du cercle très fermé des grandes nations du football mondial. Mais ce n’est pas nécessairement grâce Cristiano Ronaldo, qui n’a pas réellement pesé, dimanche 10 juillet, dans la finale de l’Euro 2016, du moins dans le jeu. Même l’emblématique Panthère noire, Eusebio, légende vivante au Portugal, ni Figo, ballon d’or 2000, n’avaient réussi à propulser leur sélection sur le toit de l’Europe. Non, si le Portugal doit sa première victoire sur la scène internationale à une performance, c’est bien à celle d’un joueur africain resté longtemps méconnu et impopulaire chez lui : Éderzito António Macedo Lopes.
Eder, un nom désormais sur toutes les lèvres, en France comme au Portugal : bourreaux pour les uns, héros national pour les autres.
« Mal aimé »
Natif de Bissau, Éderzito António Macedo Lopes, né le 22 décembre 1987, débarque au Portugal à l’âge de trois ans. Formé au club Associação Académica de Coimbra, il se révèle dans le championnat portugais avec le Sporting Braga où il évolue pendant trois ans, entre 2012 et 2015. En 87 rencontres, il trouve le chemin des filets à 35 reprises. Ces belles performances lui valent d’être appelé en équipe nationale pour la première fois en septembre 2012. Avec son physique atypique, Eder s’est longtemps défini comme « un attaquant qui pèse sur les défenses ». Autrement dit, un joueur peu technique, trouvant rarement le chemin des filets. En 29 apparitions, il ne compte en effet que 4 buts.
Descente aux enfers
Sélectionné dans le groupe des 23 pour la Coupe du monde 2014, Eder et ses coéquipiers n’iront pas loin : le Portugal de Ronaldo se fait éliminer dès le premier tour dans un groupe pourtant à sa portée : États-Unis, Ghana et Allemagne, futur champion. Face aux mauvaises prestations de la Seleção, le public se désigne un nouveau bouc émissaire. Ce sera Eder, victime de toutes les railleries dans son pays d’adoption, qui obtient même le titre de plus mauvais attaquant du Mondial 2014.
La renaissance
À l’été 2015, il rejoint le club gallois de Swansea en Premier League avec pour ambition de « marcher sur les traces de Ronaldo ». Mais cette expérience s’avère être un échec cuisant. Barré par le Français Bafetimbi Gomis, le Bissau-guinéen n’a que peu de temps de jeu. En 18 apparitions sous les couleurs de son nouveau club, il n’ouvre même pas son compteur, qui reste désespérément vierge. Ses chances d’être sélectionné pour l’Euro 2016 sont quasi nulles. En janvier, il décide donc de rejoindre Lille en prêt sous les ordres de Frédéric Antonetti. Une demi-saison réussie avec six buts et quatre passes décisives lui permettant à nouveau d’espérer. « J’ai pensé à un moment que je ne participerais pas à l’euro, mais je me suis efforcé d’avoir des pensées positives, en me disant que je pouvais y arriver ». Mais lui-même le sait, il restait un plan B pour son entraîneur Fernado Santos, jusqu’à son apparition à la 79e minute à la place de Renato Sanches.
La suite, on la connaît… À la 105e minute, une frappe sublime à 25 mètres qui trompe le portier français Lloris. Le Portugal tient sa revanche après le terrible souvenir de 2004 : une finale de l’Euro perdue à domicile contre la Grèce. Tout un peuple exulte : les « obrigado (« merci ») Eder ! » fleurissent un peu partout. De fils prodigue, Eder est devenu le sauveur de la nation, un prodige qui peut désormais espérer marcher sur les traces de son illustre aîné Eusebio… même si le chemin reste encore long.
Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) em festa com vitória de Portugal no Euro2016
ResponderEliminar"Éder, és o nosso orgulho!" foi uma das frases que mais se ouviu nas ruas de Bissau, depois de o jogador Bissau-guineense naturalizado Português ter marcado, já no prolongamento, o golo contra a anfitriã França no doming, 10 de julho, o que fez de Portugal o novo Campeão Europeu de futebol de 2016, pela primeira vez na sua história