Ex-combatente do PAIGC e responsável
pela mobilização de emigrantes cabo-verdianos na Bélgica, na Holanda e na
França, Corsino Tolentino, dirigiu a primeira missão do Governo de Cabo Verde
independente a Portugal.
Natural da ilha de Santo Antão, André
Corsino Tolentino foi estudar para Lisboa em 1966. Um ano depois, a Polícia
Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) apreendeu-lhe livros no Lar dos
Estudantes Ultramarinos. Foi expulso por alegadamente pertencer a uma rede
contra a nação portuguesa.
Em 1970, Corsino Tolentino passa a
dedicar-se inteiramente à luta de libertação nacional como dirigente do Partido
Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).
Regressou a Cabo Verde em 1974. Em
agosto de 1975, dirigiu a primeira missão do Governo de Cabo Verde independente
a Portugal, quando era secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros.
Posteriormente assumiu o cargo de ministro da Educação.
Foi diretor da Fundação Calouste
Gulbenkian e promotor do Instituto para a África Ocidental (IAO). Atualmente é
administrador não executivo da Fundação Amílcar Cabral.
Mais de 80 por cento dos que citam o
pensamento de Amílcar Cabral para os ajudar a manterem-se no poder não conhece
a sua obra, defendeu à agência Lusa o académico cabo-verdiano Corsino
Tolentino.
Numa entrevista alusiva ao 40.º
aniversário da morte do "pai" das independências da Guiné-Bissau e
Cabo Verde, Corsino Tolentino lamenta a utilização abusiva dos ideais de
Cabral, assassinado a 20 de janeiro de 1973 em circunstâncias ainda por apurar,
por parte do poder político, sobretudo na Guiné-Bissau.
"Provavelmente, mais de 80 por
cento, para ser modesto, das citações ou dos citadores de Cabral não conhecem a
sua obra e não refletiram profundamente sobre a consistência e a coesão dessa
obra e a prática dele", salientou o presidente da recentemente criada Academia
das Ciências e Humanidades de Cabo Verde (ACHCV).
"No plano teórico e político, há,
na Guiné-Bissau, pouco mais do que citações de Cabral. Nota-se uma espécie de
comportamento predador que levou o país a ser vítima dos seus próprios atores,
sobretudo políticos e é de desconfiar quando eles repetem em demasia as
citações ou recorrem a figuras do passado", sustentou Tolentino.
Para o antigo diretor-geral da Fundação
Calouste Gulbenkian e antigo dirigente do Partido Africano da Independência
Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e, mais tarde, do Partido Africano da Independência
de Cabo Verde (PAICV), o partido guineense "faria muito melhor" em
fazer um balanço sobre as ideias de Amílcar Cabral, "que são ainda
válidas", do que "perder-se em citações".
"Há uma grande diferença entre a
teoria e a prática. Quando nos limitamos a citar para afugentar certos riscos
ou determinados adversários, reais ou supostos, tal não é legítimo nem
honesto", disse, defendendo que, em Cabo Verde, os valores e ideias de
Cabral foram mais longe.
Recusando a ideia de que Cabral terá
sido ingénuo ao acreditar na unidade Guiné/Cabo Verde, Tolentino sustentou que
o contexto africano das décadas de 1950, 1960 e 1970 tinha como pano de fundo
precisamente a unidade africana.
"Foi correto e útil pensar essa
unidade no contexto da unidade africana. Era razoável pensar-se assim. Reduzir
as tensões e os riscos e aumentar o denominador comum, estendendo a unidade,
foi uma estratégia genial", apesar de, mais tarde, em 1980, o "sonho"
ter caído por terra com o golpe de Estado na Guiné-Bissau, disse.
Para Tolentino, Cabral está ao nível de
um grande líder africano, mas a sua obra tem sido prejudicada por uma visão
"muito circunstanciada e apologética", com pouca crítica.
"Hoje em dia, há cada vez mais
crítica, no sentido de estudar com profundidade a obra de Cabral, para se poder
dizer que ele falhou numas propostas e acertou noutras.
"É um pensador de que nos podemos
orgulhar em África e pelo lugar que conquistou no mundo", disse. Ouvir
aqui»
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